São poucos os músicos que possuem a coragem de enfrentar mudanças drásticas no estilo musical de sua banda – ainda mais se essa mesma banda possuir uma gama grande de fãs e vários álbuns lançados com um estilo específico que os consagrou. Isso aconteceu com a banda Opeth, que acaba de disponibilizar o novo lançamento, o aguardado “Sorceress”.

Os fãs mais radicais aguardam ansiosos para que o líder do grupo, Mikael Åkerfeldt, resgate o peso e harmonias que consagraram o grupo, afinal, o Opeth foi uma das primeiras bandas a executar um Death Metal com vários elementos como Progressive, Jazz, Funk e outros estilos que casaram perfeitamente com a proposta da banda – basta escutar álbuns como “Black Water Park” (2001), “Deliverence” (2002) ou “Ghost Reveries” (2005) para perceber o quanto a mudança foi drástica a partir dos últimos três lançados.

Mikael Åkerfeldt é um gênio da nova era de headbangers e mais uma vez ele apresenta ao público um disco da forma que ele realmente quis escrever: sem guturais. Esqueça se quiser ouvir guitarras com palm muting e tremolo picking! Aqui ele, mais uma vez, abole o Death Metal e foca sua música no Progressive Rock.

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Trata-se de uma continuação direta daquilo iniciado em “Heritage” (2011), que teve como proposta apresentar Progressive Metal, e que teve continuidade em “Pale Communion” (2014), que se calcou mais no Progressive Rock. Dessa forma, Mikael Åkerfeldt e cia. brindam o público com “Sorceress”, confirmando definitivamente que o Opeth não é mais uma banda de Death Metal.

Ainda assim, diferente dos outros dois álbuns citados acima, em “Sorceress” podemos perceber que a banda inclui de forma mais participativa o órgão, fazendo com que a música soe ainda mais retrô e setentista.

Abre o álbum a bela introdução “Persephone”, uma levada de violão que de imediato faz com que se crie o sentimento de se ouvir músicas regionais da Suécia.

Levando o nome do álbum, a música “Sorceress” tem em seu início uma levada bem suja e comandada pelo órgão. Após uma longa passagem, a música entra em uma melodia pesada, mas sem guturais, claro. É uma faixa densa e muito bem elaborada. Åkerfeldt conduz sua voz de forma livre, e a música possui o pode ser considerado a marca da banda, com quebradas de tempo, cordas dedilhadas em progressão e muito experimentalismo.

“The Wilde Flowers” é mais arrastada. Apesar de possuir todos os elementos que marcam a pegada experimentalista do conjunto na atualidade, a música confere uma fusão entre o Doom Metal e o Heavy Metal. A segunda parte é empolgante, sendo possível perceber a qualidade e a facilidade que os músicos criam as notas e variações. Fazem qualquer um ficar de queixo caído.

Uma doce levada de violão dá início à música “Will O The Wisp”. A voz de Åkerfeldt é de uma leveza única aos ouvidos, tornando-se especialmente sublime com uma pegada na linha de Pink Floyd com toda a primeira parte sendo conduzida pelo violão, órgão e vocais aos coros de Årkefeldt.

“Chrysalis” é uma obra de arte. Pesada e bem arquitetada, a música, ao longo de seus sete minutos, cria várias atmosferas que até o mais desatento ouvinte notará que são várias nuances e variações dentro de uma mesma música. Momentos rápidos, contratempos, elevações, progressões mais calmas, vocais dobrados, solo arrastado… esses são alguns dos elementos possíveis de se encontrar. Uma das melhores músicas feitas pela banda após assumir sua nova identidade!

“Sorceress 2” é um prelúdio de aproximadamente quatro minutos utilizando de muitos elementos em reverb. Ela é levada apenas pelo violão, órgão e voz.

Com uma levada tribal, a faixa instrumental “The Seventh Sojourn” possui percussão e orquestra sinfônica. Cativante e sombria, a música é muito bem trabalhada e sua sonoridade é totalmente diferente de tudo já criado pelo Opeth.

Com quase nove minutos de duração, “Strange Brew” começa melancólica e depressiva. Pra quem curtir mais peso e emoção, a música a princípio começa chata e muitos podem passar ela logo no início, mas repare que aqui estamos falando de Opeth e por isso deve-se escutar até o fim. Após um quarto de música, ela infla incrivelmente, com destaque para todos os instrumentistas! Impressiona o quanto ela evolui dentro de si mesma. Eis aqui mais uma obra-prima!

Misturando elementos celtas, circenses e uma levada mais direta, “A Fleeting Glance” é mais calma e direta, mas a música possui a identidade do Opeth. Nas variações de tempos e contratempos, o grupo consegue impor sua marca e subir o clímax da canção.

A faixa “Era” possui uma intro em piano. Suave, a abertura pode indicar que algo mais calmo está por vir. Entretanto, a verdade vai muito pelo contrário – passado o início, uma avalanche de peso e muito virtuosismo é destilada. Trata-se de uma canção que possui uma base muito densa e pesada. Uma das mais diferentes e legais do álbum.

E, para encerrar, a repetição da mesma intro, “Persephone (Slight Return)”.

Um fato a se deixar claro é que o Opeth hoje anda na linha entre o amor e o ódio. Afinal, não é qualquer um que muda drasticamente seu estilo e mantém sua personalidade firme. Esses suecos não têm medo de perder os fãs mais antigos, confia no seu trabalho e se abre à possibilidade de conquistar novos – o que efetivamente acontece.

Sem dúvidas, um álbum fantástico que será referência na história da música pesada.

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Formação:
Mikael Åkerfeldt (vocais/guitarra);
Fredrik Âkesson (guitarra);
Martin Mendez (baixo);
Martin Axenrot (bateria);
Joakim Svalberg (teclados).

Faixas:
01 – Persephone
02 – Sorceress
03 – The Wilde Flowers
04 – Will O The Wisp
05 – Chrysalis
06 – Sorceress 2
07 – The Seventh Sojourn
08 – Strange Brew
09 – A Fleeting Glance
10 – Era
11 – Persephone (Slight Return)

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