Quando o Living Colour surgiu, dominou – com alguma ajuda da MTV – a música pop nos anos de transição da década de 80 para a de 90. A sua formula de Hard Rock com Black Music, sobrecarregada de cores nas roupas, nos clips, nas capas dos discos, caiu no gosto geral. Isso não teria se sustentado se não houvesse, também, um quarteto possuidor de imenso conhecimento musical e que sabia utilizá-lo sobre as suas influências.
Passados os seus primeiros anos, e após a única mudança de formação que vivenciaram, com a entrada do monstruoso baixista Doug Wimbish no lugar de Muzz Skillings, a banda continuou produzindo, fazendo porém trabalhos mais experimentais, mais herméticos. A perícia musical continuava presente, mas faltavam aqueles ganchos mais carismáticos que demonstraram no passado. É curioso, portanto, que um disco intitulado “Shade”, seja o responsável por trazer de volta a característica solar da música dessa banda.
“Freedom Of Expression (F.O.X.)”, a faixa de abertura, já denuncia a chegada de algo especial, com uma dinâmica que bebe muito da obra de Jimi Hendrix, através das mãos de um de seus mais efetivos discípulos, o guitarrista Vernon Reid. Mas ainda é muito cedo para fixar julgamentos e “Preachin’ Blues”, retirada do catálogo do ancestral bluesman Robert Johnson, aparece em versão modernizada e respeitosa para robustecer as primeiras impressões. Alguns deslizes poderão ainda se manifestar, como em “Come On”, que só não galga o posto de melhor música do disco por conta dos desnecessários efeitos colocados após o refrão. Não chegam a colocar a música a perder, mas caso tivessem sido limados, teriam deixado a canção bem mais arredondada.
Corey Glover parece ter colocado suas cordas vocais em algum tipo de estado de suspensão temporal, pois sua performance não foi afetada com o passer dos anos, como se vê em “Program” e no cover de “Who Shot Ya”, do rapper Notorious B.I.G. Em “Always Wrong” transparece a mais perfeita definição de como esse disco soa no geral, mesclando o Living Colour antigo com o atual e soando impecável nesse meio termo, pois é certo que, em nenhum momento, gostariamos que a banda fizesse um revival completo de seus primeiros anos. Isso seria, no mínimo, patético. O que gostariamos, e esse album nos entrega, é esse encontro loquaz entre o esfuziante e o técnico.
“Pattern In Time” traz um pouco mais de peso ao disco, cortesia do “quase brasileiro” Will Calhoun, que sempre que pode está absorvendo um pouco da arte percurssiva de nosso país para utilizar em sua música. “Who´s That” retorna para o jeito livingcolouriano de fazer Blues e antecede mais um dos grandes momentos do disco, com a faixa “Glass Teeth”. Já chegando ao final, a banda apresenta uma sequência de canções com resultado arrebatador: a primeira sendo a cover de “Inner City Blues”, de Marvin Gaye, um dos maiores cantores do século que findou, e a última sendo a faixa “Two Sides”, uma fantástica balada Hard Soul, emotiva e densa, saborosa como uma dose de whisky misturada com mel, e que evolui para um solo soberbo de Vernon, que permeará praticamente toda a sua duração, deixando o trabalho da base para as mãos competentes de Doug e Will. Seu final irá parecer um pouco súbito e você não perceberá que se passaram cinco curtíssimos minutos, bem como o fato de que o disco terminou. Mas ficará bem claro que o Living Colour retornou!
Que bom poder lhe reencontrar, Living Colour. Seja bem vindo de volta e sinta-se à vontade!
Formação
Corey Glover – vocal
Vernon Reid – guitarra
Doug Wimbish – baixo
Will Calhoun – bateria
Músicas
01.Freedom of Expression (F.O.X.)
02.Preachin’ Blues
03.Come On
04.Program
05.Who Shot Ya
06.Always Wrong
07.Blak Out
08.Pattern in Time
09.Who’s That
10.Glass Teeth
11.Invisible
12.Inner City Blues
13.Two Sides
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9/10