Existem detalhes na vida que você nunca para pra pensar… Metal/Rock Industrial vindo de Portugal, quem diria! Ora pois, o Mercic foi criado em 2015 pelo vocalista e multi instrumentista Carlos Maldito. De lá pra cá, foram lançados cinco álbuns, sendo o mais recente ‘5’, que saiu em maio deste ano.
Naturalmente, quando se pensa no estilo, batidas energéticas e efeitos sintetizados logo vêm à mente. Mas não exatamente aqui. São dez composições onde o senhor Maldito se foca muito mais na atmosfera e melodia, do que na agressividade e peso. Como sempre que ouço algo novo, automaticamente me lembro de algo que já ouvi anteriormente, posso dizer que o Mercic está mais na cola de algumas composições do Oomph! do que de um Emigrate, por exemplo (exemplo de cunho estritamente pessoal, diga-se).
A audição foi iniciada com bastante curiosidade, e “Fri(end)” claramente demonstrou como o álbum se seguiria. Apesar da sonoridade ser adornada por teclados e samples, é preciso mencionar a criatividade na hora de compor, não se restringindo apenas ao citado estilo, mas buscando influências em musicalidades distintas entre si.
Em “Reborn” as coisas se mantêm cadenciadas, arrastadas e com momentos sombrios (isso se percebe ao longo das outras faixas também). Dedilhados de cordas trazem um diferencial, já nos momentos finais, com mais cara de Ambient/Avantgard. “Reset” segue bem variada, indo de riffs de guitarra dispersos e um vocal com dobras, que conduzem à notas de piano e sussurros, para em seguida ouvirmos um baixo mais destacado e até vocais com algum drive. Novamente piano e orquestrações dão um clima sombrio, com direito até a um tímido solo de guitarra. Enquanto alguns músicos se agarram a uma única ideia, outros vão além.
“The Moorings” se apóia quase exclusivamente nos efeitos e no ritmo lento, maçante, dando a impressão que a faixa se arrasta dolorosamente por incontáveis minutos, mas que ainda reserva interessantes ecos de Fado (estilo musical de Portugal). Felizmente, já com um discreto up no andamento, “There’s no Winning Without Losing Something” tem algumas partes que me remeteram bem de longe aos alemães do Gothminister, e claro, melodias muito boas.
“The Arrival of the Signs” apostou naquilo que eu realmente gostaria de ouvir: a união das línguas portuguesa e inglesa! A sonoridade, por sua vez, se difere um pouco das demais faixas, com ares por demais Progressivos! Ah, não poderia deixar de destacar a letra em português, de tom poético: “Procuro o “eu” nas folhas de rascunho do meu passado / Sinto nostalgias que não quero reviver mas não paro de relembrar / Os tempos passam velozes sem que me sinta cansado / Viro as costas ao ódio e finalmente aprendo a amar”.

Certamente, piano ou teclado são instrumentos que venho apreciando bastante há um bom tempo, e me deparar com suas belas notas é sempre agradável. É o que acontece nos primeiros instantes de “Infinite Days Dipped in Doubt”. Mas não se engane, pois a suavidade dura pouco, pois é a faixa que mais representa o lado Metal no álbum, com passagens aceleradas e vocais insanos, trazendo aquela mudança desejavelmente brusca! Elementos que poderiam ter sido adicionados, ainda que discretamente, em outros momentos do álbum – para reforçar a diversidade.
O “mal” é deixado novamente para trás, e “Bound to You” parece ser um Gothic trazido diretamente dos anos 90, com vocal feminino de Sandra Felix. A breve “A Mesma Pedra que se Incide Sobre o Passado, Constrói o Futuro” não deixa o clima obscuro se esvair, porém retorna ao Industrial. “The Time is Now” foi a escolhida para o encerramento, que não menos curiosa que as demais, deu um jeito de misturar Blues, Fado e alguns efeitos eletrônicos em seus suspiros finais.
Um trabalho interessante, curioso e que mostra que a criatividade musical ainda existe nesses tempos conturbados da atualidade. Confira você também!
Faixas:
01. Fri(end)
02. Reborn
03. Reset
04. The Moorings
05. There’s no Winning Without Losing Something
06. The Arrival of the Signs
07. Infinite Days Dipped in Doubt
08. Bound to You
09. A Mesma Pedra que se Incide Sobre o Passado, Constrói o Futuro
10. The Time is Now.