Ninguém espera, com muito afinco, os discos novos de bandas já veteranas e consagradas. Existe expectativa, é claro, mas ela é diluída pela disponibilidade de uma discografia carregada de clássicos e que, na maioria dos casos, contém os anos mais profícuos dos artistas.
Quando se trata de grupos iniciantes é um pouco diferente. Bandas que lançam grandes álbuns em suas estreias deixam os fãs com mais água na boca, querendo ter logo acesso a mais material, mais novidades da mesma fonte. Evidente que, para gerar esse tipo de ansiedade, o artista em questão tem que surgir com uma assinatura própria, algo que o distingua de alguma maneira da avalanche de outros novos grupos que aparecem todos os dias.
Não há dúvida de que “Kill´em´All” foi um desses casos. Um lançamento bombástico que demandou uma espera por mais e mais e mais daquele grupo chamado Metallica. Foi assim que, exatamente um ano e dois dias depois, a sequência chegou para satisfazer a ânsia. “Ride the Lightning”, um disco que ignorou a tal da síndrome do segundo álbum, melhorando e ampliando tudo o que foi anunciado na estreia. Prescindir da contribuição de um compositor como Dave Mustaine não seria fácil, mas a banda superou com tranquilidade essa ausência, embora o guitarrista ainda tenha sido creditado como co-autor em duas músicas.
“Ride the Lightning” é um passo além do que foi apresentado no seu antecessor. É mais variado, mais trabalhado. Não é um disco em que tudo se destaca, mas os seus poucos momentos, aquém da qualidade do restante, são tão pontuais que restam desconsiderados perante o resultado geral. Tudo é tão grandioso que o logo da banda, em formato de bloco, parece ter sido desenvolvido para sinalizar o estágio musical em que eles estavam. O começo melódico de “Fight Fire With Fire” logo desaparece sob o riff da guitarra de James Hetfield. Thrash Metal absoluto, sem um minuto para respirar. A letra falando de hecatombe nuclear, junto com outras que falam de cadeiras elétricas, pragas egípcias e quetais apresentam-se mais próximas do que se fazia no período, distanciando-se das temáticas que viriam a ser abordadas posteriormente por Hetfield, com o foco voltado para questões e traumas pessoais.
Faixas como “Creeping Death”, “Fade to Black”, “For Whom the Bell Tolls”, “Ride the Lightning” e “The Call of Ktulu” – provavelmente a melhor música já feita em homenagem a H.P. Lovecraft – que foram concebidas sob a égide de um mosaico de influências na bagagem dos integrantes, hoje pertencem ao mesmo território mítico que ocupam as canções que lhes forneceram inspiração. O único parâmetro que essas faixas possuem é o que as coloca no ponto de interseção entre o que de melhor já foi feito em termos de Heavy Metal e a gênese de uma nova tendência. Ao lado da já mencionada “Fight Fire with Fire”, a música “Trapped Under Ice” era a que melhor refletia o novo estilo, mas talvez por ter sido relegada pela banda através dos anos, não é tão referenciada quanto deveria. Quanto a “Escape”, pode se dizer que, apesar de estar longe de ser uma música ruim, é a mais comum do disco. Ela cresceria sobremaneira se fosse inserta dentro do trabalho de uma banda menor, mas falta-lhe fôlego para equiparar-se plenamente aos padrões do repertório de “Ride the Lightning”.
Com os trabalhos de composição atualmente polarizados na dupla Hetfield/Ulrich, o Metallica ainda entrega bons resultados, mas não há motivos para crer que tornará a replicar a química que existia quando Hammett participava mais do processo criativo, quando havia Cliff Burton para evitar digressões desnecessárias e o fator Mustaine ainda impunha a sua assinatura. Alguns eventos só podem ocorrer uma vez, na vida ou na carreira, e é por isso que se tornam especiais. O segundo disco do Metallica personifica um desses eventos.
Formação
James Hetfield – vocal, guitarra
Kirk Hammett – guitarra
Cliff Burton – baixo
Lars Ulrich – bateria
Músicas
- Fight Fire with Fire
- Ride the Lightning
- For Whom the Bell Tolls
- Fade to Black
- Trapped Under Ice
- Escape
- Creeping Death
- The Call of Ktulu