Resenha: Sepultura – Os Primórdios (1984 – 1998)

Essa nova edição da bio do quarteto mineiro, Sepultura, escrita por Silvio “Bibika” Gomes e pelo jornalista André Barcinski, demonstra de forma concreta o quanto evoluiu, em nosso país, o mercado editorial voltado para o segmento musical. Eu tinha a edição original, lançada pela Editora 34 há 23 anos, em 1999, e a diferença é significativa, como se percebe logo a partir da capa. Diferente do projeto gráfico apurado que norteia o trabalho recente da editora Estética Torta, o volume anterior poderia, com boa vontade, ser classificado como genérico em sua embalagem.

Observe-se que não há mudanças consideráveis no texto, além de algumas notas de rodapé que atualizam fatos da época, e ambas versões estão recheadas de material fotográfico, mas a Estética Torta cuidou para que o novo lançamento possuísse uma apresentação mais dinâmica e moderna. A reedição exigiu, porém, uma modificação em seu subtítulo: o que antes era “Sepultura – Toda a História”, tornou-se agora “Sepultura – Os Primórdios (1984 – 1998)”, visto que a narrativa, que abrange desde o despertar do interesse dos irmãos Cavalera pela música até o lançamento do álbum “Against”, de 1998, não sofreu incrementos a partir de então.

Nenhum problema quanto a isso, afinal esse é o retrato fiel de como a banda nasceu e evoluiu para que chegasse ao status atual. É uma história que, guardadas as devidas diferenças, reflete o caminho de tantas formações que tiveram sua gênese na primeira metade da década de 80, com as dificuldades de equipamento, o acesso limitado a referências e a ausência de uma estrutura especializada – dentro da proposta musical do Heavy Metal – para a atuação em estúdios ou palcos. Para quem não viveu o período, o texto é uma verdadeira imersão dentro daquela realidade cronológica; para quem viveu, é uma viagem nostálgica, onde cada evento narrado, cada disco lançado, ajuda a trazer lembranças de vida daqueles fãs que cresceram com o quarteto e acompanharam de perto os seus passos, que ficavam cada vez mais largos enquanto o processo criativo da banda ia se desenvolvendo e individualizando-a no cenário mundial.

O prazer da viagem é reforçado pela fluidez do texto. Os autores contam a história usando a medida ideal entre objetividade e detalhismo, de uma maneira que as páginas voam em nossas mãos. Tudo de relevante que aconteceu com o Sepultura é explorado e pormenorizado com a inserção de comentários dos personagens envolvidos e com a apuração precisa feita em cima dos momentos mais controversos, sobretudo aqueles que narram a separação entre Max Cavalera e o restante da banda, criando um ponto de ruptura no que, até então, era uma curva ascendente que parecia não ter limites de alcance. O livro é, portanto, um documento essencial para ser lido e, posteriormente, guardado ao lado de sua coleção de vinis ou CDs, mesmo que sejam aquelas raras edições piratas, pois elas certamente deverão estar mencionadas na completíssima discografia inserta nas páginas finais, juntamente com os lançamentos oficiais, as participações em coletâneas, tributos e trilhas sonoras. Por tudo que a banda representou – e continua representando – não era razoável que uma obra como essa estivesse fora de catálogo. Agora, graças a iniciativa da Estética Torta, não está mais.

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