Resenha: Macumbazilla – …at a Crossroads (2021)

A vida possui um ritmo cuja pulsação não é, necessariamente, igual à nossa. Podemos fazer planos, estabelecer metas, mas o imprevisto está sempre esperando na esquina e nos força a – sempre e cada vez mais – repensar, refazer, reerguer….

Essa breve analogia cabe para termos um rápido entendimento de como o Macumbazilla chegou até “…at a Crossroads”, seu primeiro álbum, lançado neste mês de novembro. A estreia remonta há alguns anos, quando seu auto-intitulado EP viu a luz do dia, em 2014. Três faixas muito bem recebidas, que apresentavam um Stoner Rock bastante pesado e dinâmico. Havia ali uma banda promissora, com muito a oferecer e que – como é de praxe – em pouco tempo deveria estar apresentando mais material!

Mas não foi bem o que aconteceu…

Em seu planejamento original, o primeiro álbum do Macumbazilla deveria ter sido concretizado em um intervalo de tempo mais abreviado após o EP, mas fatores diversos prejudicaram o andamento dos trabalhos e tudo teve que recomeçar do zero. Apenas em 2019, com o single “Hellhounds”, tivemos enfim algo novo da banda e, caso ali estivesse demonstrado o que viria pela frente, poderíamos, então, aferir que a espera seria válida. O trio compreendeu o ritmo que a vida estava lhe ditando, sincronizou seu passo e trabalhou sem pressa. Hoje, o resultado é esse excelente álbum chamado “…at a Crossroads”!

No single “Hellhounds”, era possível reconhecer a banda que gravou o EP de 2014, inclusive quando toques de harmônica nos remetem à “Blood, Beer and Broken Teeth”, um dos destaques da estreia, mas podíamos também identificar pistas de sua evolução musical, bem como do apurado trabalho de produção. O som do trio está soando mais cheio, mais orgânico.

Novos indícios da versatilidade do álbum ficariam transparentes em 2020, com o single “Morningstar”, último aceno antes do disco completo que temos agora em mãos. Aquilo que estava sendo prenunciado se concretizou, mas também demonstrou que havia muito mais para nosso desfrute. De imediato, a identificação de uma banda que carrega uma grande gama de influências, mas que estabelece um patamar onde estas influências são tão apenas o referencial a partir do qual uma identidade muito própria se impõe. Em “King Without a Crown”, do EP, a inspiração em Metallica soava bem evidente. Em “Colossus”, faixa de abertura do álbum, há também algo de Metallica, mas apenas como um dos temperos dentro do prato principal, de forma que, por vezes, você sequer percebe sua presença enquanto está absorto pela vibração da música, onde o peso despojado do trio prevalece.

A cerveja é, evidentemente, uma significativa fonte de inspiração para o Macumbazilla, pois novamente uma canção traz a palavra “beer” no título e acerta direto no alvo. “Leave My Beer Alone” tem aquele tipo de refrão que faz as pessoas acompanharem erguendo suas latas e brindando a esta celebração de Rock’n’Roll! As catorze faixas do disco fluem de maneira absolutamente natural, e, em momentos como “Ladies From Mars” e “Zombie”, vemos o Macumbazilla colocando em prática as lições aprendidas com Alice Cooper e Soundgarden, respectivamente.

“Feeling” é uma faixa bem forte e variada, daquelas que nos prende a atenção de uma forma especial, e o baixista Carlos “Piu” Schner aproveita para inserir algumas linhas bem criativas. O vocalista André Nisgoski, nessa mesma música, faz com que seu vocal alterne nuances dentro da harmonia, criando um sentido de variação que somatiza para esta ser um dos destaques do álbum.

“Seize The Day”, por outro lado, soa mais retilínea, mas oferece a oportunidade perfeita para que possamos comentar o quanto a produção está afinada. Tudo está bem alto, cristalino e definido, com a guitarra bem na cara e a base de baixo e bateria soando robusta e compacta. Em “Blondie Phantom” e “The Enemy”, o disco engata a marcha e dá uma acelerada, trazendo, na sequência, “Poor Devil”, onde o baterista Júlio Goss realiza umas quebradas precisas durante o entusiástico refrão.

“Dark Hordes” se posiciona ao lado de “Feeling” como as canções mais instigantes do álbum. Ela soa como uma espécie de Hardcore Metal, onde o refrão aponta para uma inclinação Doom. Merece ser ouvida várias vezes em sequência. A identidade do álbum mantém-se incólume durante “Slow” e “Lies” até, finalmente, concluir com “Morningstar”.

O single, cujo lançamento foi mencionado na parte inicial deste texto, ficou para o encerramento do tracklist e, portanto, deixamos para comentar aqui sobre o mesmo. “Morningstar” faz com que o álbum avance para pontos além dos que já alcançara em todas suas ótimas treze faixas anteriores. Iniciando de forma acústica, com violões e arranjos de cordas, a música segue em um crescendo e explode de maneira absolutamente emocionante, revelando sinceridade e sentimentos reais em sua letra sobre depressão e seus efeitos, como o suicídio. Imagine assistir a um filme, onde a última cena lhe mantenha ainda sentado por alguns instantes, refletindo sobre tudo o que ocorreu, antes de finalmente retomar o fôlego e levantar. Essa é a sensação que “Morningstar” transmite no final deste disco.

O tempo, aquele mesmo que fez com que o Macumbazilla aguardasse desde 2014, para ter seu álbum de estreia materializado, deverá, a partir deste momento, alterar a cadência de seus ponteiros e apressar seus passos, pois “…at a Crossroads” é daquele tipo de disco que amplia horizontes. A banda já possuía um nome respeitado no cenário, mas que agora deverá crescer, ir para mais além, com sua música intensa e envolvente podendo ser mais divulgada e conhecida. Se, até então, a vida ditou o ritmo, por ora ela terá que correr para acompanhar o futuro do Macumbazilla!

…at a Crossorads – Macumbazilla
Data de Lançamento: 15/11/2021

Tracklist:
01 Colossus
02 Leave My Beer Alone
03 Hellhounds
04 Ladies from Mars
05 Zombie
06 Feeling
07 Seize the Day
08 Blondie Phantom
09 The Enemy
10 Poor Devil
11 Dark Hordes
12 Slow
13 Lies
14 Morningstar

Formação:
André Nisgoski – vocal/guitarra
Carlos “Piu” Schner – baixo
Júlio Goss – bateria

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