John McLaughlin já foi o guitarrista símbolo da profusão de notas aceleradas. Foi assim que Frank Zappa se referiu ao mesmo através de entrevista concedida para a revista Guitar Player americana nos seguintes termos: “Uma pessoa seria um idiota para não apreciar a técnica de McLaughlin. O cara certamente descobriu como operar uma guitarra como se fosse uma metralhadora. Mas nem sempre estou entusiasmado com as linhas que ouço ou com as formas como são usadas. Eu não acho que você possa culpá-lo, no entanto, pela quantidade de tempo e esforço que deve ter tomado para tocar um instrumento tão rápido. Eu acho que qualquer um que pode tocar tão rápido é simplesmente maravilhoso. E tenho certeza de que 90% da América adolescente concordaria, já que toda a tendência no negócio foi “mais rápido é melhor!”.
De fato, não obstante o caráter de crítica moderada da afirmação de Zappa, a performance de McLaughlin é admirável e, necessário dizer, não é algo focado unicamente na velocidade. Existe cadência e melodia quando a música necessita. O guitarrista lançou um álbum solo que chegou aos ouvidos de Miles Davis. Este, com a visão sempre focada no ponto mais além da estrada, convidou-o para sua banda e o resultado surgiu através dos álbuns “In A Silent Way” e do revolucionário “Bitches Brew”, que abriu as portas do mundo para o Jazz Fusion.
Se havia alguma dúvida sobre o apreço que Davis tinha por McLaughlin, a presença de uma música intitulada “John McLaughlin” eliminava qualquer reminiscência. Essa admiração, porém, não foi suficiente para segurar o guitarrista, pois ele logo partiu para a sua grande empreitada, a formação da Mahavishnu Orchestra.
Trazendo no bojo alguns de seus colegas da fase com Miles Davis, a banda bem que poderia se chamar “McLaughlin Orchestra”, pois Mahavishnu é o nome que foi dado ao guitarrista pelo guru Sri Chinmoy, durante os seus estudos de yoga e cultura oriental. Isso não significa que a musicalidade daquela região seria o direcionamento básico. Há toques orientais esparsos, mas o foco é realmente a prática do Fusion, unindo o Jazz com o Rock Progressivo. “Birds of Fire” é o segundo álbum da banda e minha perspectiva sobre ele foi alterada com a passagem do tempo. Na primeira vez que ouvi, achei que o lado Jazz tinha mais evidência; hoje, enxergo mais presença do Progressivo. Completamente instrumental, o disco abre com a maravilhosa faixa título, onde cada integrante parece desafiar os outros para a progressão da música, mantendo a tensão de sua melodia principal. “Miles Beyond” é a retribuição da gentileza recebida do mentor, com uma bela homenagem.
“Celestial Terrestrial Commuters” apresenta um diálogo de McLaughlin com o violino de Jerry Goodman, tendo o teclado de Jan Hammer como mediador, mas “One World” é o grande momento do álbum onde as improvisações jazzísticas se deleitam sobre a miscelânea de origens que perfazem “Um Mundo” dentro de uma banda, que consistia de um inglês, um americano, um panamenho, um tcheco e um irlandês, cada um tendo o seu momento de brilho dentro da faixa.
As viagens prosseguem em “Open Country Joy”, cuja parte final remete ao Blues e à música regional americana, e em “Sanctuary” que traz as influências orientais, respondendo pelos momentos mais melódicos, junto com “Thousand Island Park” e com a harmonia em crescendo de “Hope”. Essa é uma ideia de arranjo que torna a surgir no final do disco, na faixa “Resolution” e assim o álbum se conclui. “Birds Of Fire” representa o melhor dos propósitos do Rock Progressivo, no sentido de apropriar-se de tendências estabelecidas e conduzi-las para outros caminhos. A banda durou pouco tempo, mas não precisaria prolongar-se, pois, cumprido o seu objetivo de existência, seus integrantes partiram para outras missões, onde continuariam criando novas revoluções.
Formação
John McLaughlin – guitarra
Rick Laird – baixo
Billy Cobham – bateria
Jan Hammer – teclado
Jerry Goodman – violino
Músicas
01.Birds of Fire
02.Miles Beyond (Miles Davis)
03.Celestial Terrestrial Commuters
04.Sapphire Bullets of Pure Love
05.Thousand Island Park
06.Hope
07.One Word
08.Sanctuary
09.Open Country Joy
10.Resolution