Resenha: Sepultura – Machine Messiah (2017)

Ultimamente, muito se tem falado sobre a tal reunião do Sepultura, são cutucadas e mais cutucadas aqui e ali. A imprensa tenta alimentar esse assunto de forma maldosa, provocando declarações muitas vezes chatas, principalmente por parte dos Cavaleras. Andréas Kisser, inteligentemente, se sai muito bem nas respostas, sempre desviando o foco para o mais importante, que é a divulgação do novo trabalho da banda.

Saindo das polêmicas, vamos falar deste estupendo novo álbum, chamado de “Machine Messiah”. Tudo começou no início de 2016, quando a banda decidiu viajar para a Europa para dar início as gravações, que aconteceram no Fascination Street Studios, na Suécia. A banda contou com o auxilio de Jens Bogren na produção.

Alguns vídeos foram sendo liberados durante o ano, com os bastidores das gravações e alguns passeios da banda, além de dois vídeos onde a banda comenta o álbum faixa a faixa.

O conceito de “Machine Messiah”, segundo a própria banda, é a robotização da sociedade, religião, onde a humanidade acredita que um “novo Messias” está a caminho, mas não sabe como ele virá, se será como uma máquina ou um robô humanoide, além disso, preconceito, política e corrupção.

O álbum começa com a faixa-título, música de andamento diferente do que a banda costuma fazer. Vocais limpos são a grande surpresa, e Derrick Green manda muito bem. A música é arrastada até sua metade, mas não cansativa, muito pelo contrário, conforme a faixa vai rolando, vai crescendo e empolgando. Um perfeito trabalho de Andréas na faixa deixa-a ainda melhor, e ainda temos o monstro Eloy Casagrande, mais lento, mas não menos espetacular nas baquetas.

“I am the Enemy” já era conhecida, foi a primeira liberada e a banda já tocava a faixa nos shows em 2016. Tive a oportunidade de conferi-la ao vivo e soa muito bem também, tão boa quanto a versão de estúdio. Rápida, com vocais gritados e urrados e batidas e viradas mais uma vez destruidoras de Casagrande.

A terceira faixa é uma das melhores composições da banda, “Phantom Self” em seu início tem elementos da música brasileira em sua percussão, além de ótimos riffs, um grave muito presente, olha só o Paulo dando as caras finalmente, solos perfeitos e até partes orquestradas, muito boa por sinal. Partindo para seu final, temos um interessante duelo entre solos de Andreas e violinos, ficou realmente perfeito, um dos grandes destaques de toda a obra.

“Alethea” tem um Groove muito legal na bateria, e suas guitarras me lembram algo do “Chaos A.D” (1993). Green aparece com ótimos vocais, contrastado muito bem com os riffs, que são realmente um dos melhores do álbum, muita técnica é mostrada aqui. Me agradou bastante e deve agradar a maioria.

A incrível instrumental “Iceberg Dances” tem muita influência progressiva, a técnica é perfeita por parte de todos, e uma grande surpresa, um teclado é usado na faixa, realmente me surpreendeu muito a banda optar por isso. Além disso temos um solo de violão com influências latinas. A faixa é bem pesada, então não espere uma “Kaiowas” da vida.

sepultura_2017

Mais um grande destaque do play aparece aqui, “Sworn Oath” tem um início que não lembra nada que o Sepultura já tenha feito, além de conter mais partes orquestradas. Seu refrão é poderoso e os riffs da música são matadores. Destaco mais uma vez o trabalho de Eloy Casagrande, que a cada dia prova ser um dos maiores bateristas do mundo. É uma faixa diferente, que consegue ser pesada e ao mesmo tempo melódica, talvez a melhor do álbum.

Paulo finalmente tem um destaque na faixa “Resistant Parasites”, onde seu baixo comanda o andamento da música. Conta com um ótimo refrão que deve funcionar bem ao vivo. Também conta com uma parte orquestrada que dá um tom diferente a música. Merece uma audição mais atenta.

“Silent Violence” conta com bastante técnica e viradas muito boas da bateria. Em sua ponte conta com vocais limpos, mas com alguns efeitos, diferentes da primeira faixa. Pra mim é a mais fraca do álbum, mesmo assim não deixa de ser boa.

14562

Agora temos um belo Thrash Metal com “Vandals Nest”, riffs rápidos, bateria com muitos pedais duplos e vocais bem rasgados e ferozes. No refrão os vocais lembram muito Mastodon, e parabenizo Derrick Green pela versatilidade. Quem já o viu ao vivo sabe que o cara manda muito bem mesmo. Enfim porrada absurda que conquista de primeira.

Fechando a edição simples do álbum, temos “Cyber God”, que parece uma continuação direta da primeira faixa. Vocais mais cadenciados também aparecem aqui, mas não totalmente limpos. O riff é pesado e cheio de variações, ás vezes mais rápido, ás vezes com um tom melodioso. O mesmo vale para a bateria, ás vezes mais Groove, outras mais agressiva, com os bumbos atacando nossos ouvidos. Perfeita faixa pra fechar o álbum, porém, o que sempre me decepciona é o fade out que as bandas insistem em colocar na mixagem das músicas, ponto negativo pra mim.

Como bônus, temos “Chosen Skin”, que é super agressiva e poderia estar facilmente na lista de faixas principais do álbum. Além dela temos o cover sensacional da música de abertura de Ultraman Seven, “Ultraseven No Uta”, cantada em japonês. Faixa divertida e curiosa.

Chegamos a conclusão, posso dizer que “Machine Messiah” me surpreendeu muito positivamente, eu esperava uma continuação do “The Mediator Between The Head And Hands Must Be The Heart” (2013), mas na verdade foi uma evolução do mesmo.

As partes orquestradas são um ponto muito positivo, além dos riffs e solos sempre ótimos de Kisser, que cada vez mais prova ser um dos principais guitarristas do mundo. Eloy Casagrande não precisa de palavras, basta ouvir o que esse cara faz na bateria, cada vez me surpreendendo mais. Derrick dessa vez mandou bem demais, diferente do álbum anterior onde sua voz ficou abafada e cheia de efeitos ruins, aqui ouve-se claramente suas palavras. Destaque para os vocais limpos que ficaram realmente incríveis.  Paulo, mesmo que timidamente, tem seu destaque, mas longe de ser um baixista fenomenal, é um privilegiado de estar cercado de grandes músicos, em todas as fases da banda.

Me arrisco a dizer que “Machine Messiah” é o melhor trabalho desde “Roots” (1996), a banda mostrou um entrosamento perfeito, evoluiu, se arriscou e saiu da zona de conforto que vinha pelo menos desde “Dante XIX” (2006). Começamos o ano muito bem, já com um grande candidato a álbum do ano.

1000x1000

NOTA: A edição nacional, já confirmada pela banda, sairá no dia 27 de janeiro, como lançamento da Sony Music.

Formação:
Derrick Green (vocal);
Andreas Kisser (guitarra);
Paulo Junior (baixo);
Eloy Casagrande (bateria).

Faixas:
01 – Machine Messiah
02 – I Am The Enemy
03 – Phantom Self
04 – Alethea
05 – Iceberg Dances
06 – Sword Oath
07 – Resistant Parasites
08 – Silent Violence
09 – Vandals Nest
10 – Cyber God
11 – Chosen Skin (Bonus Track)
12 – Ultraseven No Uta (Bonus Track)

Encontre sua banda favorita