Resenha: Roadie Metal Volume 7 (2016)

Quantas coletâneas lançadas em formato físico, mesmo promovidas por gravadoras, chegam a sete edições? Provavelmente, bem poucas. Essa marca, o idealizador Gleison Junior conseguiu alcançar com louvor através das coletâneas Roadie Metal, e não parará por aqui; o Volume 8 já se encontra em fase de seleção de bandas, e o primeiro DVD da coletânea de videoclipes (projeto inédito no país) já está com o setlist fechado. Todo esse empenho vem do sucesso repercutivo de um projeto criado por uma pessoa comprometida com o evidenciamento do Metal e Rock nacionais, preocupada em inserir os nomes das bandas envolvidas nos mais diversos veículos de imprensa especializados.

Texto originalmente publicado no Warriors Of The Metal.

Lançada em junho de 2016, a coletânea “Roadie Metal Volume 7” é, como de costume, distribuída gratuitamente para os veículos de imprensa do Brasil e também no exterior, e o público em geral também pode obter cópias ao participar de sorteios realizados durante o programa de webradio Roadie Metal, A Voz do Rock. Novamente, trata-se de uma coletânea dupla, com 17 bandas no primeiro CD e 18 no segundo, totalizando mais de duas horas e meia de muito Rock ‘n’ Roll.

Normalmente, nos volumes anteriores, bandas de diferentes gêneros se misturavam ao longo dos dois CDs, havendo alternâncias entre algo considerado mais leve e algo considerado mais pesado. No entanto, no Volume 7, Gleison Junior optou por dividir o setlist mais ou menos em blocos, de modo que se tenha bandas de um mesmo estilo seguidamente, e poucas alternâncias rotulares. Como consequência, o CD 1 se mostra mais calcado no Heavy Metal e no Hard Rock, enquanto o CD 2 se especializa nas bandas que exploram os gêneros mais extremos, com guturais. É destacável também a grande quantidade de bandas cantando em português presentes aqui, uma tendência que aparentemente só cresce.

O primeiro disco começa, de cara, com uma excelente quadra de Heavy Metal, através das bandas Syren, Tropa de Shock, Válvera e Dolores Dolores. As duas primeiras, pegadas, apresentam claras referências ao Iron Maiden em suas formas de compor (e isso é bem sabido por quem conhece o Syren, já que a banda carioca não é nenhuma desconhecida), enquanto o Válvera traz a primeira música em português do set (e que competência!). Já o Dolores Dolores, embora faça majoritariamente Heavy Metal, apresenta também nuances de Hard Rock por meio de sua canção “I Was Wrong”, que quebra o ritmo forte que vinha sendo imposto pela trinca anterior, funcionando tanto como um descanso aos ouvidos quanto como introdução à sessão de Hard Rock que vem a seguir graças à sua própria tendência Hard.

É aí que vem duas canções de Hard Rock: “Let It Go”, do Underload, que tem o clima mais festivo e dançante dos anos 70, e “Eleição ou Gozação”, do Makinária Rock, que, com letras em português, entrega uma canção irônica com um Hard mais energético e agressivo que flerta com aquele dos anos 80, encaixando-se perfeitamente no que pode ser chamado, de forma genérica, de Rock ‘n’ Roll. Na sequência, o Heryn Dae quebra a rápida sessão Hard Rock ao trazer de volta o Heavy Metal, porém com uma pegada mais tradicionalista, digna do NWOBHM, mas também apresentando uma veia épica no refrão, mais “manowariana”.

A oitava música, que dá nome à própria banda Overhead, resgata o Hard interrompido anteriormente com direito a letras em português e ainda mais peso do que as primeiras do estilo, de instrumental a vocais – esses últimos bem raivosos. Os estilos que até então se encontravam sendo executados separadamente se unem com a canção “Lost Seasons”, do Normandya. Trata-se de um típico Hard ‘n’ Heavy, porém, não tão chamativo de um modo geral, infelizmente.

Até aqui, a coletânea segue uma linha lógica que deixa o ouvinte preparado para cada vez mais peso tradicional. Contudo, o Fenrir’s Scar se insere em meio a toda essa tradicionalidade para provocar surpresa com seu inesperado Symphonic/Gothic Metal cantado com vocais femininos e ocasionais masculinos. A produção poderia ser melhor, mas a música é boa e contribui com uma brisa de diferenciação com toda essa suavidade feminina e a “atmosferização” dos teclados.

