Meu primeiro contato efetivo com os Ramones foi através de uma coletânea dupla em vinil, chamada “Ramones Mania”, adquirida na saudosa loja Francinet Discos, em Fortaleza. Devo confessar que, o que ouvi, me deixou um pouco confuso. O Ramones era uma banda Punk e, efetivamente, encontrei isso no disco, mas havia algo inesperado naquelas músicas.
Minhas primeiras audições do que seria Punk Rock vieram com as bandas seminais brasileiras. Ratos de Porão, Cólera e Olho Seco – principalmente – além de Mercenárias e Replicantes. Entre as bandas estrangeiras, a primeira que me lembro de ter tido contato foi o Sex Pistols. Tanto por um lado, como pelo outro, havia uma pegada bastante agressiva em todas elas, com guitarras fortemente distorcidas. Os Ramones possuíam músicas agressivas, sem dúvida, mas o que me chamou atenção mesmo foram as canções – e elas me pareceram ser maioria – com aquele clima dos grupos vocais de Rock´n´Roll e Pop Music que atuaram na virada das décadas de cinquenta e sessenta. Beach Boys, The Ronettes e Rockabilly, no geral, são o embrião de inúmeras faixas como “Ramona”, “I Wanna Be Well”, “Here Today Gone Tomorrow”, “Rockaway Beach” e até mesmo – apesar do título – “Sheena Is a Punk Rocker”. Todas são músicas que escancaram a fonte em que os Ramones beberam, bem como o empenho que eles tiveram para voltar ao básico do Rock. Faixas curtas, sem nenhuma enrolação, direto ao ponto da melodia e do refrão. Músicas de uma época em que o Rock podia ser naturalmente radiofônico. Não estou me referido a essa bobagem de que o Progressivo e o AOR estavam dominando as rádios, na década de setenta, e o Rock perdeu sua essência, blábláblá… Eu detesto esse tipo de argumento frágil em que um gênero tem que culpar o outro pela sua eventual perda de exposição. Existe gosto para tudo, e as pessoas sempre vão ter preferência por um tipo ou outro de som, o que não faz com que nenhum deles passe a ser “melhor” do que o outro.
Tampouco eu creio que os Ramones queriam encabeçar algum revival do tipo. Eles apenas se empenharam em fazer a música que gostariam de escutar e isso basta para que se atinjam os objetivos almejados. “Rocket to Russia” foi o terceiro disco da carreira e o último com a formação original, contendo o baterista Tommy Ramone. A capa, minimalista e eficiente, replica em parte as intenções da capa do álbum de estreia. Uma foto em preto e branco da banda como ela é, mais afinada com o conceito de gangue do que de família, tão direta quanto as músicas contidas em sua embalagem. Nesse clima, faixas como “Cretin Hop”, “Teenage Lobotomy” ou “We´re a Happy Family” se adequam mais ao conceito de Punk Rock que ocupa meu imaginário, da mesma forma que, pela parte lírica, “I Don´t Care” comparece como exemplo perfeito de poesia Punk.
Se os Ramones são repetitivos, que sejam dados os parabéns por essa característica, pois os coloca ao lado das melhores bandas do mundo, como AC/DC, Motorhead, ou até mesmo Rolling Stones, que são repetitivos no sentido de terem uma assinatura musical tão forte que rapidamente os identifica. Isso não é repetição. É personalidade. É foco. A música dos Ramones tem esse traço e nunca soa enfadonha. Somente os grandes podem ser assim.
Formação
Joey Ramone – vocals
Johnny Ramone – guitarra
Dee Dee Ramone – baixo
Tommy Ramone – bateria
Músicas
01 Cretin Hop
02 Rockaway Beach
03 Here Today, Gone Tomorrow
04 Locket Love
05 I Don’t Care
06 Sheena Is a Punk Rocker
07 We’re a Happy Family
08 Teenage Lobotomy
09 Do You Wanna Dance?
10 I Wanna Be Well
11 I Can’t Give You Anything
12 Ramona
13 Surfin’ Bird
14 Why Is It Always This Way?