Resenha: Sigur Rós – Ágætis Byrjun (1999)

Falar da Islândia, e mencionar as características enigmáticas daquele país, não deve ser considerado um clichê. É, antes de mais nada, a observação de um elemento inerente ao ambiente e da sua incidência sobre a cultura local. Da mesma forma que nós, brasileiros, utilizamos o sol como um fator de inspiração, na Islândia, para criar arte, eles se apropriam do gelo, dos vulcões, do silêncio.

E do isolamento, pois, como o próprio nome denota, trata-se de uma grande ilha, a Terra do Gelo, mais próxima da Groenlândia do que propriamente da Europa. Esse elemento de equidistância ajudou também a desenvolver aquele sotaque tão diferenciado, que funciona na música da região como mais uma das ferramentas de arranjo.

Todo esse preâmbulo foi apenas para que eu pudesse tentar explicar um pouco do estranhamento que tive ao ouvir o Sigur Rós pela primeira vez. A maneira aguda e suave de cantar foi a primeira coisa que surgiu. O modo de recitar as letras, com estruturas fonéticas tão estranhas para os ouvidos mais acostumados com as frases concebidas nas línguas inglesas e latinas, chamam imediatamente a atenção para o inusitado. Mesmo canções em idiomas árabes, orientais ou germânicos parecem ser mais naturais aos nossos ouvidos, talvez por conta da forte presença desses povos em nosso país, mas a Islândia ainda permanece distante de muitas formas. As canções transmitem de imediato aquela dose de melancolia tão associada a regiões frias e, apenas depois, você percebe que seus pensamentos já repousam sobre a cama sonora por onde as palavras passeiam, em extensas melodias que, pela falta de definições adequadas, condicionou-se ser classificado como Post Rock.

Uma música como “Svefn-G-Englar” consegue lhe absorver plenamente, ao tempo em que lhe passa a familiar sensação de estar tentando correr na água ou se movendo em um sonho. Apesar da evidente personalidade musical do conjunto, em momentos esparsos do disco eu percebi semelhanças com algumas coisas feitas pelo Smashing Pumpkins, como em “Starálfur”, e, em instantes diversos, era lembrado de um ou outro trecho mais climático de “The Wall”, do Pink Floyd, como em “Hjartað Hamast (bamm bamm bamm)”. Como esse é o segundo disco da banda, me parece que o seu estilo ainda estava em desenvolvimento, tanto que em álbuns seguintes essas associações de semelhança já não se fazem tão presentes, absorvidas plenamente pelo estilo Sigur Rós de compor.

Os territórios da música ambiente serão constantemente visitados ao longo da audição. Em “Ný Batterí”, cuja segunda parte é marcada por uma levada de bateria, aparentemente discreta, mas que se sobressai dentro de todo o contexto e da densidade cândida do álbum, esses espectros sonoros poderão ser percebidos em fusão com o Rock Progressivo mais lisérgico, adequado para o exercício da contemplação, o momento de paz e meditação. Talvez, mesmo para acompanhar a leitura de um livro, a audição desse disco não seja adequada, pois a música irá fatalmente roubar sua atenção. Melhor será sentar em frente ao mar, em um dia de nuvens plúmbeas, e concentrar-se em seus fones de ouvido. Em alguns instantes seu coração poderá alterar a frequência das batidas e seus olhos poderão perceber mais coisas ao redor, mas não será nada para se preocupar. É apenas a sua mente criando expansões para acomodar as novas experiências auditivas que o Sigur Rós poderá lhe fornecer.

Formação

Jón Þór Birgisson – vocals, guitar

Kjartan Sveinsson – keyboard

Georg Hólm – bass

Ágúst Ævar Gunnarsson – drums

Músicas

01.Intro

02.Svefn-g-englar

03.Starálfur

04.Flugufrelsarinn

05.Ný batterí

06.Hjartað hamast (bamm bamm bamm)

07.Viðrar vel til loftárása

08.Olsen Olsen

09.Ágætis byrjun

10.Avalon

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