Jataí é uma cidade interiorana do estado de Goiás, aproximadamente a uns 320 quilômetros de distância da capital Goiânia e próxima a divisa com o estado de Mato Grosso do Sul, com cerca de 130 mil habitantes. A cidade teve muito a festejar nesse último sábado (07/10) após receber mais uma edição do “Milk Fest II”.

Para muitos um fato que não seria racional e com poucas expectativas, afinal, criar um festival no interior de Goiás dedicado e promovendo o Metal Nacional, muitos podem ter torcido o nariz e acreditarem que o tiro iria sair pela culatra, mero engano desses que acham que pequenos municípios não são capazes de criarem um conceito ramificando um estilo e entretendo um público especifico. A casa estava com um bom público e atraiu muitos headbangers da região incluindo muitos fãs da cidade de Rio Verde que estiveram em peso no festival.

Fotos BY: Eddie Thrash & Mariane Rios

A própria cidade de Jataí provou que existe sim um público forte e dedicado ao Metal, a realização do evento foi impecável, não houve erros, apenas acertos, desde a montagem do cast de bandas envolvidas, aparelhagem de som, espaço, alimentação, custo, localização e estrutura, absolutamente tudo ficou em um nível de igual para igual ou até mesmo superior há muitos eventos que são realizados em grandes capitais.

Realizado em uma espécie de fazenda, um ambiente arejado e bem espaçoso, já se apresentava sinais que a noite seria incrível, um dos principais pontos era a variedade de bebidas e alimentos que o público tinha, pizza, espetinho, crepes, sanduíche e até estúdio de tatuagem. Agora se tem uma coisa que os organizadores do “Milk Fest II” acertaram em cheio, foi na contratação do equipamento de som da “Espaço Musical” simplesmente o maior e melhor equipamento de som do estado e comandado por músicos que entendem de Metal, deixando todo o som bem equalizado e com nitidez impecável.

Democraticamente a organização do festival determinou que todas as bandas se apresentariam durante o prazo de 1h30min, algo pouco visto nos tempos de hoje, pois sempre a atração principal que tem o maior tempo de apresentação e no Milk Fest II o tempo foi igual para todos.

Fotos BY: Eddie Thrash & Mariane Rios

Não priorizando apenas um estilo, mas sim o Rock/Metal como um todo, o festival abrangeu bandas de estilos diversos, mas com uma proposta única, fazer um som pesado, com isso em mente as atrações foram Marcus Appel e Juliano, Triozera Blues Band e Rodolfo Harmonica, The Galo Power, Steel Soldier e Torture Squad.

Sobre os shows, a dupla Marcus Appel e Juliano executaram músicas covers de grandes nomes dos anos 90, incluindo músicas de bandas grunge e hard rock, o duo que toca apenas com Violão, Voz e Cajon sentiu um pouco a pressão de estar em um palco com uma estrutura de alto nível, algo que não prejudicou a apresentação, mas ficou nítido a timidez dos músicos frente há qualidade do equipamento e com isso criou um certo atraso no show devido à dificuldade de entender o retorno recebido.

Na sequência o bom grupo de Blues/Classic Rock, Triozera Blues Band e Rodolfo Harmônica, comandaram um show muito divertido com vários clássicos que revisitavam estilos nostálgicos. O quarteto é muito bem entrosado e tem um gaitista excelente que nunca perde o folego. Espero que um dia esses caras gravem um álbum com músicas autorais, seriam gigantes se conseguirem converter a energia do cover para suas próprias músicas.

A banda de Goiânia, The Galo Power, deu um show à parte com energia e muita técnica, mesclando hard Rock, progressivo e rock psicodélico, a banda foi impecável do início ao fim, o trio é forte e muito coeso, sabe envolver o público e não deixar ninguém parado. Essa é uma banda que tem tradição no estado e tudo isso é mais que merecido, pois os caras são excelentes músicos e comprovam que a música é ainda melhor quando escutada ao vivo.

