Em 1968 surgiu na cidade inglesa de Birmingham uma banda chamada The Polka Tulk Blues Band, que pouco tempo depois podou seu nome para Polka Tolk e então passou a se chamar Earth. A ideia original do Polka Tulk era, como seu nome não esconde, tocar Blues; para tanto, sua formação contava com um saxofonista e um guitarrista especializado em slide para legitimar a essência do estilo surgido nos deltas norte-americanos. O baixista dessa banda era um aficionado por fimes de terror e horror. Surgiu dele a ideia de a banda trocar mais uma vez o seu nome, desta feita em definitivo. De Earth, eles passaram a se chamar Black Sabbath. Sim, eles eram Tony Iommi, Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Bill Ward. Obviamente o saxofonista e o outro guitarrista já não estavam mais no grupo.
Apesar de serem considerados os criadores do Heavy Metal e do Doom Metal, o som do Black Sabbath sempre teve a essência do Blues arraigada em suas composições. Ora mais proeminente (especialmente nos primeiros álbuns), ora mais tímido, o Blues sempre se fez presente na guitarrada de Tony Iommi e, consequentemente, em suas composições. Na condição de um dos grupos musicais mais influentes da história da Música, o Black Sabbath inspirou outros nomes que surgiram depois a fazer seu Heavy Metal lento e com doses sutis de Blues, naquilo que passou a ser conhecido a partir dos anos 80 como Doom Metal (refiro-me a pioneiras como Pentagram e Saint Vitus, por exemplo. Não ao Candlemass, que veio depois com uma nova interpretação de Doom Metal).
Até hoje o Black Sabbath inspira novos grupos. Um destes novos atos “sabbathicos” vem da Itália e atende pelo nome de Lunar Swamp, que tem como principal característica a forte influência de Blues em meio ao seu Doom Metal encardido de fuzz. O trio formado por Mark Wolf (vocais, gaita, efeitos), Machen (guitarras, contrabaixo) e S.M. Ghoul (bateria) estreou recentemente com o EP UnderMudBlues. Ao ouvir as cinco composições do trabalho, a sensação perpassada é exatamente a que o título do EP acusa: um Stoner/Doom sujo, lamacento e encardido, mas de muito bom gosto e criado com extrema perícia. Temperado com as já mencionadas influências de Blues.
Shamanic Owl, a faixa que dá início aos trabalhos, invoca o Black Sabbath raiz, aquele que ainda carregava consigo algo do Polka Tulk, com direito a wah-wah no riff principal e gaitas. No que se refere a sonoridade, aquilo que foi explanado no parágrafo anterior se aplica perfeitamente a esta composição. Só é uma pena que os vocais de Mark Wolf tenham ficado baixos e escondidos por trás da parede de guitarras e baixo, como se ele estivesse cantando de longe. A sujeira “fuzzada” chega esmagando tudo na terrível e maravilhosa The Crimson River, que vira um Blues do mal em sua seção meridiana com direito a mais gaita de Mark Wolf. Um odor psicodélico é sentido em Magic Circle At Twin Moons, em contraponto a Green Swamp, que é um Doomzão extremamente pesado, maldoso e sujo. O EP se encerra com a acústica e instrumental Creeping Snakes, que convida o ouvinte a passar uma noite numa floresta envolta em neblina a noite, com cheiro de mato molhado e ouvindo a sinfonia das rãs.
A produção em estúdio fez o favor de não limpar o que deveria ficar sujo. Depõe a favor desta iniciativa o fato de que a produção foi assumida pela própria banda nos estúdios Country House, na encantadora cidade de Catanzaro. A artista Damiana Merante teve a missão de traduzir plasticamente o som duro e pesado do Lunar Swamp, e a cumpriu com louvor, evocando através de seus traços uma arte belíssima e hipnotizante.
O Black Sabbath fez bem em manter os traços de Blues em meio ao seu Rock pesado que depois se tornou conhecido como Heavy Metal. Assim, o leque de possibilidades para se criar arranjos, harmonias e composições permaneceu bastante amplo. O Lunar Swamp aprendeu bem direitinho e agora são eles quem ensinam como fazer um Doom Metal sujo e pesado, mas ao mesmo tempo elegante e refinado. Tal qual um casebre aconchegante e farto dentro de uma floresta cortada por um rio lamacento. Nesta lama sim, vale a pena pular e se sujar todo!
Tracklist:
01. Shamanic Owl
02. The Crimson River
03. Magic Circle At Twins Moons
04. Green Swamp
05. Creeping Snakes
Line-up:
Mark Wolf – vocais, gaita, efeitos
Machen – guitarras, contrabaixo
S.M. Ghoul – bateria