Passado o boom das editoras que descobriram que havia um mercado nacional para livros biográficos, tendo como tema estrelas do Rock, chegou a vez das pequenas editoras percorrerem a trilha aberta. A Estética Torta é uma que vem manifestando um rápido destaque com as obras que está disponibilizando. Seu catálogo, apresentado até o momento, oferece alternativa a todos os tomos que já foram fartamente publicados sobre Led Zeppelin, Metallica ou AC/DC.
Em breve, outros livros da editora serão comentados por aqui, mas nesse momento iremos abordar um de seus primeiros lançamentos, “Ronnie James Dio – A História de Um Ícone do Heavy Metal”. Sim, já lemos sobre Dio nas biografias do Black Sabbath, mas dessa vez o tema é apenas a vida e a obra desse mestre que nos deixou há dez anos.
Entre texto e fotos coloridas, o livro contém 232 páginas. Pode parecer pouco, mas a narrativa é boa e envolvente, com um conteúdo que, de fato, esbarra nos limites da objetividade, mas ainda consegue fazê-lo sem ser raso. Nós sentimos que a história avança e que todos os momentos e fases da vida de Dio são percorridos com igual dosagem. Não há aquela desagradável sensação de que os primeiros anos são ultra detalhados e os mais recentes passam voando. O envolvimento é tal que, ao me aproximar do final, fui tomado pela lembrança de algum dia perdido no ano de 1985, olhando para o encarte do álbum “The Last In Line” enquanto esperava o ônibus. Aquela foto da multidão de fãs, segurando uma faixa com o nome do ídolo, meio que havia sido deletada de minhas memórias, mas retornou de maneira repentina, como se precisasse estabelecer um link com os primeiros contatos que tive com a obra do artista.
A emoção gerada pela evocação dessa lembrança fez par com a que advém da leitura do prólogo escrito pelo baixista Jeff Pilson, cuja banda principal, o Dokken, será o objeto do próximo livro a ser lançado pelo autor James Curl. O escritor norte-americano, que também já assinou as biografias dos pugilistas Jack Sharkey e Joe Walcott, construiu a imagem de Ronnie demonstrando os motivos pelos quais ele sempre foi tão benquisto entre seus colegas e para o público, mas não olvidou de mencionar também seus defeitos, que ficam mais evidentes, dentro do texto, nos primeiros anos do Rainbow e nas desavenças com o guitarrista Vivian Campbell, no começo da banda Dio, ocorridas por desentendimentos financeiros baseados em acordos verbais.
Por estar iniciando atividades, convém chamar a atenção da editora para os aspectos revisionais. Não são tantos a ponto de prejudicar a leitura ou desvalorizar sobremaneira o livro, mas não deveriam estar lá sob qualquer justificativa, pois incomodam – e muito – quando aparecem. Os aspectos físicos, porém, não merecem críticas, pois os papeis de capa e de miolo são de qualidade, a impressão é boa e as muitas fotos são nítidas e variadas.
É difícil crer que a voz de Dio não faça parte da vida de qualquer um que tenha paixão por esse negócio chamado Heavy Metal. Se assim for, procure obter esse livro, caso tenha oportunidade, pois ele merece estar em sua estante da mesma forma que estão os discos na prateleira. Tanto um quanto os outros contam a mesma história e conversam entre si, completando as lacunas nas lendas sobre um homem com a estatura de um elfo, mas com um grande e sagrado coração, que enfrentou dragões e feiticeiros, atravessou o céu e o inferno, guiado pelo arco-íris, e, sendo vitorioso, imortalizou o seu nome.