O Blessed In Fire, por sua vez, com sua música autointitulada, apresenta outro tipo de tradicionalidade: a do Speed Power Metal. Sua abordagem mais energética motoriza o estilo calmo da canção do Fenrir’s Scar e prepara terreno para um canção que, se o tempo de duração for visto antes, pode provocar desânimo, especialmente por estar em uma coletânea. “The Dance of Fire”, do Apeyron, tem nove minutos e seu inconsciente diz que será uma experiência Progressiva e talvez chata… mas que nada! Interessantemente, é um dos destaques do disco um. A primeira metade é repleta de um misterioso e épico Heavy/Doom Metal de claras raízes sabáticas, cantada heroicamente enquanto teclados se manifestam na base. A canção ascende em ritmo a partir da segunda metade, convertendo-se em uma pegada pesada e melódica que bebe em fontes de Heavy Metal tradicional!

O S.I.F. já entrega em “Puritania” mais uma canção destoante na coletânea com um revoltado Hardcore cantado por uma mulher. É a segunda participação feminina e a quarta canção em português. O estilo tem sequência com Gravis em “Ladrão”, mais uma canção em português, mas de Hardcore mais dinâmico e heterogêneo do que o do S.I.F.. Excelente trabalho.

A trinca final Vate Cabal, com um bom Rock, Underhate, com um Thrash Metal similar ao do Metallica, e Eduardo Lira, com um lindo Heavy Metal/Shred instrumental encerra bem a primeira parte da coletânea, disposta a entregar estilos considerados mais leves (tendo o Extremo como comparação antônima) e vocais limpos, com ou sem drives.

O segundo CD, por sua vez, como supracitado, desbrava as áreas mais mortíferas do Metal. O Metal Extremo começa com expressiva classe Death/Thrash Metal através da faixa “Juggernaut”, da conhecida banda Voodoopriest, do vocalista Vitor Rodrigues (ex-Torture Squad). Até a quinta faixa, temos alternâncias entre Death Metal e Thrash Metal, mas sempre com algo mais. A excelente banda fluminense Monstractor, por exemplo, acopla Southern Metal ao seu Thrash, não abrindo mão também da geração de uma sensação Death metal bem lá no fundo. O Forkill executa Thrash Metal mais tradicionalizado; o Kryour une, assim como o Voodoopriest, Death e Thrash Metal, mas ainda com o acréscimo de estilos modernos, aproximando-se do Metalcore (vale ressaltar a excelente produção da música); o Criminal Brain, por outro lado, contribui com Death Metal puro, mas bem mais profundo do que tudo o que estava em execução até então. Avassaladora e densa, “Victim” é uma cansão bem dinâmica e cavernosa.

Não bastasse todo o esmagamento das cinco primeiras bandas, a sexta, Handsaw, ainda se destaca por investir nos subgêneros mais “nojentos” do Death Metal. Absolutamente visceral, “Supreme Being” é uma faixa de Technical/Brutal Death Metal interpretadas com técnicos vocais beirando o pig squeal. Matador.

O Dying Silence já deixa a peteca cair um pouco no que diz respeito à produção, mas mantém viva a coerência Death Metal que vinha sendo estabelecida. Juntamente do rótulo, a banda ainda hibrida o Hardcore e apresenta a primeira música em português no disco dois.

A partir da oitava faixa começa a sessão mais centrada no Thrash Metal em si. Ela é aberta pela banda Demolition, que, por meio da canção “Infected Face”, executa um Thrash Metal mais aberto, com riffs melodiosos e bem construídos, flertando com o Heavy Metal mais longe da velha guarda. Sequenciando o Thrash, vem então o conjunto Deadliness com “Guerreiros do Metal”, a segunda em nossa língua no CD 2. Trata-se de um Thrash Metal mais desenhado e dinâmico, a exemplo do Demolition. Já o Hellmotz, décima banda, insere bastante Southern Metal na musicalidade, deixando o Thrash Metal como estilo complementar. Som que, de certa forma, remete ao faroeste. Porradeiro e técnico.

Death Metal volta a emergir com o destacável trabalho da banda Death Chaos na música “House of Madness”. O destaque não se faz merecido apenas pela música ser boa em si, mas pela clara noção de melodia que a banda tem, distanciando-se de retilinidades e tornando o Death mais interessante e harmônico. Tem cadência sem perder peso, sem falar dos guturais, impressionantemente cavernosos. Grande trabalho.

