Resenha: R.I.V. – Prog-Core (2018)

Uma coisa é você criar uma alcunha específica para o tipo de música que está desenvolvendo. Chamar seu estilo de deathtecnopósblackesabeselámaisoquê é fácil. Desenvolver algo que soe realmente inventivo e personal é que é complicado.

O R.I.V. (Rhythms In Violence) obteve sucesso nessa empreitada. A banda mineira batizou sua música de Progressive Core – ou simplesmente Prog-Core, caso você prefira assim – e já haviam revelado sua proposta para o mundo através do EP “Welcome to Prog-Core”, mas o recém lançado álbum “Prog-Core” reformata e revigora tudo que o EP anunciava.

Sob uma visão estreita, muitos podem questionar onde estão os elementos “prog” do som da banda. Bem, estão lá, perfeitamente reconhecíveis. Ninguém questiona sobre os aspectos Hardcore, mas, quando se trata de Progressivo, ainda impera – e, pelo jeito, sempre irá imperar – uma certa confusão: embora o imaginário popular associe progressivo mais fortemente com conceitos próximos ao clássico e ao jazz, é certo que a etimologia da palavra está mais vinculada a “progressista”. Portanto, trata-se de algo que vai além, que avança, que extrapola barreiras…

Nesse sentido, “Prog-Core” acomoda-se como uma luva à musica do R.I.V. Alguns riffs e levadas irão lhe remeter a algo próximo de sua zona de conforto sonora, mas o espectro mais amplo das composições irá lhe conduzir para momentos onde o “novo” irá prevalecer. Algumas referências podem ser pinceladas e, a primeira delas, surge oriunda do visual da capa, onde a banda, trajando jaleco branco, cria um ser monstruoso em laboratório. Esse aspecto visual, aliado ao tipo de humor torto capaz de gerar um título de música como “Delicious Nham! Nham!”, me fazem lembrar do começo da carreira de Peter Steele (Type O Negative) e seu Carnivore, onde ideias esquizoides desse tipo pareciam ser transformadas em composições com a maior naturalidade.

A outra referência transparece da síncope forte que surge dos riffs das composições. Algo como se o Helmet tivesse aberto o caminho para que estruturas dessa natureza marcassem presença mais comumente ao longo das faixas e, pode se dizer que canções como “Rainbow Warrior’s Mayday” bebem bastante dessa fonte, com fraseados bem quebrados, executados com precisão milimétrica.

Mas é o Hardcore que se posiciona em primeiro plano e faixas como “Testicle Man” tem riffs que vão às raízes do estilo. Solos de guitarra, quando surgem, são curtos e diretos. Os três integrantes da banda se esmeram ao máximo em suas performances e a produção cuidou para que a interação entre os instrumentos soasse bem equilibrada, sendo que essa foi a principal falha no EP. Foi válido, portanto, que todas as quatro músicas daquele trabalho tenham sido regravadas para este, sendo que “Freaks In Action” e “No… P.A.S.” foram as mais beneficiadas pelo novo tratamento.

Senti falta apenas de alguns refrões mais impactantes, como o que surge na excelente “Spiral”, mas esse pode ter sido um efeito gerado pela forma como a voz foi modulada na gravação. Ela parece manter-se sempre em uma frequência linear, sem vales ou picos, mesmo quando Helbert grita um pouco mais. Mas, talvez, essa seja mais uma linha de condução que a banda determinou para basilar o estilo que buscam impor. A música resulta dura, rápida, monolítica e contundente.

Prazer em conhecer! Meu nome é Prog-Core!!!

Formação

Helbert de Sá – guitarra/vocal

Ana Lima – baixo

Ricardo Parreiras – bateria

Músicas

01 War Flames

02 Headache

03 No… P.A.S.

04 Rainbow Warrior´s Mayday

05 Progressive Core

06 Testicle Man

07 Caligula 2332 D.C.

08 Freaks in Action

09 Animal

10 Delicious Nham! Nham!

11 Ashes

12 Spiral

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