A ausência do elemento “voz” numa música frequentemente provoca certo desinteresse por parte dos ouvintes. Pode ser, talvez, porque o vocal humaniza uma canção, tornando-a compreensível em algum grau, mesmo que mínimo em alguns casos. Talvez música instrumental soe apenas como “instrumentos tocando”, dando a sensação de distanciamento do elemento humano, por mais que todos saibam que ele está ali, dando vida aos próprios instrumentos.
É uma pena.
Eu não sou ouvinte assíduo de músicas ou bandas instrumentais, mas é engraçado como respeito e, nos poucos momentos que me disponho a ouvir, eu me amarro! Música instrumental revela de maneira quase integral a capacidade de criação de um músico, bem como seu refinamento técnico e, de quebra, deixa exalar com bastante naturalidade as suas principais influências.
Através do álbum “Labyrinth”, lançado em 2015, o guitarrista catarinense Patrick Pedroso apresenta uma coleção de 11 faixas instrumentais de excelente qualidade. O trabalho tem aquele estilo que automaticamente vem à cabeça quando você pensa em um disco instrumental: é melódico, limpo e repleto de solos. A estrutura composicional é vibrante, com variados tipos de solo no decorrer das canções, que não apresentam muito uma postura cíclica em suas fórmulas, com idas e voltas às linhas de determinados momentos. Elas são retilíneas, e sua beleza repousa nas mudanças de ritmo e variações de atmosfera e recursos utilizados.
Desde pequeno, Patrick foi influenciado por gigantes como Slayer, Pantera, Metallica, Sepultura, Megadeth – sendo eles inclusive responsáveis por levá-lo a aprender a tocar violão -, e essas influências podem ser notadas aqui e ali no decorrer do disco, consonantemente com as de lendas instrumentais como Steve Vai, Joe Satriani, Kiko Loureiro, entre outros.
“Labyrinth” começa com uma introdução ambientada por misteriosos efeitos de teclado, numa referência à lá Power Metal, mas logo a partir da segunda faixa, “Rage of The Storm”, a coisa fica mais dentro das expectativas. Embora conservem bastante similaridade, uma audição atenta às 11 canções revela diferentes inspirações entre as elas. “Rage of The Storm”, “Some Creations” e “The New World Was Born”, por exemplo, apresentam andamentos mais progressivos (com ápice absoluto em “Visions of Time”), enquanto “Only Ashes” sagazmente espirra influências Thrash, presentes também com força na própria “The New World Was Born”, já mencionada. “Revolution”, por sua vez, aproxima a musicalidade do Heavy Metal melódico. Mas nem tudo é só solos técnicos, com quebradeiras de tempo e acordes tortos – faixas como “News Days” e “Inspiration” estão muito bem posicionadas, tirando a musicalidade de algo mais pegado, com poucos momentos de brandeza, e alocando-a numa atmosfera mais celestial, com solos profundos e sentimentais. O trabalho ainda é encerrado de forma um tanto similar à qual começou, com “Freedom”, mas levada também a violão.
Todas essas influências, claro, são bastante banhadas a Jazz e Fusion, que são precisamente os estilos que concedem a esse trabalho aquele “climão” tão conhecido de bandas instrumentais.
“Labyrinth” é excelente. Excelente de verdade. É fácil de ouvir – pesado, mas limpo; muito bem produzido; técnico. Os 36 minutos totais de duração passam com fluidez, e esse tempo é mais que suficiente. Creio que mais do que isso em um trabalho instrumental pode ser maçante, mesmo que tudo seja bem feito.
A versão física do registro ficou bem bonita, especialmente o CD. O encarte contém fotos do músico, além de informações técnicas e uma homenagem ao falecido e talentoso guitarrista gaúcho Paulo Schroeber (ex-Almah e Astafix), cuja família Patrick tem contato.
As linhas instrumentais foram gravadas em diferentes estúdios, variando entre o Silent Music (Curitiba/PR), CMC Studio (Chapecó/SC) e Studio B (Joaçaba/SC, cidade natal do músico). “Labyrinth” foi mixado e masterizado por Karim Serri no Silent Music, e a parte gráfica é assinada por João Duarte. Músicos convidados deixam suas contribuições no trabalho, e eles estão listados mais abaixo.
Os únicos dois pontos verdadeiramente negativos são: na parte lateral da arte na caixa de acrílico, “Labyrinth” está escrito errado, sem o Y e com I em seu lugar – uma falta de atenção que pode significar a diferença entre o profissionalismo e o amadorismo; e o próprio nome utilizado para assinar o trabalho. Talvez “Patrick Pedroso” seja pouco convidativo. Um nome artístico mais apelativo cairia muito bem!
Atualmente, Patrick Pedroso trabalha nas composições de seu segundo álbum. O primeiro foi excelente e vale muito ser ouvido. Que o próximo preserve o que “Labyrinth” equilibrou muito bem: complexamente técnico, ao mesmo tempo em que não é apelativo, sendo suave e fácil de ouvir.
Formação:
Patrick Pedroso (guitarra, violão);
Marcos Janowitz (baixo);
Jarlisson Jaty (bateria).
Convidados:
Jaison Danielli (guitarra);
Karim Serri (guitarra);
Anghelo Rodrigues (teclados).
Faixas:
01 – New Ways
02 – Rage of The Storm
03 – Only Ashes
04 – Revolution
05 – New Days
06 – Some Creations
07 – The New World Was Born
08 – Inspiration
09 – Visions of Time
10 – Sounds of Mind
11 – Freedom
Contato:
patrickpedrosocontato@hotmail.com
Links oficiais:
Site oficial
Facebook
YouTube
Soundcloud
Roadie Metal Assessoria