Conheci a Nervosa já faz algum tempo e o som delas me chamou a atenção logo de cara. Como ainda estou conhecendo o Thrash Metal, não tenho muitas referências nesta vertente, mas o trabalho deste trio feminino nacional já me agradou bastante. Resolvi procurar mais material para ouvir, já que eu só conhecia o clipe de “Death”, e me deparei com este álbum que é simplesmente espetacular, além do EP “2012”, lançado antes de “Victim of Yourself”. Nesta resenha vou tentar explicar porque – e o que – gostei no som da Nervosa. Bem, vamos lá.
Caos para todo lado. É assim que somos apresentados ao álbum. Em seguida vem a guitarra de Prika Amaral, fundadora da banda. São praticamente três minutos de expectativa para a porrada dar as caras. E ela vem com “Twisted Values”, que começa feroz com a guitarra e o baixo, tocado por Fernanda Lira, que também faz os vocais. A banda mostra a que veio com uma fúria incontrolável vinda de todos os instrumentos. Por volta dos dois minutos e meio a bateria, comandada por Pitchu Ferraz, faz a música flertar com o death metal. É um começo de tirar o fôlego.
A próxima é “Justice Be Done”, uma das mais conhecidas da banda. Ela é um pouco cadenciada no início, mas logo se torna rápida com a guitarra. O backing vocal de Prika Amaral dá uma boa incrementada no som, deixando mais nervoso – desculpa o trocadilho – que já estava.
Em seguida temos “Wake Up And Fight”, que é ainda mais cadenciada que a anterior, porém sem perder qualidade. Ela dá um tom mais “calmo”, se é que dá para dizer isso de um álbum de thrash metal. A melhor parte é o refrão, com a guitarra destilando riffs até dizer chega. Inclusive é um dos melhores refrãos do disco.
Outra que engana bem – no bom sentido – é “Nasty Injury”, que também começa um pouco lenta, mas logo acelera. Fernanda Lira mostra, tanto com sua voz quanto com o baixo, que foi uma boa escolha para se juntar à banda, em 2011, quando a Nervosa ainda não tinha vocalista e caminhava rumo ao profissionalismo.
O baixo abre a música seguinte, “Envious”, mas é a bateria que chama a atenção, além dos backing vocals. Como toca essa Pitchu Ferraz! Ela tem uma pegada muito forte com as baquetas em todas as músicas de “Victim of Yourself”. Pitchu substituiu Fernanda Terra, que deixou a Nervosa em 2012, quando lançaram seu primeiro trabalho, o EP 2012 (que também tem o nome “Time of Death” em alguns países). Se você ouvir o EP e depois o álbum, vai perceber a diferença entre as duas bateristas. Embora Fernanda Terra seja mais técnica, eu ainda prefiro a pegada de Pitchu Ferraz. Os backing vocals da Prika eu já comentei antes, mas sempre é bom ressaltar que são muito bons e deixam um clima mais tenso quando são acionados.
Backing vocals estes que têm em “Morbid Courage” um de seus momentos mais interessantes. Aliás, a banda como um todo, porque essa é uma das melhores músicas de “Victim of Yourself”. Ela é pesada, rápida – tanto com guitarra quanto com bateria – e no refrão é fora de série. De fato, uma das mais fodas deste álbum. Agora vem a sequência matadora, que vai daqui até o final.
“Death” foi a música que me apresentou à banda. Eu conheci a Nervosa por causa do videoclipe, o primeiro deste álbum. A partir daqui escutei muita coisa delas e, principalmente, este disco. Death é a síntese do som que a banda faz. Uma das melhores do trio, com certeza.
A próxima é outra das mais fodas deste álbum. “Into Mosh Pit” rendeu o segundo videoclipe do CD e é uma música para ouvir se imaginando num mosh pit (com um nome desse onde mais seria?) em um show da Nervosa. O mais interessante é que – segundo a própria Fernanda Lira – ela faz referência a vários álbuns de Thrash Metal como “Arise” (Sepultura), “Show No Mercy” (Slayer), “The Legacy” (Testament), “Fistful of Metal” (Anthrax), “Thrash Zone” (D.R.I.) entre outros.
“Deep Misery” é mais curta, mas igualmente intensa em relação às anteriores. A banda faz um bom trabalho coletivo, sendo difícil apontar um destaque individual. Esta sequência final leva “Victim of Yourself” a outro nível.
A faixa-título finalmente dá as caras por aqui. E que faixa! A melhor do álbum. Começa somente com o baixo, mas logo fica mais pesada. Ela alterna momentos mais cadenciados, com outros mais agressivos, sobretudo no refrão. O mesmo que acontece em “Wake Up And Fight”, só que “Victim of Yourself” é ainda mais furiosa, ainda mais nervosa (olha aí o trocadilho de novo, é difícil expressar isso de outra forma). Certamente já é um dos maiores clássicos da banda, junto com “Masked Betrayer”, do EP “2012”, além de “Death”.
Uma sirene nos ambienta para uma das melhores músicas deste álbum. “Urânio em Nós”, cantada totalmente em português, traz o melhor momento de Prika Amaral como backing vocal, não só ela como suas companheiras de banda também dão seu melhor para fechar o CD com estilo. É uma faixa bem curta, com pouco mais de dois minutos, que também traz algumas influências de Death Metal para o som da Nervosa. É bom ver bandas nacionais apostando em músicas compostas no nosso idioma. Isso mostra que essa história de “Metal em português não funciona” não tem nada a ver e é sim possível compor músicas de qualidade na nossa língua materna.
Com “Victim of Yourself”, a Nervosa mostra porque conseguiu em tão pouco tempo de existência – a banda está na ativa desde 2010 – contrato com uma das maiores gravadoras de Metal do mundo, a Napalm Records. Se o trio feminino de Thrash Metal vai se tornar um dos maiores nomes da história do Metal nacional, quem sabe até mundial, só o tempo dirá, mas é bom ver essas meninas tentarem.
Formação:
Fernanda Lira (vocal e baixo);
Prika Amaral (guitarra);
Pitchu Ferraz (bateria).
Faixas:
01 – Intro
02 – Twisted Values
03 – Justice Be Done
04 – Wake Up And Fight
05 – Nasty Injury
06 – Envious
07 – Morbid Courage
08 – Death
09 – Into Moshpit
10 – Deep Misery
11 – Victim of Yourself
12 – Urânio em Nós