Eu sempre fui entusiasta do CD. Sinto falta dos vinis pela questão da capa e tal, mas quando os CDs começaram a se popularizar e comecei a adquirir minhas primeiras unidades, a diferença sonora era gritante! A música tinha mais brilho e, até em discos que eu já conhecia decorados, descobri elementos, dentro das composições, que não tinha percebido antes.
Além da qualidade sonora – e concordar ou discordar sobre isso é assunto pra outro momento – , o CD gerou um fenômeno gradativo que, aos poucos, tornou acessível várias obras que não estavam ao nosso alcance. De repente, tudo começou a ser recuperado e relançado e, assim, o conceito de discos raros, fora de catálogo, começou a ser revisto. Conseguir um disco de banda japonesa, por exemplo, ainda poderia sair caro, mas não sairia tão indecentemente caro quanto seria conseguir aquele mesmo disco em vinil fora de catálogo, pelos preços que eram praticados pelo mercado.
Então a importação de cds virou uma prática corriqueira e eu descobri que várias bandas clássicas do começo dos anos 80, como Grave Digger, Sodom ou o Avenger alemão, renomeado como Rage, tinham um farto catálogo de trabalhos dos quais eu sequer tinha ouvido falar. A imprensa especializada estava apontada para outra direção e deixou alguns artistas importantes de escanteio.
E chegamos finalmente ao Running Wild.
Meu contato com o Running Wild tinha se dado somente através de seus dois primeiros álbuns, lançados em vinil no Brasil. Eu não sabia que a banda ainda estava ativa, eu não sabia o que andavam fazendo e, principalmente, quando eu vi o disco Masquerade na loja, eu não sabia que eles tinham lançado seis outros trabalhos nesse intervalo. Retomar contato com a banda foi, portanto, possível apenas com o advento do CD, pelo menos na época em que isso se deu.
Chegar em casa com o disco e colocá-lo para tocar foi como a sensação de rever aquele velho amigo que você não encontra há tempos, mas de quem se lembra de vez em quando. Era o Running Wild! Estava tudo lá: o tradicional metal alemão, as composições de alto quilate e a voz peculiar de Rolf Kasparek! Havia somente um pequeno diferencial no fato de que, embora a banda estivesse 100% reconhecível, existia uma dose extra de fúria naquelas faixas! Masquerade é um golpe certeiro! Mais de dez anos de carreira, oito álbuns já registrados no currículo e a banda me reaparece com o gás dos iniciantes!
Também foi surpresa saber que a banda agora tinha, nas histórias de piratas, um tema recorrente em suas canções. De certa forma, uma jogada de mestre, pois, além do apelo que o tema traz, as canções de pirata ajudaram a expandir ainda mais o alcance do Running Wild para fora da Alemanha, afinal, de onde são os piratas??? De todos os lugares do mundo: da França, da Espanha, da Holanda, da Inglaterra… O tema é universal! É ironico, porém, imaginar que, ao contrário dos piratas que navegavam para além da borda do fim do mundo, o Running Wild restringiu o alcance de seus passos. É claro, todos sabemos, que trata-se de uma banda de imensa popularidade e reconhecimento, mas imagine o quão mais não seria se eles excurcionassem para além do continente europeu? Rolf tem medo de avião e, portanto, países como o nosso distante Brasil estão fadados a nunca sofrerem essa abordagem.
Masquerade foi um acerto em todos os sentidos: produção excelente do próprio Rolf, capa de Andreas Marschall, e uma banda coesa, no tempo em que o Running Wild ainda era uma banda, no sentido mais preciso do termo, com destaque para o guitarrista Thilo Hermann, que tocou também com o Grave Digger, e o baterista Jorg Michael, que tocou com mais bandas do que estou disposto a listar, mas obteve destaque maior junto ao Stratovarius. Se o disco não alcançou o mesmo status de clássicos de obras como Pile of Skulls ou Under Jolly Roger é porque as produções do Running Wild, em sua época mais áurea, são niveladas por cima e a banda tem que competir com sua própria obra. Porém, músicas como a faixa-título, Rebel at Heart e Demonized merecem estar lado a lado com clássicos eternos do heavy metal como Prisoner of Your Time, Diamonds of Black Chest, Uaschitschun… a lista é tão extensa quanto o são os espólios da pirataria!
Enfim, na minha discografia pessoal, Masquerade surgiu como se fosse o “terceiro” disco do Running Wild e é por isso que se mantém como um dos meus preferidos. A partir de então, com as facilidades de aquisição de CDs, foi que pude adquirir o catálogo retroativo dos alemães.