Resenha: Nervosa – Downfall of Mankind (2018)

A Nervosa é uma banda de Death/Thrash Metal brasileira que tem ganhado cada vez mais atenção na cena, saindo do underground paulista para a cena internacional em pouco menos de uma década. Chutaram a porta de entrada em 2010 lançando um clipe para a excelente música “Masked Betrayer”. Dois anos depois lançaram a também excelente demo intitulada simplesmente “2012”, com duas faixas inéditas matadoras, além da já conhecida “Masked Betrayer”.

A banda seguiu se apresentando ao vivo ativamente pelo país, passando inclusive pelo prestigiado evento Roça’n Roll em Varginha-MG. Mesmo acompanhadas do desnecessário jargão “All Female Thrash Metal Band”, a banda mostrava a cada apresentação que transbordavam talento e que mereciam cada minuto de atenção que recebiam. Não recebiam atenção apenas por serem uma banda de Metal formada exclusivamente por mulheres, recebiam por entregar um Thrash Metal de altíssima qualidade.

Após o lançamento do primeiro full-length, a banda passou por várias mudanças de bateristas, e a partir do segundo álbum, começaram a apostar em um som ainda mais pesado e agressivo, beirando o Death Metal.

Esse ano lançaram seu terceiro álbum, intitulado “Downfall of Mankind”. Vamos ver como esse álbum se sai.

O play abre com uma faixa introdutória. Faixas de introdução são complicadas, porque muitas vezes elas acabam sendo apenas encheção de linguiça desnecessária, mas muitas vezes também são icônicas e funcionam maravilhosamente ao vivo. No caso deste álbum, eu diria que é uma introdução competente. É lenta, tenebrosa e pesada, lembrando um pouco do que o Arch Enemy costumava fazer em suas introduções. E logo em seguida, começa a pancadaria. E que pancadaria! A faixa de abertura, intitulada “Horrordome” é provavelmente uma das músicas mais extremas que o trio já compôs! Blast beats insanos, guitarras pesadíssimas e vocais caóticos, com um refrão poderoso e raivoso.

Nisso já fica clara a abordagem musical do Nervosa neste terceiro álbum. Continuam caminhando rumo a horizontes mais extremos, dessa vez alinhadas de vez no Death/Thrash. Há agressividade e peso transbordando em todas as músicas do álbum.

Mas com isso também surge uma preocupação: A repetitividade. É importante que uma banda saiba equilibrar pancadaria desenfreada com momentos cadenciados e arranjos criativos para manter o álbum interessante do começo ao fim. E isso não é totalmente implementado aqui.

Não que a banda passe o álbum inteiro batendo na mesma tecla. Há vários momentos variados. O refrão da faixa “Enslave” por exemplo, tem um groove marcante e diferenciado. A faixa “Bleeding” também começa cadenciada e absurdamente pesada, antes de cair matando com pontes e refrões mais agressivos. O problema é que mesmo que o álbum esteja repleto de ótimas idéias, estas são repetidas diversas vezes, tirando a personalidade de algumas faixas. Na segunda metade, por mais que ainda tenham músicas boas, alguns riffs começam a soar parecidos, e uma sensação de “já ouvi isso” começa a ficar cada vez mais prevalente. Escutadas separademente, qualquer uma das faixas deste álbum são um festival de head-banging de primeiríssima qualidade, mas no contexto do trabalho inteiro, é evidente como algumas ideias foram recicladas uma ou mais vezes ao decorrer do play, eliminando a eficiência das mesmas.

A produção também contribui para essa sensação. Longe de ser ruim, porém a influência de trabalhos modernos, que focam bastante no peso e no grave, afoga os riffs de notas mais altas. Isso é uma faca de dois gumes, pois os momentos de peso ficam ainda mais volumosos e impactantes, enquanto que mesmo quando as escalas sobem, a variação não é tão perceptível, dando a impressão de que os riffs nunca saem das casas mais graves da guitarra.

Inegável porém é o fato deste álbum ter uma bela coleção de refrões. “Never Forget, Never Repeat”, “No Mercy” e “Fear, Violence and Massacre” são todas ótimos exemplos de refrões poderosos, marcantes e provavelmente ótimos para serem gritados em união com a platéia quando tocados ao vivo.

O álbum fecha com a pedrada “Cultura do Estupro”, cantada em português e com a participação especial de João Gordo do lendário Ratos de Porão. Aqui o Crossover e o Death/Thrash se chocam, criando a pancadaria cheia de ódio que era de se esperar de uma mistura assim. A escolha dos riffs aqui é perfeita: rápidos, cortantes e tão gloriosamente agressivos, vendendo a raiva da música de forma extremamente eficiente, e assim concluindo o álbum num tom positivo.

Antes de concluir minhas considerações, quero falar da performance da banda como um todo. Primeiramente, Luanna Dametto, a nova baterista, simplesmente destrói nas baquetas. É quase ignorância. Na velocidade, na técnica, no groove, tudo…Suas linhas de percussão energéticos contribuem tanto quanto a guitarra para transmitir um som raivoso, o que é raro. As linhas de guitarra de Prika Amaral são o que é de se esperar dela: Riffs na velocidade da luz, solos caóticos (porém não tão marcantes, o que é uma pena) e uma total falta de consideração pelo pescoço dos ouvintes. Mas o outro destaque do álbum é a Fernanda Lira, que além de entregar um trabalho competente no baixo, ela realiza aqui a melhor performance vocal da sua carreira. Seus vocais estão mais agressivos e dinâmicos do que nunca, incorporando muitas variações de estilo. Momentos em guturais mais graves, outros de gritos mais “chiados”, e até vocais mais sujos, estilo Grindcore. Além disso, na faixa bônus, a vemos cantando com um vocal mais limpo, acompanhando o estilo da faixa, que puxa mais para o Metal Tradicional. A Nervosa já havia feito algo parecido no disco anterior, na faixa-bônus Wayfarer, onde há uma mudança drástica no estilo para um blues/rock/soul groovadíssimo, e uma excelente performance vocal da Fernanda, mostrando que ela tinha muito mais do que gritos em seu repertório, e dessa vez ela reafirma esta noção, fazendo um vocal à la Halford e afins, completo com agudos e um drive matador.

Finalmente, minha conclusão: Este último álbum do Nervosa é uma evolução natural de seus trabalhos anteriores. Mais coeso e maduro que os dois primeiros álbuns, porém ainda pecando no conceito dinamismo. Um pouco mais de exploração de ideias diferentes seria bem vindo, mas ainda assim é um bom álbum, recomendável para qualquer fã de Death/Thrash Metal. Momentos para moshar e banguear é o que não faltam aqui.

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