Fotos BY: Eddie Thrash & Mariane Rios

A banda de um dos organizadores do festival, Steel Soldier, fez um show épico e histórico na carreira, primeiro que esse era o evento que o grupo fazia após a ingressão do vocalista Jordan Faria, e ficou claro o quanto o músico fez bem a banda, quanto a banda ao músico, Jordan trouxe uma nova característica as músicas da Steel e mesmo tocando apenas três músicas autorais, a qualidade foi incrível. Ainda em fase de ensaios e se entrosando, a banda tocou em sua maioria músicas clássicas do Metal Internacional, Iron Maiden, Megadeth, Sepultura, Judas Priest, Dio foram alguns dos nomes revisitados pelo grupo. Um grande momento foi quando o baterista do Torture Squad, Amilcar Christófaro se juntou ao grupo para tocar Master of Puppets do Metallica. Todos foram ao delírio. O único ponto que eu gostaria de fazer uma pequena crítica ao grupo é que no próximo ano espero ver a Steel com um set somente de músicas autorais.

Fotos BY: Eddie Thrash & Mariane Rios

Já se passavam da meia noite quando os monstros do Death Metal brasileiro, Torture Squad, subiram ao palco e chega até ser difícil pensar em palavras para descrever a qualidade musical do time formado por May Puertas (vocal), Rene Simionato (Guitarra), Castor (Baixo) e Amilcar Christófaro (Bateria), não à toa que a banda perdura por quase 25 anos na estrada com sete álbuns na carreira. O Show foi perfeito do início ao fim, calorosamente recepcionados pelo público, a banda sobe ao palco e de imediato manda uma trica poderosa do novo álbum “Far Beyond Existence”, Don’t Cross, No Fate, uma das melhores músicas da carreira do grupo e Blood Sacrifice, levantaram o público do chão e o mosh comeu solto, se alguém ainda tinha dúvidas sobre a importância da May Puertas e Rene Simionato na banda, esse alguém precisa com urgência ver um show deles juntos, tamanha a qualidade e força que ambos trouxeram para a banda. Após uma trinca mortal, chegou a vez da faixa Área 51 abrir o momento dos clássicos da banda, seguido de “Man Behind The Mask (Hellbound), World of Misery (Pandemonium), Raise Your Honor (AEquilibrium) o grupo mostrou que essa nova formação soa perfeita tanto com as músicas novas quanto com as antigas, todos ficaram insanas e a execução ainda mais pesadas que as gravações originais, uma ressalva e digna de respeito foi antes de tocarem a música Raise Your Honor no qual a banda pediu ao público uma salva de palmas ao amigo Léo Alves que comandava a Kaiowas Filmes e veio a falecer na última sexta. Dando continuidade, mais uma música nova é apresentada aos fãs, a faixa “Cursed By Disease” mostrou mais uma vez que a vocalista May tem o público nas mãos, tanto pelo seu talento quanto por sua performance que é simplesmente fascinante ao se ver seu domínio sobre o público, bangueando e não deixando com que ninguém ficasse parado. Horror And Torture (Pandemonium) vem em seguida com todas suas variações e uma cozinha monstruosa, provando que o tempo fez bem aos músicos Amilcar e Castor que continuam vibrantes e são uma das duplas mais importantes do Metal nacional, como é bom ver esses caras ao vivo, como eles soam homogêneos e são entrosados. A última música do novo álbum tocada no show foi “Hero For The Ages” que possui um riff monstruoso de Rene Simionato e com certeza aqui tivemos um dos pontos altos do show, o público foi a loucura com o mosh criado. O set final ficou por conta das músicas “Chaos Corporation (Hellbound) ” indispensável em qualquer show do grupo, “Return of Evil” música que apresentou os músicos May Puertas e Rene Simionato na banda e que em minha opinião já é um clássico absoluto na carreira do grupo, “Return” era considerada a última do show, mas devido ao público o Torture Squad tocou mais uma, a faixa “Unholly Speel” fechou a noite com chave de ouro e provou que o maior nome do Death Metal nacional é sem dúvidas o Torture Squad. Um show que ficara para toda a história da cidade de jataí. Após a apresentação todos foram muito solícitos e atenciosos com os fãs, concedendo autógrafos, tirando fotos e conversando por horas com quem se aproximasse, demonstrando respeito e humildade, coisa que muitas bandas novas atualmente não possuem, Torture Squad mesmo com 25 anos de carreira continua respeitando o público em toda e qualquer apresentação, não é à toa que ressalvo que essa é uma das mais importantes bandas do país.

Parabenizo aos organizadores Gabriel Campos e Marcelo Peres por toda recepção e atenção dadas a imprensa, público e bandas, vocês estão fomentando algo necessário no país, esses dois fizeram a diferença e começam a criar um forte nome no estado que tem tudo para crescer ainda mais e se tornar um dos maiores.

E que venha o Milk Fest III já estamos no aguardo.