Com o Melanie Klain e a faixa “Lavagem Cerebral”, Thrash Metal e letras em português ascendem novamente. Mas enquanto todo o disco era cantado em gutural até aqui, esses paulistas trazem vocais fora desse campo monstríaco, mas ainda assim sujos, com ampla carga de drives. A sonoridade é moderna e pegada, exibindo um Thrash com gratas influências de Nu Metal que exalam interessantes referências ao Slipknot em uma bem feita música, cheia de momentos diferentes.

O Psychosane abre alas para o trecho Stoner Metal do CD. “Road” é uma música pesada e interessante, também cantada no âmbito limpo driveado. Pegada forte e solo de guitarra simplesmente foda. Agregou muito ao disco. Nessa mesma linha Stoner, mas com mais cadência e alternâncias entre vocais driveados e guturais fechados, a molecada do As Do They Fall deixa sua marca. “Nemesis” é uma faixa coerente e inteligente, onde cada técnica vocal aparece em seu devido momento, sem provocar sensações de deslocamento.

De volta ao Thrash Metal, já ouviu um Speed Thrash cantado em português? Pois é. É isso que o Dioxina faz na faixa “Sombras”. A naturalidade da língua é tanta que você nem perceberia. A seguir, é a vez da trinca final de bandas Heavenly Kingdom, onde a produção deixa a desejar mas o Thrash é bom e tem Slayer como referência; South Hammer, cujo Death Metal motoqueiro faz parecer que a capa do disco foi elaborada pensando neles; e Crush, que encerra definitivamente o Volume 7 da forma como ele se propõe a ser: brasileiro e em português.

São um total de 35 bandas, e naturalmente algumas se destacam em meio a outras, sempre resguardados os gostos pessoais. No CD 1, destacam-se Syren, Válvera, Underload, Apeyron, Gravis e Eduardo Lira, enquanto no CD 2 vale ressaltar as bandas Voodoopriest, Monstractor, Kryour, Handsaw, Death Chaos e Psychosane.

A arte gráfica ficou novamente a cargo do artista Marcelo Nespoli, que fez um ótimo trabalho, como se espera dele. O encarte não ficou em um compartimento separado, a exemplo das edições anteriores, precisando ser guardado atrás de um dos CDs em seus compartimentos. O livreto também não tem verniz no material, dando aquele conhecido brilho de papel fotográfico, mas ainda assim, ficou muito bonito, e até mais fácil de manusear. Nele estão informações sobre todas as bandas envolvidas, bem como páginas de agradecimentos, onde é uma felicidade para mim ter meu nome mencionado. Apoio totalmente o projeto, que deixa a zona do “queria fazer” e entra na zona do “eu faço”. Atitude.

A coletânea Roadie Metal Volume 7 é mais uma realização da Roadie Metal, que também é um site de notícias, assessoria de imprensa de bandas e programa de webradio. As transmissões acontecem sempre ao vivo, através do www.canalfelicidade.com e pelo livestreaming na página oficial no Facebook, todas as quintas, das 20:45 às 23:00, e aos sábados, das 14:45 às 16:15.

Faixas:

CD 1:
01 – Syren: Motordevil
02 – Tropa de Shock: Inside The Madness
03 – Válvera: Cidade Em Caos
04 – Dolores Dolores: I Was Wrong
05 – Underload: Let It Go
06 – Makinária Rock: Eleição ou Gozação
07 – Heryn Dae: Heryn Dae
08 – Overhead: Overhead
09 – Normandya: Lost Seasons
10 – Fenrir’s Scar: Downfall
11 – Blessed In Fire: Blessed In Fire
12 – Apeyron: The Dance of Fire
13 – S.I.F.: Puritania
14 – Gravis: Ladrão
15 – Vate Cabal: A Extração da Pedra da Loucura
16 – Underhate: Revolution Day
17 – Eduardo Lira: Sunrise

CD 2:
01 – Voodoopriest: Juggernaut
02 – Monstractor: The 4th Kind
03 – Forkill: Let There Be Thrash
04 – Kryour: Chaos of My Dream
05 – Criminal Brain: Victim
06 – Handsaw: Supreme Being
07 – Dying Silence: Sem Conserto
08 – Demolition: Infected Face
09 – Deadliness: Guerreiros do Metal
10 – Hellmotz: Wielding The Axe
11 – Death Chaos: House of Madness
12 – Melanie Klain: Lavagem Cerebral
13 – Psychosane: Road
14 – As Do They Fall: Nemesis
15 – Dioxina: Sombras
16 – Heavenly Kingdom: Hungry Misery and Pain
17 – South Hammer: Harley My Motorcycle
18 – Crush: Pedrada

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