Equilíbrio é a chave para tudo nessa vida. A banda Ruins of Elysium decerto não pratica um estilo que seja unanimidade dentro do universo da música pesada, mas também é indubitável que o faz com um talento, com uma dose tão generosa de carisma e qualidade, que não nos é possível negar a atração exercida por suas composições.
Seria esse equilíbrio um reflexo da diversidade de origem de seus integrantes? Em seu seio convivem um norueguês (Drake Chrisdensen, vocal), um italiano (Vincenzo Avallone, guitarra e baixo) e um brasileiro (Icaro Ravelo, bateria e sintetizadores). A multiplicidade de nações permite também que a música praticada invada influências de outras regiões distintas de seus berços, como apresenta-se estampado logo na primeira faixa, “Kama Sutra”, cujo tema baseado no conhecido livro requer a utilização de sons orientais.
A música de abertura é seguida por “Shadow of the Colossus”, que tem tons de épico suave e que cabem perfeitamente com a forma como Drake utiliza a sua voz. O cantor é dotado de recursos de performance e interpretação indiscutíveis, mas sabe que não precisa ocupar os tons mais desafiadores para gerar emoção. Seu timbre tenor cai bem em nossos ouvidos justamente pelo fato dele não buscar a atuação bombástica que tantos vocalistas de Symphonic Metal parecem querer utilizar de forma intermitente. Sua técnica é perceptível e logo somos apresentados a todo seu alcance, mas este só surge realmente nos momentos necessários.
E assim também são os seus parceiros de banda, com arranjos instrumentais que mostram opções de caminhos para o estilo sem descaracterizá-lo um instante que seja. “Serpentarius”, a terceira faixa, surge para deixar isso bem claro, com uma melodia cativante do tipo que gruda na sua cabeça por longas horas, intercalada por um refrão gregoriano fortíssimo. O clima da canção remete em um crescendo para “Beyond The Witching Hour”, onde a pegada Metal passa na frente para entregar uma faixa com bastante peso. Drake aproveita o clima para fazer uso pleno de sua versatilidade, utilizando até vocais rasgados de Black Metal.
“The Birth Of A Goddess” é uma música especial para a banda, pois traz para o primeiro plano a defesa pela causa LGBT que defendem. Em sua sequência surgem os quarenta minutos da faixa título, que é dividida em uma emocionante saga de cinco atos, inspirada pelo anime “Sailor Moon”, que é sutilmente referenciado na bela ilustração da capa. A urgência de “Crystal” ganha tons emotivos mais evidentes em “Black Moon”, mas alcança patamares mais altos em “Infinity”, onde as melodias instrumentais dominam uma boa parte de sua duração. “Dreams” desenvolve-se de forma interlúdica e vemos que algumas ideias melódicas se repetem entre as canções, perfazendo a coerência da música como um todo. “Stars” é o verdadeiro final e possui efeitos que ornamentam com mais força o tema explorado na letra. Seus momentos derradeiros possuem ares de verdadeiro climax e encerram o álbum avançando nas propostas que nos foram apresentadas lá no começo ou – porque não dizer – no álbum de estreia, “Daphne”. O Ruins of Elysium é um demonstrativo de que diferenças, sejam elas quais forem, são conceitos, antes de qualquer interpretação, e que a partir destas é possível concretizar as mais ricas retribuições artísticas que nossos tempos deveriam fazer por merecer.
Formação
Drake Chrisdensen – vocal
Vincenzo Avallone – guitarra, baixo
Ícaro Ravelo – bateria, sintetizador
Músicas
01 Kama Sutra
02 Shadow of the Colossus
03 Serpentarius
04 Beyond the Witching Hour
05 Iris
06 The Birth of a Goddess
07 Seeds of Chaos and Serenity
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8/10