Qualquer livro que eu pego para ler, passará por uma visão completa de todo o seu conteúdo. O que significa isso? Bem, eu não mergulho direto no primeiro capítulo. Antes, vou ler o que está escrito na contracapa, nas orelhas, no prefácio. Feito isso, posso dar início ao conteúdo principal.

Esse modo de agir pode ajudar bastante na compreensão do texto. Vejamos o presente caso: os sinais de alerta foram acendidos logo nos Agradecimentos do autor, no primeiro parágrafo, quando ele diz que o livro foi escrito após uma conversa com o empresário da banda. Não estou, de modo algum, fazendo qualquer questionamento quanto a isenção do escriba, mas existe uma diferença entre um projeto encomendado e um, digamos, independente. Esses últimos tendem a ser mais livres na hora de tocar nas feridas e, como se sabe, o período abordado pela obra, que cobre apenas os anos da cantora Tarja Turunen, terminaram com um bocado delas.

Descendo dois parágrafos, o autor faz a sua lista de agradecimentos pessoais: Tuomas, Jukka, Emppu, Marco…, mas onde está Tarja? É mais provável que ela não tenha aceitado dar suas declarações, mas na contracapa seu nome consta como entrevistada. Então, ou houve erro em algum lugar, ou os depoimentos de Tarja foram obtidos de fontes diversas ao contato direto com o autor.

Como essa é uma questão que deverá permanecer sem esclarecimentos, vamos à leitura. Esse é o exemplo de uma biografia que agradará pela completa inexistência de itens de comparação. Não temos, em nosso mercado editorial, outras biografias do Nightwish, e nem creio que venham a ser lançadas, então a presente obra terá que satisfazer, não por ser a melhor, mas por ser a única. O livro tem méritos, claro, mas também tem sérios problemas e o principal deles é a falta de emoção, incompatível com uma banda onde a emoção é a força motriz das músicas. Por vezes, a leitura torna-se cansativa pelo interminável desfilar de reclamações sobre Tarja e seu esposo empresário.

A primeira parte do livro é a melhor coisa, pois mostra todo o processo embrionário de uma pequena banda originária de um vilarejo finlandês situado nas proximidades da fronteira com a Rússia. Existe muita inocência nesse trecho e é interessante ver que a pequenetude do local fez com que praticamente todo o núcleo inicial do Nightwish tenha passado pelas mãos do mesmo professor de música, Plamen Dimov. Outro ponto curioso é perceber que aqueles futuros músicos existiam em um ambiente onde suas influências estavam adstritas ao cenário local. Ok, nomes de gigantes como Metallica e Pantera são mencionados, mas bandas como Black Sabbath e Iron Maiden são em momento algum listadas como referências. Ao invés disso, explodem citações ao Stratovarius, Children Of Bodom, HIM, Therion e The Gathering.

O Nightwish não fez o percurso natural de uma banda, atuando em palco para depois investir em gravações. Pelo contrário, a partir de uma demo idealizada por Tuomas Holopainen, a banda surgiu e iniciou o seu trajeto, aprendendo enquanto fazia, e crescendo um passo de cada vez, até tornar-se uma grande equipe. Nesse ponto, ao atingir mais sucesso e passar mais tempo na estrada, o livro relata situações que fazem você rever a capa para ver se não pegou, por engano, uma bio do Motley Crue, tal o tamanho dos excessos cometidos, embora eles sejam creditados em sua quase totalidade aos roadies.

Porém, a partir de sua metade, tem início a interminável ladainha sobre os problemas envolvendo Tarja e seu empresário, o que demonstra que empresários distintos para os membros de uma mesma banda é algo, no mínimo, delicado. Desse momento em diante, a narrativa chega a se assemelhar a um livro ruim de suspense, onde cada capítulo parece terminar com o prenúncio “mas o pior ainda estava por vir”…

Não cabe a essa resenha fazer o julgamento entre as partes. Leia o livro, caso seja de seu interesse, e tire suas próprias conclusões, mas não estranhe se perceber que há uma tendência maior para tratar Tarja como o lado responsável pelo aparte, afinal, lembre-se, a história está sendo contada sob a ótica do lado remanescente, então mantenha o seu senso crítico em alerta.

E, por fim, tenha também em mente o fato de que a luxuosa edição do livro, com capa dura e fotos coloridas, é totalmente incompatível com a sofrível revisão que teve. Palavras mal traduzidas, preposições omitidas ou fora do lugar, entre outras falhas, são inaceitáveis. Se fossem um ou dois erros pontuais, poderíamos relevar essa crítica, mas a quantidade de absurdos existentes é farta. Sim, esse é o único livro disponível sobre o Nightwish no Brasil, e sua publicação foi um ato louvável, mas isso não é desculpa para oferecer ao público um trabalho mal acabado.