2019 não foi um ano fácil para Ozzy Osbourne. Problemas de saúde o deixaram fora de combate, causando o cancelamento de todos os seus shows programados, e o impedindo de fazer o que mais gosta, estar no palco. Para agravar mais a situação, logo no início de 2020, a notícia de que havia sido diagnosticado com Parkinson. Foi dentro desse contexto tão pesado, que ainda em 2019, sua filha Kelly chegou até ele, perguntando o que ele achava de gravar uma música com o rapper Post Malone. Essa união, a princípio bem esquisita, acabou sendo amarrada pelo produtor de Post, Andrew Watt, e resultou na música “Take What You Want”, que também contou com a participação de outro rapper, Travi$Scott. Pela primeira vez em 30 anos, um single contando com Ozzy, voltou a figurar no Top 10 da Billboard.
Voltar a ter esse contato com a música reacendeu a chama em Ozzy, que após conversar com Andrew Watt, resolveu entrar em estúdio e gravar um álbum. Antes de tudo, preciso abrir um parêntese aqui. Ao leitor, pode causar certa estranheza o fato de um produtor de artistas pop tenha participado desse processo, mas nem tudo é o que parece. Apesar de nos últimos 5 anos vir trabalhando com artistas como Justin Bieber, Selena Gomez, Camila Cabello, Cardi B, Lana Del Rey, e vários outros nomes famosos do mundo Pop, sua carreira começou no Rock. Aos mais esquecidos, Andrew era o guitarrista do California Breed, projeto capitaneado por ninguém menos que Gleen Hughes e Jason Bonhan, e que lançou um ótimo álbum autointitulado em 2014. Nele, além de mostrar um talento absurdo, apesar da relativa pouca idade (tinha apenas 23 anos), mostrava possuir influências de nomes clássicos da história da música pesada, como Hendrix, Page, dentre outros. Essa informação pode ajudar a entender muito do que acabamos por escutar em Ordinary Man, o 12º trabalho de inéditas do Príncipe das Trevas, que surge após um hiato de 10 anos.
Para a gravação de Ordinary Man, o Madman em vez de trazer sua banda para o estúdio, resolveu se cercar de bons amigos. Sendo assim, as guitarras ficaram a cargo de Andrew, o baixo foi todo gravado por Duff Mckagan e a bateria por Chad Smith. Amigos de peso, não é? Não satisfeito, ainda convidou Slash, Elton John, Tom Morello e Post Malone, para participações especiais. Convenhamos, não é uma mistura das mais homogêneas, mas o resultado acabou sendo surpreendentemente bom. Musicalmente, temos uma viagem por toda a carreira de Ozzy, partindo do Sabbath setentista, passando por sua carreira solo, e terminando no ponto onde 13 – o último trabalho do Black Sabbath – parou. Fora isso, em algumas canções, sua música é transposta para os dias de hoje, com um toque mais moderno na produção.
A abertura se dá com a já conhecida “Straight to Hell”, pesada, com bons riffs, refrão forte e que fecha com um ótimo solo, cortesia de Slash. “All My Life” é densa e tem guitarras bem pesadas, além de um refrão bem fácil de pegar, sendo seguida pela igualmente densa e sabbathica “Goodbye”. Sinceramente, para reclamar de “Ordinary Man”, a pessoa tem que estar de muita má vontade. Reflexiva e melancólica, e uma das baladas mais bonitas do álbum, e a participação especial de Elton John só deixou tudo melhor. Destaque para os dois belos solos de Slash. “Under the Graveyard” é uma semibalada muito bonita, e que poderia estar no 13 sem qualquer estranhamento. “Eat Me” é forte, pesada, bem grooveada e com uma pegada bem moderna, além de ser bem legal;
“Today Is the End” é mais cadenciada e densa, e sinceramente, não empolga, sendo um dos pontos fracos do álbum, enquanto “Scary Little Green Men” volta a elevar a qualidade, apesar de soar um pouco mais atual, muito disso devido ao bom trabalho de guitarra. “Holy for Tonight” é outra bonita balada, com um ar bem saudosista, com uma bela melodia, corais e um solo bem legal. Tem algo dos anos 70 aqui, mas trazido para os dias de hoje pela produção. A sequência final conta com a veloz e pesada “It’s a Raid”, com suas guitarras distorcidas e participação de Post Malone nos vocais, algo que não atrapalha em nada a canção, por mais que também não acrescente nada, e a culpada por Ordinary Man existir, “Take What You Want”, música de Malone que foi responsável por Ozzy e Andrew se aproximarem. Só isso justifica sua presença aqui, pois musicalmente ela soa totalmente deslocada de todo o contexto do álbum.
Se você é fã da carreira de Ozzy Osbourne, esse é um álbum feito sob medida para você, dada as diversas referências contidas nele a carreira do Madman, tanto no período do Black Sabbath quanto na sua fase solo. Nesse ponto, o fato de Andrew ter não só produzido o trabalho, como também co-escrito, com a ajuda de Ozzy, Duff e Chad, ajudou muito no resultado, já que fez com que o Príncipe das Trevas saísse de sua zona de conforto dos últimos trabalhos. É o melhor álbum de sua profícua carreira? Sinceramente não, mas é digno de toda a sua importância na história da música pesada, e se significar o final de sua caminhada musical – ao menos em estúdio -, terá sido um belo ponto final!
Tracklist:
01. Straight to Hell
02. All My Life
03. Goodbye
04. Ordinary Man (Feat. Elton John)
05. Under the Graveyard
06. Eat Me
07. Today Is the End
08. Scary Little Green Men
09. Holy for Tonight
10. It’s a Raid (Feat. Post Malone)
11. Take What You Want (Feat. Post Malone & Travi$Scott)
Formação:
– Ozzy Osbourne (vocal)
– Andrew Watt (guitarra)
– Duff Mckagan (baixo)
– Chad Smith (bateria)
Participações especiais:
– Slash (guitarra)
– Tom Morello (guitarra)
– Elton John (vocal/piano)
– Post Malone (vocal)
– Charlie Puth (teclado)