Antes de começar, uma observação: Eu não sei o que é esse bicho na capa e nem me importo. É apenas uma capa feia e ponto final.
Passado esse pequeno preâmbulo, devo dizer que “Fire Down Under” é meu álbum favorito dessa primeira fase do Riot, superando o também essencial “Narita” pelo rol de músicas mais bem amarradas e intensas. Esse é o terceiro disco da banda e o último com o vocalista Guy Speranza, que posteriormente viria a deixar o cenário musical e faleceu em 2003, aos 47 anos de idade, de câncer do pâncreas.
Há quem diga que o Riot foi a primeira banda efetivamente de Heavy Metal dos Estados Unidos. Em parte, procede. De fato, quando falamos de metal americano em seu período de maior popularidade, vemos que haviam duas vertentes predominantes: Glam Metal e Thrash Metal. No meio dessas, algumas bandas orbitantes como Manowar ou Armored Saint. O que havia antes não era essencialmente Heavy Metal, embora apontasse nessa direção. Bandas como Kiss, Van Halen e Blue Oyster Cult eram o Hard Rock ganhando mais peso, mas não eram Heavy Metal. O Riot lançou seu primeiro álbum em 1977 e ainda trazia muito de Hard, mas foi gradativamente exibindo suas garras com músicas mais rápidas que já se sintonizavam com o que estava acontecendo na ilha do outro lado do Atlântico e, foi em seu rastro, que vieram bandas como The Rods, Cirith Ungol e Manilla Road, cunhando um estilo personal de fazer metal que apenas as bandas ianques conseguiam reproduzir adequadamente.
Todo esse contexto temporal se faz presente em diferentes momentos de “Fire Down Under”, seja no power metal da faixa-título, na escancarada influência de Aerosmith em “Don´t Bring Me Down” e de UFO em “No Lies”, ou no dedilhado do começo de “Altar Of The King”, que não disfarça que iremos escutar uma canção inspirada por Rainbow, cujo mentor Ritchie Blackmore é a grande inspiração do líder do Riot, o guitarrista Mark Reale.
“Swords And Tequila” e “Run For Your Life” são dois momentos de metal puramente cromático nesse álbum, seguidas de perto pelo carisma absoluto de “Outlaw”. Grande parte do poder de fogo de todas essas músicas vem da interpretação e da voz de Speranza, cujo timbre agudo lembra parcialmente o de Glenn Hughes. Saber que o vocalista, logo após esse disco, deixou a banda e não tornou a cantar é motivo de lamentação pelo talento que ele guardou para si, não compartilhado com o resto do mundo.
E encontra-se justamente no fato da saída de Speranza o motivo do Riot, mesmo lançando discos excepcionais, nunca ter alcançado uma posição de destaque mais merecida dentro do cenário do metal. Não especificamente por Speranza, mas pelo motivo de que a vaga de vocalista nunca mais parou de rodiziar, como se houvesse uma porta giratória, com cantores indo e voltando. Falta de estabilidade nessa posição é sempre algo problemático, pois o público não assimila a noção de banda, de conjunto, quando a figura de frente é um sujeito diferente a cada instante. Esse, porém, é um detalhe pertinente a avaliação da carreira do Riot e que não deve resvalar para a fruição isolada de seus trabalhos. “Fire Down Under” é um clássico dessa banda que não poderia ter vindo de nenhum outro lugar senão a cosmopolita New York, onde tantas tendências musicais norte americanas se desenvolveram. Com o Heavy Metal não poderia ser diferente e coube ao Riot ser o protagonista dessa história.
Formação
Guy Speranza – vocal
Mark Reale – guitarra
Rick Ventura – guitarra
Kip Leming – baixo
Sandy Slavin – bateria
Músicas
01.Swords and Tequila
02.Fire Down Under
03.Feel The Same
04.Outlaw
05.Don’t Bring Me Down
06.Don’t Hold Back
07.Altar Of The King
08.No Lies
09.Run for Your Life
10.Flashbacks