Resenha: Project Black Pantera – Project Black Pantera (2015)

Ao longo da história do Rock ‘n’ Roll, especialmente a partir dos anos 60, diversos trios se eternizaram e mostraram que menos também é mais. Bandas como Rush, The Jimi Hendrix Experience, ZZ Top, Nirvana, entre tantas e tantas outras, são grandes exemplos a se considerar. A química pode se tornar ainda mais reagente e homogênea quando algum grau de parentesco relaciona os integrantes de um trio e, quanto a isso, Bee Gees e, claro, Krisiun, dispensam argumentações – desprezando-se conflitos familiares.

Tal modelo de line-up pode não ser tão explorado hoje como já foi um dia – ainda mais diante de tantas possibilidades musicais extras -, mas certamente ele ainda existe, persiste, e demonstra que funciona. Pegue dois irmãos, una-os a um amigo e injete simplicidade, objetividade e eficiência. Pronto: você tem um empolgado power-trio como o Project Black Pantera.

Foto por: Andreza Rodrigues

Oriunda de Uberaba, no interior de Minas Gerais (região do famoso “Triângulo Satânico Mineiro”), a banda formada em 2014 pelos irmãos Charles (vocal e guitarra) e Chaene da Gama (baixo), além do parceiro Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), é bastante nova, mas não perdeu tempo para entregar o disco de estreia autointitulado já em 2015.

De sonoridade fundamentada essencialmente num pesado Hardcore, o conjunto apresenta um álbum relativamente rápido, com 37 minutos de duração (acrescidos de 7 minutos extras se levar em conta as duas faixas bônus), onde as músicas também geralmente são curtas – em média 3 minutos –, mas não necessariamente retas e desprovidas de criatividade. O trio foi esperto e competente na absorção de outros gêneros como Punk, Thrash Metal, Crossover e Groove Metal, tornando o transcorrer do disco uma experiência diversificada, sutil o suficiente para ouvidos experientes notarem, e homogênea o bastante para os menos analíticos perceberem que o nível é coerente e constante – tudo isso interpretado por letras em português.

Cada faixa prova à sua maneira que o trio mineiro é antenado na interrelação entre esses gêneros similares, mas característicos. Podemos notar a base Hardcore em todas as canções, algumas até mais claras como em “Ratatatá” (que tem uma interessantíssima levada ironicamente circense em sua base) e “Abre A Roda e Senta O Pé”, ou mesmo algo mais batido no Punk como “Eu Sei” e “Execução Na Av. 38”. Thrash Metal irrompe em faixas como “Ressurreição” e “Rede Social” – que também é carregada de Groove –, e, por vezes, recebe o acoplamento de um pegado Crossover, conforme testemunhado em “Manifestação” ou “Godzilla” (esta última dota de refrão pra lá de batedor de cabeça, realmente destruidor). A pluralidade existe e é bem concisa.

Charles Gama se entrega em vocais agressivos que oscilam desde “simples” drives a ocasionais guturais fechados ou rasgados, de acordo com a passagem e o impacto da letra, em posturas que chegam a flertar com o Death Metal. Sua guitarra, bem produzida, confere peso coerente e proporcional à sua indignação vocal, além de nos brindar com diversas passagens de riffs mais cadenciados, batedores de cabeça. Algo que gostei muito é da clareza do contrabaixo de seu irmão Chaene da Gama. Seu pulsar adorna a musicalidade com um peso notável e imprescindível, e em algumas passagens menos “porradeiras” chega a receber destaque, como em “Boto Pra Fuder” ou “Rede Social”.  As baquetas de Pancho, por sua vez, fazem um bom trabalho, contudo, em geral, restringem-se à base, sem roubar a cena.

As duas faixas bônus são conteúdos relevantes de se mencionar, já que a primeira é uma versão em inglês de “Manifestação” e a segunda, fechando o disco, trata-se de uma mixagem realizada pelos estadunidenses do Afropunk com participação especial do rapper J. Cole.

Foto por: Andreza Rodrigues
Foto por: Andreza Rodrigues

Todo o trabalho foi gravado, mixado e masterizado pela própria banda em parceria com Ricardo Barbosa no Studio 106, e satisfez bastante. Resultou em peso sem estouro e clareza sonora sem perda de potência. Já a arte gráfica ficou a cargo de Renato Vieira.

O material físico carrega diferenciação também, sem dúvidas. Ele vem na forma de um livreto simples, mas charmoso. Assemelha-se a um digipack, mas ao abri-lo, nota-se que o encarte é fixado na própria embalagem por meio de grampos. É muito interessante como, ao abrir o encarte, o logo da banda emerge e, para ter acesso às letras, basta dobrar novamente cada lado do encarte para a esquerda e direita, como uma cortina que revela as mensagens críticas, ácidas e irreverentes do conjunto. O CD é posicionado em um compartimento separado após a última página. Belo trabalho.

Certamente o power-trio mineiro acertou em sua primeira tentativa e concluiu um trabalho que pode não ser diferenciado ou a reinvenção da roda, mas foi feito com sinceridade e demonstra personalidade, simplicidade (embora tenha boas doses de criatividade) e objetividade.

Prós:
Muito bem produzido, sonoridade energética e contagiante se ouvido com atenção e com amigos, coeso e material físico diferenciado.

Contras:
A banda tem vontade, mas é cristalino que ainda não está em sua melhor forma. Precisa de mais refinamento e amadurecimento para passar mais segurança e a sensação de que está em seu auge. Um problema sério são os erros de português, acentuação e pontuação ao longo do encarte, além de algumas divergências entre o que está escrito e o que está cantado. Na parte traseira, na lista de faixas, “Godzilla” está com apenas um L, “Ressurreição” foi escrito com apenas um R onde deveria ter dois, fora em “Boto Pra Fuder”, onde o correto seria “foder”, mas nesse caso a popularidade do termo incorreto torna-o aceitável, assim como ocorre em “nóis” (“equívoco” popular não cometido pela banda, que fique claro)… nem mesmo o nome do estúdio está correto. O restante é notado ao ler as letras. Recomenda-se uma revisão geral feita por alguém bom de escrita na próxima prensagem e/ou nos próximos álbuns.

Foto por: Andreza Rodrigues
Foto por: Andreza Rodrigues


Lista de faixas:

01 – Boto Pra Fuder (03:35)
02 – Ratatatá (03:35)
03 – Godzilla (02:24)
04 – Eu Sei (03:55)
05 – Rede Social (03:20)
06 – Abre A Roda e Senta O Pé (02:40)
07 – Execução Na Av. 38 (03:16)
08 – Manifestação (03:57)
09 – Ressurreição (04:40)
10 – Escravos (05:17)
11 – Manifestation (Bonus Track) (03:57)
12 – Execução Na Av. 38 (feat. J. Cole) (Mix By Afropunk) (Bonus Track) (03:22)

Formação:
Charles Gama (vocal e guitarra);
Chaene da Gama (contrabaixo);
Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria).

Links oficiais:
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E-mail:
rodrigoaugustobatera@hotmail.com


 

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