Paul Stanley é um ícone do Rock, isso sem dúvidas até aqueles que não apreciam a sua obra irão concordar. Em sua autobiografia, na qual ele relata sua vida na infância, até a produção de seu último registro de estúdio, o álbum “Monster” (2012), é possível conhecer um pouco mais do homem e menos do artista, “Paul Stanley – Uma Vida Sem Máscaras” é um livro interessante e agradará em cheio os fãs do Kiss.
Logo no início do livro o músico cronologicamente conta sua história dos primeiros relatos que se recorda como ser. Um fato muito citado no livro é sua instrução familiar judia, na qual ele obrigatoriamente por seus pais teve que aceitar isso. O mesmo sempre respeitou sua religião e em momento algum do livro contesta a questão de ser um judeu. Outro fator que se segue logo no começo da leitura é seu conflito pessoal com seus pais, que pouco eram afetivos e sempre mandavam ele se virar com seus problemas, isolando ele de qualquer gesto de carinho e confiança que todo pai e mãe amorosos entregam a seus filhos.
Um fato muito ressaltado em sua biografia é sua deficiência física e auditiva de nascença. Sim, Paul Stanley é surdo do lado direito e nasceu com microtia bilateral, doença conhecida como a que a pessoa nasce sem a cartilagem do ouvido, obtendo apenas pequenas partes de cartilagem. Durante quase todo o livro, Stanley vive um conflito existencial por sua deficiência. O mesmo não se aceitava com esse problema, não aceitava críticas e muito menos humilhações vindas de amiguinhos no colegial, levando muitos anos para se aceitar e entender que o grande problema era como ele se enxergava e não como os outros o viam.
Claro que em sua biografia Stanley conta como foi sua introdução à música e suas principais influências, como adquiriu sua primeira guitarra e ingressou na escola de música, além de contar como foi sua trajetória como frontman de uma das principais bandas de Hard Rock do mundo, o Kiss. Mas um fato que decepciona muito no livro é que ele não aborda com riqueza de detalhes as concepções de cada álbum da banda, muito pelo contrário. Na grande maioria ele passa basicamente pelo trabalho em equipe que estava sendo feito e foca totalmente em sua vida particular. Mas fica aquela questão, será que o Kiss não seria isso também? Sim, seria, mas ele não demonstra muito interesse em relatar o processo de criação dos álbuns que gravou, e salvo raras exceções, ele comenta sobre músicas da banda que foram compostas por outros integrantes.
A grande maioria dos fãs da banda Kiss, incluindo também aqueles que não são fãs mas que conhecem Paul Stanley e Gene Simmons, sempre achou que o grande homem de negócios seria Gene. Pois é. No livro “Paul Stanley – Uma Vida Sem Máscaras”, a visão é diferente. Stanley chega a ressaltar as várias vezes que sozinho foi responsável pela criação e concepção de vários e vários álbuns da banda, principalmente na fase inicial pós-máscaras, na qual Gene estava totalmente envolto na magia e glamour de Hollywood, deixando sempre de lado a banda. Em álbuns como “Creatures of the Night” (1982), “Lick It Up” (1983), “Animalize” (1984), “Asylum” (1985), “Crazy Nights” (1987), “Hot in the Shade” (1989), “Revenge” (1992) e outros, quem ficou à frente de todo o processo de produção, composição, músicos contratados, negociação com gravadoras e programas de TV foi Stanley e não Gene. Isso chega a soar com clareza ao analisarmos os discos e nos perguntarmos: quais os grandes hits? São as músicas de Stanley ou Gene? Esse é um ponto superinteressante e confesso que o melhor momento do livro. Mas reiterando que aqui você não saberá os detalhes, mas apenas as passagens de cada momento.
Uma coisa certa é que Stanley sempre foi arrogante e pretensioso. Em seu livro o músico relata as inúmeras garotas capas da Playboy que ele levou para cama, assunto esse retratado com muita frequência no livro. Esbanjar seu tino sexual é uma das coisas que ele mais fez em sua biografia. Seus conflitos com Ace Frehley e Peter Criss também são relatados em duas partes, sendo a primeira na formação inicial do grupo e a segunda após o acústico MTV, no qual Stanley não modera e simplesmente desce o cacete nas críticas a ambos os músicos.
Por fim, o vocalista e líder do Kiss conta como superou seu trauma por sua deficiência, como encontrou o grande amor de sua vida e como está feliz em estar à frente da maior banda de Hard Rock do mundo após mais de 40 anos. O livro tem bons momentos, chega a ser um pouco cansativo, mas leva créditos positivos por sua dinâmica em capítulos curtos e diretos. Aos fãs do Kiss uma leitura obrigatória, aos fãs da música, uma leitura para entender a visão de um ídolo do Rock.