No tempo em que tudo que você ouvia tinha que ser True, Thrash, Black, sombrio, maligno e muito agressivo, havia apenas duas bandas do então chamado “False Metal” que eu curtia e acompanhava: Motley Crue e Quiet Riot. Hoje, eu aprecio vários grupos que eram objeto daquela infame e datada nomenclatura, como Ratt e Doken, e, sendo muito sincero, ainda guardo algumas restrições por alguns outros, mas aqueles dois sempre me despertaram uma parcela de atenção e – por muito tempo – o Quiet Riot recebeu de mim uma admiração especial.
Eu não tenho certeza se o meu primeiro contato foi com o clipe na TV ou se foi com o disco na prateleira da loja. É bem provável que tenha sido a primeira opção, pois o vídeo passava direto em nossas opções de programa pré-MTV e, sendo o caso, quando o álbum foi lançado por aqui, eu já sabia do que se tratava. Eu ainda sequer imaginava que existiam bandas chamadas Slayer, Metallica, Exciter, Venom e afins. Talvez se as conhecesse primeiro, o Quiet Riot teria passado despercebido por mim. Mas era um tempo mais puro, de paulatino descobrimento de bandas pesadas, e, por isso, o quarteto nunca saiu de minha memória afetiva.
Para quem não acompanhou o Quiet Riot em seu período de maior popularidade, que correspondeu à época de lançamento de seus terceiro e quarto álbuns, o grupo é mais lembrado por ter revelado a figura do guitarrista Randy Rhoads. Convenhamos que essa é, de fato, uma sombra enorme lançada sobre a carreira de quem quer que seja, mas sua época com o guitarrista Carlos Cavazo tem méritos próprios e também merece o devido reconhecimento pelo que fez. Se há uma crítica que eu possa registrar, seria pela ideia da banda em incluir um segundo cover do Slade nesse disco. O cover de “Cum On Feel The Noize” no trabalho anterior, foi um dos pontos que alavancou as vendagens do mesmo. É claro que a banda teria liberdade para inserir, caso quisesse, o cover que entendesse melhor no seu próximo disco, mas um segundo cover da mesma banda referenciada em “Metal Health”? E na mesma posição da sequência das faixas? Aí, infelizmente, soa como oportunismo descarado…
Mas o disco tem suas devidas qualidades, que vão muito além das estratégias mercadológicas. A capa, muito bem desenhada, traz em seu interior músicas bem carismáticas, que refletem bem o talento de todos os envolvidos, como o são caras do naipe de Frankie Banali e Kevin DuBrow, além, naturalmente, do baixista Rudy Sarzo, que já trazia o background de trabalhos relevantes anteriores. Faixas como “Sign of the Times”, “Party All Night”, “Stomp Your Hands Clap Your Feet”, “We Were Born to Rock” e a balada “Winners Take All” são o reflexo de um tempo que hoje parece estar muito mais distante, na linha cronológica, do que realmente é. Não faltam tentativas de reproduzir aquela pegada, aqueles timbres, e tudo o mais que remete a época do apogeu do Hard Rock americano. Sinceramente, nem deveriam tentar. O Quiet Riot teve o seu momento porque eram aqueles caras, naquele período. Quem viveu, viveu. Quem não viveu, pode desfrutar desse longo e maravilhoso acervo que nos foi legado.
Formação
Kevin DuBrow – vocal
Carlos Cavazo – guitarra
Rudy Sarzo – baixo
Frankie Banali – bateria
Músicas
01 Sign of the Times
02 Mama Weer All Crazee Now
03 Party All Night
04 Stomp Your Hands, Clap Your Feet
05 Winners Take All
06 Condition Critical
07 Scream and Shout
08 Red Alert
09 Bad Boy
10 (We Were) Born to Rock