Vamos refletir um pouco. Todos nós que apreciamos música, principalmente aqueles que já tem alguns anos de estrada, gostamos de classificar as bandas que escutamos arremessando-as para dentro de algum nicho cronológico: “Isso é puro anos 70”, “Esse som é oitentista”… e por aí vai.

Sem dúvida, ajuda a criar uma definição do tipo de som de uma banda para algum ouvinte que, porventura, não conheça o trabalho do artista, mas que conheça o zeitgeist da década referenciada.

Mas será que isso é justo com as bandas? Vejamos que há pelo menos dois lados nessa história. O primeiro é daqueles que buscam realmente replicar o clima do período, reproduzir o que os precursores, que formataram aquele cenário, faziam. Há nisso, decerto, algo teatral, uma interpretação de personagens que pesquisam e tentam emular não apenas os timbres de seus instrumentos, mas roupas e posturas também.

Está errado? Não, de modo algum, mas decerto a música gerada não soa tão espontânea quanto o que temos no segundo lado: existem artistas que dispensam a mise-en-scène, eles simplesmente são daquela forma. Não vivem um personagem, não se fantasiam, não precisam adaptar seus instrumentos. A música que criam não é algo estagnado no tempo e usado como modelo, muito pelo contrário, é aquilo que os traduz, seu linguajar natural, uma extensão de suas personalidades.

Chamar, portanto, sua música de sessentista, setentista ou oitentista, pode ser um equívoco, pois são obras atuais, frutos da criatividade de quem jamais poderia se expressar artisticamente de outra forma sem soar deslocado. Essa é a percepção que temos do álbum de estreia da banda cearense Old Lamp, “Body n’Soul”. Não é música setentista. É música atual, autêntica e vibrante, que não poderia ser transmitida de outra maneira. O Hard Rock, legítimo e bem feito, é atemporal, mantendo essa pegada característica da mesma forma que o fez anos atrás, da mesma forma que o fará anos adiante.

Um exemplo prático de tudo isso que falamos até agora: a faixa “Music Is My Life”, que se utiliza de um riff preciso e de um refrão eficiente para transmitir uma mensagem tão simples. Soa sincero, soa honesto e conquista o ouvinte sem que ele perceba! Passando música por música, iremos encontrar referências de Rolling Stones, Aerosmith, AC/DC, Led Zeppelin, Black Crowes, Lynyrd Skynyrd, cuja lições foram aprendidas e colocadas em prática pelo Old Lamp, seguindo o seu próprio modo de ser.

Entre músicas mais pesadas como “Iced Heart” e “What Do You Want From Me?”, há também o Rock’n’Roll estradeiro de “Little Honey” e “Lame Ass”, as

irresistíveis baladas bluesy “Got My Life Back” e “Outrageous”, e a levada envolvente de “Days Ago”. Qualquer que seja a canção, dentre as catorze do tracklist, são constantes o belo trabalho harmônico das guitarras, o groove seguro e criativo de baixo e bateria, e a interpretação contida nos vocais de Sergio Murillo, cuja voz aguda complementa a personalidade do quinteto.

Embora seja uma formação relativamente nova, os integrantes são músicos experientes dentro do cenário de Fortaleza, e a bagagem individual de cada um está refletida no resultado alcançado. O álbum está redondo, com composições impecáveis, boas letras e uma produção – realizada por Leandro Osterne em parceria com a banda – que cometeu todos os acertos dentro da proposta seguida.

Esse é, realmente, um trabalho de qualidade e que merece ultrapassar quaisquer barreiras geográficas de divulgação. Não deve ser difícil pois, pelo que percebemos aqui, o lampião pode ser velho, mas tem gás de sobra!

Body n’ Soul – Old Lamp

Tracklist:
01 Body N´ Soul
02 Music is My Life
03 Little Honey
04 Got My Life Back
05 Beauty Maiden
06 ‘Till The Dawn
07 Iced Heart
08 Outrageous
09 Days Ago
10 Spit on Your Pretty Face
11 What Do You Want From Me
12 Back to Dust
13 Lame Ass
14 Something New

Formação:
Sergio Murillo – vocal, harmônica e guitarra
Ricardo Nobre Jr – guitarra
Franklin Papaleo – guitarra
Robson Serra – baixo
FZ Batera – bateria

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