Quando se pensa em Rock Instrumental logo emergem em nossas lembranças trabalhos de guitarristas virtuosos como Yngwie Malmsteen, Joe Satriani, Steve Vai ou Tony MacAlpine, somente para citar uns poucos. Outra coisa que lembramos é que estes e outros guitarristas, sem querer negar seus dons e musicalidades, buscam na velocidade e nos solos “shred” se sobressair uns dos outros. Tanta preocupação com a técnica não poucas vezes emperra a absorção da música e seu bom corrimento. Cria-se a impressão de que estamos num carro em alta velocidade rodando em uma rodovia esburacada. Raramente se vê um guitarrista que se lance em trabalho instrumental que sabe guiar um carro com calma e leveza. O importante é chegar bem no final da viagem. Em termos de Brasil, Kiko Loureiro é um exemplo de guitarrista que sabe criar uma boa música instrumental. Ricky Furlani também. Inclua neste time, por favor, Pedro Esteves.

Ao invés de se acomodar em sua carreira consolidada como guitarrista da banda de Power Metal Liar Symphony, da banda de Hard Rock Hardshine e como produtor, dono de estúdio e professor, Pedro Esteves quis mais e resolveu mostrar outras facetas de seu talento musical lançando um álbum solo instrumental. Seu debut, Novos Tempos, foca no trabalho de guitarra simples e orgânico. A guitarra sola maravilhosamente com acompanhamento básico de contrabaixo e bateria e eventuais bases de violão ou teclados. A produção, a cargo do próprio artista, também deixa a audição do álbum bem natural, nos dando a real sensação de ouvir a banda ao vivo. Tudo isso tem uma única intenção: mostrar música boa e agradável aos ouvidos, onde o guitarrista não se preocupa em solar mais rápido que os outros ou em exibir técnica absurda e exagerada.

Musicalmente falando, Pedro Esteves atravessa terrenos distintos, indo do Pop Rock ao Heavy Metal. Músicas como Doce Brisa (esta com bases eletrônicas em sua introdução) e De Volta Pra Casa são acessíveis, sem necessariamente soarem tão comerciais, enquanto nas agressivas Revolução e Indomável Pedro apresenta seu lado Heavy Metal. Manga Larga é um Rock animado, em contraste com a faixa-título que vem logo depois criando um ambiente ao mesmo tempo bonito e denso, graças aos belos arranjos em tons menores. Apesar do foco no trabalho de guitarras, o baixista Wilson Fernandes e o baterista Anderson Alarça têm espaços para mostrar suas artimanhas, como na própria faixa-título e em Sorria. Nos demais momentos, a cozinha faz uma cama forte e segura, sem firulas, para o protagonista esbanjar seus solos inspirados. Outro destaque vai para a 6/8 Raízes, onde Pedro recorre ao seu feeling blueseiro, lembrando o estilo de Victor Griffin, guitarrista do Pentagram. Descanse Em Paz é movida somente a violão e guitarras com timbre limpo, exibindo uma carga emotiva, como o nome da música delata.

Pois bem. Em sua missão de entregar um disco instrumental de guitarra simples, honesto e tocante, Pedro Esteves foi bem-sucedido. Claro que em certo momentos ele mostra seu lado shreder, mas com parcimônia e sem intenções meramente exibicionistas, usando-o em prol do enriquecimento dos arranjos musicais. Ideal para colocar para tocar e esquecer dos problemas da vida e do mundo por pelo menos um momento. Quer simplesmente ouvir uma boa e simples música honesta? Vale a pena recorrer a Novos Tempos, do Pedro Esteves. Dura só um pouco mais que meia hora. E não se preocupe, você não sentirá falta de vocais. Porque Pedro Esteves só falta fazer a guitarra falar e chorar.

Novos Tempos – Pedro Esteves (independente, 2017)

Tracklist:
01. Manga Larga
02. Novos Tempos
03. Lembranças
04. Doce Brisa
05. Raízes
06. Revolução
07. Descanse Em Paz
08. Sorria
09. Indomável
10. De Volta Pra Casa

Line-up:
Pedro Esteves – guitarras, violão, teclados
Wilson Fernandes – contrabaixo
Anderson Alarça – bateria

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