Resenha: Rush – Test for Echo (1996)

“Test for Echo” é um nome bem poético para algo que se trata de música, se formos pensar assim. O conceito que explica o eco seria a reflexão de ondas sonoras, ainda que no sentido figurado, representa o momento descrito por Neil Peart na produção desse álbum. Após refletir sobre sua condição de baterista naquele momento, decidiu estudar e se reinventar, com aulas de bateria com o instrutor de jazz Freddie Gruber, antes de produzir o 16º álbum de estúdio da banda. Outro sentido da palavra, vem de eco sendo a resposta emitida no vazio, o feedback na busca de um contato com outro ser humano. E segundo o baterista, o nome vem desse mesmo sentido. “Todo mundo precisa de um ‘eco’, alguma afirmação, para saber que não está sozinho. Às vezes, essa pode ser a descoberta mais preciosa da vida – alguém que se sente assim.”, escreveu Peart no “Test for Echo Tour Book”. A resposta? O álbum ficou em 5º lugar na lista da Billboard, em 25º na lista do Reino Unido, e ainda ganhou a certificação de disco de ouro pela Recording Industry Association of America® (RIAA), entregue aos sucessos de venda, em 23 de outubro de 1996.

O Rush foi criado em Toronto, no Canadá, em 1968, mas a formação que viria ser a mais estável ao longo dos anos, com Geddy Lee no baixo, Neil Peart na bateria e Alex Lifeson na guitarra, só aconteceu em 1974. “Test for Echo” foi gravado em dois estúdios, de janeiro a março de 1996 em Nova York, no Bearsville Studios, com Chris Laidlaw e Paul Marconi, e em abril, em Toronto, na Reaction Studios, com Tom Heron. O lançamento foi em 10 de setembro daquele mesmo ano. Todas as músicas foram escritas por Lee, Lifeson e Peart, menos a que dá nome ao álbum, que teve a participação do poeta canandense Pye Dubois.

“Test For Echo” começa com tudo. O vocal já aparece nos sete primeiros segundos. A letra bem com elementos de poesia pós moderna combina muito bem com o ritmo melancólico que reinou nos anos 90 (Here we go…vertigo/Video vertigo/Test for echo). A vibe é quebrada lá pelos 40 segundos com uma demonstração da virtuose de Peart no casamento ideal com Lee e Lifeson. Eles tinham usado essa estrutura, da voz aparecer antes do instrumental, somente na abertura de Moving Pictures, com Tom Sawyer, de 1981. Parece besteira, mas grande parte das músicas começa com pelo menos uma intro instrumental de 20 segundos. Então, toda vez que alguém foge dessa estrutura e cria algo tão original merece uma salva de palmas. Mas o legal desse álbum é que o Rush conseguiu incluir a influência melancólica dos anos 90, sem entrar na linha do grunge que ainda estava em alta, apesar da morte do Kurt Cobain. A letra é uma crítica ao mundo da televisão que tomou conta da sociedade. “Não toque no controle/Estamos em negação/Até o julgamento aberto na tv”. Então, de cara, o Rush já dá dois socos no estômago em uma música só.

“Driven” tem uma sonoridade crua. Mas não se engane, a dinâmica entre os músicos é bem orgânica e ainda assim, muito bem pensada musicalmente. A guitarra rápida é alternada com uma versão acústica no que seria o refrão. Aqui me perdoem os fãs de Rush, mas se “Half The World” não representa a música dos anos 90, não sei o que representa. Tem até cara de um clássico do rock alternativo cantando por outra pessoa do Canadá, ou podia bem ser trilha de um seriado famoso. Enfim, não tira o valor da música produzida e sim demonstra que eles estavam em sintonia com o que era produzido na época. A letra fala de com extremos fazem parte da mesma sociedade. “Metade do mundo odeia/O que a outra metade faz todo dia/Metade do mundo espera/enquanto metade progride com isso de algum jeito”. Quando a música termina, soa quase impossível não parar para pensar no seu papel na sociedade.

Em “The Color of Right” é visível a influência do eletrônico, que o Rush teve durante uma fase, mas nesse álbum ainda não tinha aparecido. Outro ponto diferente é que essa letra é mais animada e existe até um traço de esperança. “Pega leve com você/Não há mais nada que você possa fazer/Você está tão cheia do que é certo/Você não pode ver o que é verdadeiro”. Agora, “Time and Motion” é uma mistura, um pouco bizarra, eu diria. A letra de “Totem” é algo que vai além, e cabe muito bem para os dias de hoje, inclusive. “Anjos e demônios dançando em minha cabeça/Lunáticos e monstros embaixo da minha cama/Messias da mídia remoendo os meus medos/Profetas da cultura pop brincando em meus ouvidos”. Até porque a Internet equalizou a transmissão midiática na sociedade e transmitisse a cultura dos filhos da geração 90. “Dog Years” não traz exatamente uma contribuição de peso para o álbum. “Virtuality” tem uma influência forte do grunge e uma letra que fala do momento da tecnologia naquele momento: Garoto da rede (net boy), garota da rede (net girl)/Enviem seus impulsos para o mundo/Coloquem suas mensagens em um modem/E joguem-nas no mar cibernético”. “Resist” é uma das mais bonitas do álbum. A melodia medieval se encaixa com o vocal declamado. Com uma letra que se justapõe a condições humanos de maneira geral, ela termina com a frase:“Você pode lutar/Sem nunca vencer/Mas você nunca vencerá/Sem antes lutar”. “Limbo” é uma viagem, e apesar de ter algumas contribuições vocais, ela é instrumental. Isso porque a voz aqui soa mais como efeito do que como canto. “Carve Away The Stone” é uma música bem feita, tem uma letra que vai no sentido de superação de obstáculos.

Para ficar de olho: “Test For Echo”, “Driven”, “Resist”. Muitos consideram essa obra do Rush estranha. Mas a verdade é que ela é uma peça de obra de arte alocada dentro do seu tempo. Test for Echo é um trabalho artístico de extrema qualidade, imbuído de influências da época, e que é de se admirar que um álbum tenha chegado ao Top 5 sem se perder em hits comerciais.

Rush – Test for Echo
Data de Lançamento: 10/09/1996
Gravadora: Atlantic Records

Tracklist:
01. Test For Echo
02. Driven
03. Half The World
04. The Color of Right
05. Time and Motion
06. Totem
07. Dog Years
08. Virtuality
09. Resist
10. Limbo
11. Carve Away The Stone

Formação:
Geddy Lee (vocal/baixo/sintetizador);
Alex Lifeson (guitarra/mandola);
Neil Peart (bateria, címbalo, hammer dulcimer).

Encontre sua banda favorita