Quando as lojas especializadas eram inexistentes e a informação era exígua, você poderia se deparar com algumas surpresas no seu dia-a-dia. Durante uma visita aquela loja tradicional do centro da cidade, onde discos de Rock dividiam espaço com artistas populares, surgia, exposto no alto, um disco do qual você nunca tinha ouvido falar. Sinceramente, a minha primeira impressão foi de que seria alguma espécie de coletânea, mas eu precisava me certificar. Olho na contracapa e, sim, é uma banda. Metal Church??? Ok, vamos pedir para o lojista passar um pouco das músicas para vermos do que se trata.
Lado A selecionado e a agulha vai caindo em trechos aleatórios. Primeira música, segunda, terceira e é o suficiente! Quanto dinheiro tem na minha carteira? Ainda sobra para o ônibus? Separe, meu amigo, pois eu vou levar!
Não são tantas as oportunidades em que o dinheiro pode ser tão bem aplicado na aquisição de música pesada. Cada centavo valendo por cada segundo. Ao adquirir esse disco, você se deparava com um dos melhores álbuns de Metal de todos os tempos, um dos melhores discos de estreia de todos os tempos, uma obra irretocável que já nascia clássica e onde a banda atirava em várias direções (músicas rápidas, cadenciadas, baladas pesadas, instrumentais) mas acertava todos os alvos.
Um trabalho com tantos predicados deveria fazer com que os artistas responsáveis deslanchassem definitivamente em suas carreiras, mas nem sempre é o que acontece. O Metal Church surgiu arrebatador, prosseguiu, na sequência, com o lançamento de outro álbum fantástico, mas depois foi perdendo evidência, embora continuasse fazendo trabalhos de qualidade. Mudanças de vocalista tiveram um pouco a ver com esse engasgo no crescimento da banda, mas isso não é assunto para agora.
O disco “Metal Church” é o puro reflexo do ano mais emblemático do Heavy Metal e é um trabalho incrivelmente maduro, incrivelmente bem produzido, mal se assemelhando a um disco de estreia. A sequência de faixas beira à perfeição e poderia ser ainda melhor se, no lugar do cover de “Highway Star”, do Deep Purple, estivessem mais faixas autorais. Entendam, o cover é excelente, mas o material que o Metal Church estava apresentando era tão soberbo que valeria mais a pena ter ocupado o espaço com músicas próprias que fossem do mesmo naipe. Uma boa opção teria sido a inserção da canção “The Brave”, que saiu depois na coletânea “Heavy Metal Years”, para citar apenas um exemplo.
“Beyond the Black” e “Metal Church”, as duas primeiras músicas, não são essencialmente rápidas, em contrariedade a tendência da época, apesar de terem seus momentos mais acelerados. Velocidade mesmo só vai surgir no disco a partir da instrumental “Merciless Onslaught”, que é logo seguida pela semi-balada “Gods of Wrath” e pela impecável sequência de canções “Hitman”, “In The Blood”, “My Favorite Nightmare” e “Battalions”. Como efeito imediato, o disco entrou na lista de preferidos de quase todo mundo que viveu a época e David Wayne, o falecido vocalista, é até hoje uma de minhas vozes preferidas do estilo, possuindo aquele tipo de performance – agressiva, melódica e rasgada – que eu espero de um vocalista de Heavy Metal.
O legítimo Metal americano dos anos oitenta, com tudo que possuia de melhor, está representado aqui. Trafegando entre a tradicionalidade e uma pegada que resvala no Thrash, mas sem deixar de ser original e com trabalhos de guitarra e bateria bem marcantes e variados. Os anos passam e fazem com que alguns discos fiquem gradualmente menos interessantes, mas outros parecem manter-se permanentemente fortes e, esse disco, pode ser definido assim.
Formação
David Wayne – vocal
Kurdt Vanderhoof – guitarra
Craig Wells – guitarra
Duke Erickson – baixo
Kirk Arrington – bateria
Músicas
- Beyond the Black
- Metal Church
- Merciless Onslaught
- Gods of Wrath
- Hitman
- In the Blood
- (My Favorite) Nightmare
- Battalions
- Highway Star
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10/10