Cada época – geralmente meio que dividida por décadas – tem seus estilos musicais marcantes, sejam lá quais sejam as vertentes. Do fim da década de 2000 para o início dos anos 10, houve o ‘boom’ do Metalcore, que tem como principais marcas características bandas como Bullet For My Valentine, Asking Alexandria, Trivium (quando ainda tocava o estilo), All That Remains, entre outras. Elas podem ter nascido entre o fim dos anos 90 e início dos 2000, mas o auge comercial mesmo foi durante o período mencionado mais acima.
Como não poderia deixar de ser, além da rejeição dos mais conservadores no meio metálico – algo totalmente natural -, o estilo aos poucos começou a fazer escola no mundo inteiro, até que finalmente chegou ao Brasil. Bandas como Glória, Trayce, e também a pluralidade do Project46 são bons exemplos da importação do estilo – e com qualidade.
Em 2011, mais uma banda se comprometeu a entrar nesse circuito e engrossar a pilha de discos de qualidade do estilo. Essa foi a época em que surgiu, no Rio de Janeiro, a banda No Trauma, atualmente composta por Hosmany Bandeira (vocal), Tunninho Silva (guitarra), Jhonny Boy (baixo) e Marvin Tabosa (bateria). Após muito trabalho e algumas singles, enfim saiu, em 2016, o excelente álbum de estreia “Viva Forte Até O Seu Leito de Morte”.
O álbum é o que ele se propõe a ser: moderno, técnico, realmente pesado e envolvente. Temos aqui um Metalcore com pesada inserção de Groove Metal – uma aliança que dá gosto de ouvir. É cheio de riffs característicos, que num momento apresentam uma linha mais cadenciada e melódica (sem perder a distorção), e logo na seguinte já entram em nuances mais pesadas e grave, geralmente com bastante quebradeira, naqueles famosos “riffs pausados”, que acompanham a técnica da bateria e tornam as músicas mais viçosas. Não há solos, o que acaba gerando músicas curtas. Embora eles sempre façam falta, as músicas continuam excelentes e bem diretas, sem procurar incluir recursos externos e correr o risco de descaracterizar a proposta de peso e técnica.
No que diz respeito ao vocal, é cantada em gutural fechado com um fundo de rasgado, e em alguns momentos aparecem linhas vocais em coro de forma imperativa, como em uma manifestação de rua – outra marca do Metalcore. O vocal de Hosmany é estático, sempre lançando mão da mesma tonalidade. Seria interessante ver um pouco mais de versatilidade, algumas subidas para algo plenamente rasgado, dando mais emoção para as canções, além de contribuir com um sentimento de fúria. Ainda assim, da forma como está, ainda está realmente muito bom.
“Viva Forte Até O Seu Leito de Morte” é recomendado mesmo para quem tem resistência a músicas em português – até porque, uma vez que as reflexivas letras são cantadas em gutural, as palavras se tornam pouco compreensíveis, desfigurando o português e mesclando a técnica à musicalidade de fato, como se fosse em inglês.
Vale dedicar um trecho para mencionar a produção, que é animal! Realmente de qualidade, limpa e alta, como toda banda poderia tentar fazer, mesmo que demore mais tempo para lançar seu material. Se o som do No Trauma é moderno, a produção ajuda muito, inclusive na imagem de profissionalidade do conjunto.
Excelente trabalho.
Formação:
Hosmany Bandeira (vocal);
Tunninho Silva (guitarra);
Jhonny Boy (baixo);
Marvin Tabosa (bateria).
Faixas:
01 – Fuga
02 – Quimera
03 – M.M.A.
04 – Massa de Manobra
05 – O Chamado
06 – Forca
07 – Sedativo
08 – Demoniocracia
09 – Igualdade
10 – Algemas do Medo
11 – Viva Forte
12 – Sawabona Shikoba