Resenha: Older Jack – Metal Über Alles (2015)

Por uma questão de método, quando eu seleciono um disco para ouvir, principalmente se for de uma banda nova, tento me abster de olhar as informações do encarte ou de fazer qualquer outro tipo de consulta. Em primeiro lugar, a música, e apenas ela, tem que falar comigo, depois vamos verificar o que está por detrás dela.

Então, pego o disco do Older Jack, “Metal Über Alles”, coloco no carro e começo a dirigir. A primeira faixa já me anima bastante. Metal pesadão e arrastado, com riffões secos e cíclicos, na melhor linha do Black Sabbath. Entra a voz e percebo também que o timbre do vocalista casa bem com o conjunto, lembrando um pouco de Chris Boltendahl, do Grave Digger. E assim a música prossegue, prossegue, mas… tem algum elemento de diferença ali que está cutucando meu subconsciente: “Que língua esse cara está cantando???”. Não tem jeito, vou ter que abrir logo o encarte para, enfim, descobrir que todas as faixas do disco estão em alemão. O título do disco, “Metal Über Alles” é, portanto, um verdadeiro expositor de seu conteúdo, e não apenas um jogo de palavras interessante, como foi “California Über Alles”, do Dead Kennedys.

É uma grande ideia e funciona bem demais para o som da banda, além do que, é sempre bom ver alguém colocando elementos originais em suas músicas. E, melhor de tudo, termos uma banda brasileira que canta em alemão não é algo gratuito. Trata-se de uma ferramenta de composição utilizada de forma absolutamente autêntica e com propriedade, pois, os integrantes da banda, naturais da cidade de Pomerode, na microrregião de Blumenau, no estado de Santa Catarina, são tão fluentes no idioma germânico quanto no português, fato natural nessa cidade que é considerada a “mais alemã do Brasil”, e cujo nome origina-se da região de origem dos imigrantes que ali primeiro se estabeleceram, a Pomerânia.

Voltando então para a primeira faixa do disco, “Öl Und Blut”, outra coisa que chama a atenção são os backing vocals bem colocados e que dão a sensação de palavras de impulso. Nas vezes em que aparecem, os backing não cantam versos dos refrões ou coisas assim; eles cantam palavras curtas, isoladas, que são complementadas pelos versos entoados por Carlos Curt Klitzke, gerando uma dinâmica de pergunta-e-resposta com resultados bem empolgantes para a música.

Entrando na segunda música, a semelhança vocal com Grave Digger faz mais sentido, pois o andamento de “Metal Über Alles” traz mais semelhanças com o que aquela banda fazia em seus primeiros anos. O mesmo clima se fará presente também em “In Namen Das Geldes”, conduzida com segurança pela marcação da bateria de Bruno Maas e do baixo de César Rahn, cujo entrosamento é uma constante em todo o álbum.

O som que o Older Jack faz é o Heavy Metal em sua forma mais pura, com o clima da transição dos anos setenta para os oitenta,  mas com a pegada atual, convivendo, dentro da mesma fórmula, tanto o Sabbath quanto o Metallica, cuja influência tem uma presença forte na última faixa, “Das Ende”. Os guitarristas Hermann Wamser e Deivid Wachholz merecem receber os méritos pelo timbre obtido para alcançar esse equilíbrio, sendo que esse último é também responsável pelos solos das canções, muito bem compostos e encaixados, todos em perfeita sintonia com o que cada faixa pede.

Além da rápida “Wahnsinn”, merecem destaque também as canções “Fosa”, que é valorizada pelo bom gosto dos preenchimentos de César Rahn nos versos do refrão, e “Macumba”, cujo título causa estranheza em um disco com as características que estamos vendo, mas que não poderia ser de outro modo, pois não haveria como traduzir adequadamente o nome da prática ritual que é descrita na letra.

Em “Metal Über Alles” você irá encontrar o metal da melhor qualidade que existe. Heavy metal tem que ser pesado. Tem. Que. Ser. Pode parecer óbvio demais, mas nem sempre é. O Older Jack, no entanto, compreende isso muito bem e, assim, honra e orgulha as duas pátrias – brasileira e alemã – que se mesclam em sua origem.

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