Talvez a sua primeira pergunta seja a respeito da pertinência de uma matéria sobre Phil Collins na Roadie Metal. Chegaremos lá, mas eu devo logo fazer minha confissão e admitir que não sou um grande apreciador do trabalho de Collins. Durante o período de leitura, me senti compelido a procurar reescutar seus hits, mas não foi suficiente para mudar minha opinião. É música de qualidade, claro, mas não me afeta emocionalmente.
Então porque, afinal, eu fui atrás de ler sobre a sua vida. Ora, porque é Phil Collins e, não bastasse ser um dos grandes nomes da bateria, ele esteve envolvido com uma parte considerável do universo musical que me afeta. Além de ter sido baterista do Genesis, um dos gigantes do Rock Progressivo – e posteriormente do Prog Pop – Phil acumula, em seu currículo, colaborações com o Led Zeppelin, Black Sabbath, Eric Clapton, George Harisson, Tony Bennett e Quincy Jones, entre outros.
Sendo um jovem aspirante a músico na Inglaterra dos anos 60, Collins teve oportunidade de assistir os Beatles tocarem e testemunhou o começo do Cream, dos New Yardbirds – antes de mudarem seu nome para Led Zeppelin – e a estreia de Jimi Hendrix em território britânico. Para a felicidade do leitor, Phil repassa todas as histórias vividas com os nomes acima, com exceção da participação que realizou com o Black Sabbath nas apresentações do Jubileu da Rainha.
O livro, que foi lançado no Brasil pela editora Best Seller, é cativante do começo até a última página. A transcrição das conversas realizadas com o escritor Craig McLean, revelam Phil como um sujeito carismático, sincero e bem divertido. Ao contar suas histórias, ele assemelha-se com aquelas pessoas que dominam a conversa em uma festa, prendendo a nossa atenção. Posso dizer que terminei a leitura ressentido pelo fato de não ser mais admirador de seu trabalho solo.
Há quatro fios condutores na narrativa: vida pessoal, Genesis, carreira solo e trabalhos paralelos, como as colaborações, além das atividades de atuação no cinema e criação de trilhas sonoras premiadas, como a da animação “Tarzan”, da Disney. Nenhum desses fios tem mais ou menos peso ao longo dos parágrafos e eles vão se intercalando de forma bem natural, saltando de um para outro sem deixar nada de lado por muito tempo. Em certo trecho, eu já estava começando a associar sua figura com a palavra “workaholic” e, como se estivesse esperando por isso, na próxima página ele já surgia afirmando não o ser.
Apesar de demonstrar ter a perfeita noção da imagem pública que transmite, as últimas páginas revelam que o seu vínculo com o trabalho era mais estreito do que ele quis assumir, pois, ao cogitar uma aposentadoria, vieram os problemas com o alcoolismo e seus consequentes efeitos na saúde. Nessa parte, compreendemos porque o livro chama-se “Ainda Estou Vivo”, pois o músico passou por momentos bem dramáticos, mas conseguiu contorná-los e prossegue em atividade, embora de forma mais comedida.
Se tiver oportunidade, não deixe de ler. Não é a história de um Popstar. É a história de um dos principais compositores da música contemporânea, que conquistou todos os seus predicados com talento e muito, muito trabalho.