Resenha: Savage Grace – After The Fall From Grace (1986)

É uma espécie de tradição o fato de costumarmos separar as fases da carreira de uma banda tendo como referencial os vocalistas que passaram pela mesma. No caso do Savage Grace, isso seria até um exagero, pois a banda deixou apenas dois registros, um com cada vocalista e ambos os trabalhos são dignos de nota, mas “After The Fall From Grace” foi lançado em vinil no Brasil e, por conta disso, acabou tendo bem mais significado para mim do que seu antecessor, que só vim a conhecer bem depois, através de mp3.

“Master Of Disguise”, o primeiro disco, gravado com o vocalista Mike Smith, é um ótimo álbum, fruto típico de sua época, e a banda poderia ter prosperado caso não houvessem as mudanças de formação, pois não faltava talento. Mas Smith saiu e o guitarrista Chris Logue, dono do projeto, assumiu os vocais e, diga-se, com resultados bem satisfatórios. Tendo sido lançado em 1986, ano em que as coisas estavam ficando seriamente mais pesadas (“Reign in Blood”, do Slayer, é do mesmo ano), “After The Fall From Grace” prossegue com a pegada Speed Metal de seu antecessor, mas soa menos ironmaidenizado, exibindo mais personalidade em seu som. São músicas rápidas, com uma pegada que talvez tenha um pouco de paralelo com o que faziam o Agent Steel e, em certos momentos, até mesmo o Omen, no mesmo período, sem o clima épico deste último, mas marcado pelo vocal melódico sem exageros e com bastante presença de coros.

https://www.youtube.com/watch?v=gaEihVYmk3s

O álbum é bastante homogêneo, soando distintamente apenas na faixa “Trial by Fire”, que pode levar alguém a imaginar que o disco foi, de repente, trocado por algum do Possessed. “Trial By Fire” volta a soar como Savage Grace apenas quando entra a ponte do refrão, com o timbre de voz característico de Chris. Não obstante as clássicas faixas que lhe precedem, que são “We Came, We Saw, We Conquer” e “After The Fall From Grace”, as duas músicas que vêm na sequência de “Trial By Fire”, parecem que são contaminadas pelo excesso de energia desta, visto que soam ainda mais vigorosas do que as restantes. “Flesh And Blood” e “Age Of Innocence”, esta a melhor do álbum, agregam ainda mais pontos a um disco que já tinha demonstrado a que veio.

Não vou criar polêmicas aqui e citar nomes de bandas que acredito que se tornaram cults em nosso país apenas pelo fato de que tiveram seus álbuns lançados entre nós no momento certo, no frenesi dos anos 80. O Savage Grace, pelo que sei, não cai nessa vala comum. Seus discos obtiveram a proporcional medida de aceitação para bandas de seu naipe, quando foram disponibilizados, mas, infelizmente, não houve uma continuidade para sabermos qual seria o próximo estágio. Ascensão ou queda? Uma nova troca de vocalista? O encerramento de atividades e a longa pausa que tivemos até que seus integrantes dessem notícias torna difícil qualquer especulação. Sua carreira foi tão curta que seu começo e fim se confundem dentro de uma pequena bolha temporal. “After The Fall From Grace” é um grande e memorável disco, mas, lamentavelmente, o seu título parecia conter alguma profecia em relação ao futuro de seus criadores.

Formação:
Chris Logue (vocal e guitarra);
Mark “Chase” Marshal (guitarra);
Brian “Beast” East (baixo);
Mark Marcum (bateria).

Faixas:
01 – Call to Arms
02 – We Came, We Saw, We Conquered
03 – After the Fall from Grace
04 – Trial by Fire
05 – Palestinia
06 – Age of Innocence
07 – Flesh and Blood
08 – Destination Unknown
09 – Tales of Mystery

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