Temos aqui o terceiro álbum de estúdio do REPRESSOR, banda formada em Maricá e que representa muito bem o Rio de Janeiro com seu Thrash Metal bem executado e letras que nos fazem refletir sobre os problemas que andam aterrorizando o Brasil atual. Tive a oportunidade de ver a banda ao vivo, inclusive à serviço da ROADIE METAL, A VOZ DO ROCK, quando o quarteto foi uma das bandas que abriram para o CLAUSTROFOBIA, em dezembro de 2019.
O quarteto entrou no “Home Studio” e bem da maneira “do it yourself”, produziu este petardo, com o guitarrista Caio Kattenbach e o baterista Gabriel Russel responsáveis pela produção, gravação, mixagem e masterização. O resultado ficou excelente.
A banda diz que este álnum nasceu com o real sofrimento humano da ignorância (agonia) e eles trazem temas como injustiças, fatos históricos, guerras, pessoas e lugares. Vamos então destrinchar cada uma das onze faixas deste play.
A abertura se dá com a faixa título, que nada mais é do que uma intro e logo vem o que importa, o som. E a faixa “121”, que de fato abre o trabalho é um Thrash Metal vigoroso, muito bem trabalhado, lembrando bem o TESTAMENT dos anos 2000. Belos riffs e uma pegada sensacional. A primeira impressão não poderia ser melhor. A música trata sobre um homem chamado Pedrinho Matador e o título é o artigo penal que trata de homicídio.
“Bruxa”, a faixa que dá sequência ao petardo tem um peso absurdo, flertando com sub-gêneros como o Djent. Impressionante como o baixista conseguiu dar mais peso, e em certos momentos, seu instrumento se sobressaí às guitarras, que fazem um excelente trampo, incluindo um belo solo carregado de melodia e a bateria ensaia uma breve blast-beat. Sensacional. Aqui a banda aborda a santa inquisição, um tema que deixa este redator, que também é historiador, interessado logo de cara,
“Berserker”, apesar do nome, é cantada em nossa língua-mãe e esta é carregada de energia mais core em sua primeira parte, depois com a mudança de andamento, a música fica mais densa, pesada e brutal, tudo isso mais uma vez ajudada pela performance do baixo. A letra trata dos guerreiros do norte da Europa e sua formaa de tratar a morte.
“Didática” é uma das que mais me impressionaram neste álbum simplesmente magnífico. Ela começa rápida e com toques modernos, sem soar chata como muitas das bandas modernas e a quebra de andamento aqui com direito a riffs cavernosos, com afinação baixa, assim como as demais músicas. E a quebradeira retorna. Isso é música para você entrar no mosh e sair de lá com os dois braços quebrados. Sonzão e uma letra que fala do bullying sofrido nas escolas, um tema sério e que merece reflexão.
“Paralelo” é mais outro soco na boca do estômago, em uma letra que deixou este redator, que é também historiador, apaixonado. Fala da exploração que nossa terra sofreu e ainda sofre desde que ia portugueses chegaram aqui sem a intenção de colonizar. O som é aquela rispidez com a mudança de andamento no meio, com os caras colocando muito peso, que combina com a temática abordada aqui, o massacre indígema do Paralelo 11 Sul, numa preocupação dos caras com os verdadeiros donos desta terra tupiniquim, algo que o headbanger reacinha vai torcer o nariz. Problema o dele, pois a música é perfeita.
Berro/Sangue lembra muito o TESTAMENT da fase “Souls in Black”, mas os caras trataram de colocar a sua sonoridade aqui, com muitos riffs pesados e um solo bem melódico, que caiu muitíssimo bem. Tudo isso sem perder a brutalidade. A letra fala da exploração indiscrimada do meio ambiente e da impunidade, como nos casos de Mariana e Brumadinho, Ponto para os caras,
“Reizinho” é além de uma crítica aos políticos, um Thrash Metal genuíno, com a inclusão de um breve pula-pula e um solo muito bem executado em um som muito acima da média, que fala sobre nepotismo e perpetuação do poder, Isso lembra um certo ser que brinca de ser presidente da República, certo?
“Paranóia” é um som bem moderno e ainda que não seja predominantemente Thrash Metal tem o seu valor e a sua parte final com riffs bem sombrios é o destaque, em uma letra que fala sobre como nos tornamos escravos das redes sociais, e permanentemente vigiados por tudo que acessamos e recebendo tudo quanto é propaganda sobre o que acessamos,
“Arapuca” chega trazendo as batidas brasileiras em uma alusão ao SEPULTURA em sua intro, mas logo a quebradeira Thrash Metal toma conta de tudo, divididas em partes rápidas e outras onde o peso e a carência são os destaques, em uma música que trata de pessoas fúteis e mau caráter,
“Rotina” encerra o álbum em grande estilo em um som com riffs nerv”osos, violentos e uma letra que retrata muito bem nossos problemas sociais. As partes rápidas deste som são outro destaque à parte. Os caras sabem o que fazem e isso é ótimo e essa é uma crítica direta à repressão que o pobre, negro e morador da periferia sofre, coisa que se agravou ainda mais com o atual governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que com seu programa de governo genocida, prega a dizimação desta parcela da população, que não tem acesso às condições dignas de vida.
Em 39 minutos, temos esse discaço, tanto em termos sonoros, quanto de preocupação social, o que nos dias atuais, tem faltado a uma boa parte do sujeito que se diz headbanger e que insiste em ser conservador, quando sabemos que as duas coisas são incompatíveis. Quem estudou um poquinho a história do Rock e do Metal, sabe que os estilos nasceram exatamente para serem contestadores e é muito bom saber que existem bandas preocupadas com essa questão. Recomendado para quem curte um som pesado, moderno sem ser enfadonho e que mostra que o Rio de Janeiro não é feito somente por pseudo-artistas de funk.
Uma boa opção para quem não faz parte da parcela dos reaças. Não se esqueça de seguir as recomendações da OMS e fique em casa.
Tracklisting:
01 – Agonia
02 – 121
03 – Bruxa
04 – Berserker
05 – Didática
06 – Paralelo
07 – Barro/Sangue
08 – Reizinho
09 – Paranóia
10 – Arapuca
11 – Rotina
Lineup:
Guilherme Marchi – Vocal/Guitarra
Caio Kattenbach – Guitarra
Gabriel Belão – Baixo
Gabriel Russel – Bateria
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9/10