Resenha: Max Cavalera – My Bloody Roots

Algumas vezes, nós avaliamos um livro não pela capa e nem pelo seu conteúdo, mas pela sua aparência física, pela quantidade de páginas. Confesso que, ao me deparar com esta autobiografia de Max Cavalera na prateleira da livraria, não nutri um ânimo imediato pela sua aquisição. O volume, em si, me pareceu meio minguado e, em se tratando de leitura, eu quero sempre mais. Mais detalhes, mais informações, mais páginas, enfim.

Ledo engano, pois, ao contrário de outras obras, que correspondem a essas características, este aqui funciona extremamente bem. Mais páginas e informações nem sempre lhe dão o retorno desejado. Ocorre com frequência de haver um excesso de detalhes que vão para além do necessário e não acrescentam nada realmente relevante. Se os detalhes impulsionam a narrativa para frente, ótimo, mas se apenas truncam o texto, acontece da leitura tornar-se enfadonha, repetitiva.

Isso, naturalmente, varia de acordo com o gosto do leitor. Eu prefiro a mescla de objetividade com informações e “My Bloody Roots” oferece isso. Em pouco tempo de fruição, você se dá conta de que foi fisgado, de que as páginas fluem e que fica mais e mais difícil pausar antes de virar cada uma delas.

Como sempre, em obras dessa natureza, deve-se prestar os devidos créditos ao co-autor. Joel McIver não é nenhum novato nessa área, pois assina a autoria de livros sobre o Motorhead, Black Sabbath, Cliff Burton, Slayer e Rage Againt The Machine, entre outros. Sua função de traduzir a voz de Max Cavalera para o papel resulta em um grande depoimento onde a característica que mais aflora é a sinceridade. Concorde você, ou não, com o que Max diz, não há muita margem de interpretação para divergir de que aquelas palavras vem realmente de seu coração. Aquela é a visão do biografado sobre a vida, a família, a música e a carreira.

Repleto de um acervo robusto de fotos, o livro passa pelas lembranças de Max desde muito cedo, abordando a relação com o pai, as questões de espiritualidade herdadas da mãe e as dificuldades vividas, decorrentes da perda de seu genitor. O abalo sofrido afetou profundamente a juventude de Max e de seu irmão Igor, que encontraram na música a válvula de escape. A partir desse ponto, a trajetória do Sepultura é delineada, de uma forma muito humana que, de certa forma, desromantiza os exageros contidos por boa parte da imprensa nacional do período correspondente a sua criação. As relações de Max e do Sepultura com outras bandas e músicos é narrada de forma a inferir muita afinidade em alguns casos, mas também muito distanciamento profissional em outros.

O que transparece constante é a determinação da banda em prosseguir por cima das dificuldades mais amplas que qualquer formação de música extrema vivenciou. Nesse ponto, pode ser entendido também que a gênese do Soulfly e seu estabelecimento como um nome de relevância no cenário foi mais uma das provações – se não a maior – que Max vivenciou e superou, considerando o somatório de tudo que lhe antecedeu. A própria ruptura do Sepultura já parece ter sido plenamente absorvida, conforme pode se perceber de suas declarações a respeito do tema, mas o mesmo não se pode dizer do relacionamento com o baixista Paulo Jr., que sofre a maior parte das críticas proferidas entre as páginas.

Podemos acreditar que o músico ainda tem um bom caminho pela frente e que muitas histórias ainda surgirão para serem contadas, mas isso não nos impede de desfrutar da estrada até agora. Max é uma das principais personificações do Metal brasileiro fora de nosso território e as raízes que ele canta são as mesmas que cultivamos, fazendo da leitura de “My Bloody Roots” algo recomendado.

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