Em tempos recentes, parece que virou moda falar mal do Manowar. A banda meio que se tornou o exemplo prioritário para embasar as críticas de visual e/ou postura dentro do Heavy Metal. Admitamos que eles deram bastante pano para essa manga, mas… é isso? É somente isso o legado que podemos colher do que o Manowar nos apresentou?
Não, eu não creio que seja. O Manowar cometeu exageros na escolha de seus trajes de palco? É claro que sim. As entrevistas de Joey DeMaio têm surgido carregadas de frases de efeito? É claro que sim! Mas, por outro lado, o Manowar gravou pelo menos quatro dos melhores discos de Heavy Metal de todos os tempos? Sim. Eric Adams é, de longe, uma das melhores vozes do estilo? Indubitavelmente, sim!
Manowar é um grupo lendário, autor de clássicos, e, como sempre ocorre com os mais relevantes artistas, tornou-se uma vitrine imensa para atrair as pedradas que recebe. Seus quatro primeiros discos são alguns dos álbuns que eu mais escutei na vida e, para mim, era aquilo que o grupo representava: uma experiência em áudio. Sem contato visual, sem acesso às declarações empoladas. Havia apenas a interação entre a música do artista e o ouvinte. E é por isso que ainda cultuo a banda, pois, fora a música, o resto me é indiferente.
A obra do Manowar foi ascendente até este “Sign Of The Hammer”, seu ápice. Após, veio uma série de discos bons, muito bons, mas nenhum tão absoluto quanto o quarteto inicial. Entre 1982 e 1984, período em que os álbuns vieram ao mundo, eu meio que fui submetido a sua audição de forma concomitante e “Sign Of The Hammer” sempre foi meu preferido. Só pela abertura com “All Men Play On Ten”, provavelmente minha canção favorita do catálogo da banda, eu já me sentiria obrigado a destacar esse disco. Essa primeira faixa traz, em seu título, um sutil jogo de palavras, onde a expressão “tocar no dez” tanto pode ser referir ao volume máximo das caixas de som quanto pode ser uma referência à gravadora que lançou o disco, Ten Records.
“Animals”, “Thor (The Powerhead)” e “Sign Of The Hammer” são músicas que abrilhantam uma carreira marcada pela inspiração e pelo bom gosto na concepção de sua obra. Com exceção de “The Oath”, feita em parceria com o guitarrista Ross The Boss, o resto do álbum é de autoria exclusiva de DeMaio. Em “The Oath” estão bem presentes duas das características do baixista, que seriam, primeiro, a palhetada e o timbre agudo no instrumento, e, segundo, sua levada, que, por sinal, prenuncia muito do que o Manowar viria a fazer em demasia no futuro, com aquela marcação rápida em pedal. A faixa seguinte, a instrumental “Thunderpick”, revela o outro lado do baixista e nos recorda de toda sua habilidade com as quatro cordas.
As duas faixas mais longas do disco são também as mais especiais. “Guyana (Cult of The Damned)” é uma música de clima dramático, um raro momento em que o Manowar deixa de lado as histórias de espadas (e de martelos) para retratar um fato da vida real: o suicídio coletivo ocorrido em Jonestown, na Guiana, em 1978, quando mais de 900 pessoas morreram sob a liderança do Reverendo Jim Jones. Esse tema sombrio é contrabalançado com a beleza e o minimalismo etéreo de “Mountains” e eu não tenho palavras para ficar multiplicando na tentativa de dizer o quanto essa música é magnífica. Você praticamente poderá sentir o ar rarefeito do cume das montanhas em uma canção cujo arranjo causou a perfeita combinação entre letra e melodia. “Mountains”, caso fosse concebida por uma banda atual, iria surgir com orquestrações, corais bombásticos e diversos outros detalhes que iriam poluir sua emocionante simplicidade.
Seja qual for sua interpretação a respeito do que é a banda Manowar, eu não irei contestá-la. É a sua interpretação e é válida. Tanto quanto creio que a minha seja. Eu não me importo com as piadas ou críticas, pois compreendo suas origens, mas isso não afeta a música e seu efeito sobre mim. “Sign Of The Hammer” é um de meus dez discos preferidos de Heavy Metal e tem ocupado essa posição desde que o escutei pela primeira vez, em 1984. Se até hoje não foi substituído, isso deve ter algum significado. É o que me basta.
Formação:
Eric Adams (vocal);
Ross The Boss (guitarra);
Joey DeMaio (baixo);
Scott Columbus (R.I.P. 2011) (bateria).
Faixas:
01 – All Men Play on Ten
02 – Animals
03 – Thor (The Powerhead)
04 – Mountains
05 – Sign of the Hammer
06 – The Oath
07 – Thunderpick (instrumental)
08 – Guyana (Cult of the Damned)