O Judas Priest está intrinseco na maioria das resenhas que eu escrevo, sendo mencionado ou não. A influência da banda inglesa é algo incomensurável e encontrar vestígios de seu DNA na musicalidade alheia é sempre um prazer.
Esse, é claro, surge apenas quando as influências são reconhecidas como influências. A cópia é algo que eu não consigo digerir adequadamente, mas a influência é sempre bem vinda e pode transparecer em diversos graus de escala. Algumas vezes, bem discreta; outras, escancaradamente.
A música da banda norte americana Malice, em seu segundo álbum, “License to Kill” não está no topo da tal escala, mas chega perto. É uma influência saudável, que se faz notória em paralelo com as características próprias da banda. Saber que esse disco foi disponibilizado em vinil no Brasil, na época de seu lançamento, pode parecer meio surpreendente hoje, mas era a época de explosão do Metal – criativa e mercadológica – e as gravadoras faziam várias apostas. Nem todas passariam para o próximo nível e isso pode ser atribuído a uma infinidade de fatores, mas discos de alta excelência foram concebidos durante o período, atestando que se tratava de uma disputa aciradíssima, de acorde em acorde.
Tendo sido lançado três anos antes, o disco “Defenders of the Faith”, do Judas Priest, foi um grande sucesso nos Estados Unidos e o paradigma mais forte pelo qual o Malice orientou as suas composições em “License to Kill”. A primeira música, “Sinister Double” oferece uma rifferama contínua sobre a qual o vocalista James Neal pode liberar seus agudos à vontade. Em seguida, a faixa título desenvolve-se em um ritmo de midtempo, com bases precisas, enquanto “Against the Empire” traz reminiscências de velocidade do começo do Power Metal.
“Vigilante” oferece uma pausa para respirar, sendo uma canção compassada sem muito destaque no contexto geral do disco. O destaque vem em “Chain Gang Woman”, cujos backing vocals fazem com que se assemelhe a uma versão turbinada do Dokken. A dupla de guitarras atua de modo maravilhoso em todas as canções, com bases cativantes e solos curtos e melódicos. Nas músicas “Christine” e “Murder” a velocidade volta a ser a regra, mas velocidade aqui não deve ser entendida em um conceito “speed”, estando mais afeita ao incremento de ritmo típico da NWOBHM.
“Breathin´ Down Your Neck” tem um gancho quase irresistível graças a melodia de seu refrão e antecede o tom levemente épico da última faixa, “Circle of Fire”. Esse é um disco que pode ser ouvido diversas vezes em sequência que não cansará o ouvinte. Sendo da mesma estirpe de bandas como Armored Saint, Riot e Metal Church, faltou ao Malice a persistência para continuar no jogo por mais tempo, agregando conquistas aos poucos. Não é o caso de dizer que se tornariam gigantes, mas certamente teriam o seu merecido lugar ao sol na mesma medida dessas outras bandas mencionadas. Após o encerramento de atividades, apenas o guitarrista Jay Reynolds perseverou e mandou notícias esporádicas do front, chegando a gravar dois discos do Metal Church na primeira década dos anos 2000. Hoje, ele reformou o Malice, mas o momento é outro e a estratégia não parece ser a correta: regravar as canções antigas. Se voltou, que seja para provar sua relevância. Para nos mostrar o que nós, os fãs, perdemos com a ausência do Malice por todo esse tempo.