Resenha: L.D.50 – Mudvayne (2000)

Me lembro de conhecer essa banda através do vídeo de Dig que passava no canal Much Music da DirecTv em 2001.

Vendo aquelas figuras (que pareciam ser de outro planeta) fazendo um som tão violento quanto eles faziam, eu fiquei realmente embasbacado. E olha que para alguém que gosta de Mr. Bungle (projeto paralelo do Mike Patton do Faith No More) é difícil se assustar com algo bizarro em termos de metal.

Mas voltando 20 anos no tempo iremos relembrar que no “NU metal” haviam as bandas mais “normais” com estilo meio street/skate (como Korn e Deftones) e haviam também as que usavam e abusavam das maquiagens, máscaras, fantasias e performances mais teatrais nos shows. Dessa vertente que podemos identificar como shock metal as bandas Slipknot, Coal Chamber, Mushroom Head e até mesmo o Marilyn Manson (que apesar de não ser New Metal, estava quase junto).

Em L.D.50 nos deparamos com uma proposta diferente de Nu metal. Apesar de ter características comuns das bandas do gênero (groove, guitarras com afinação baixa e muitos berros) neste álbum existem características de um metal progressivo e muito experimental. O baixo quase “jazzistico” do Ryan Martinie que guia as músicas e é extremamente destacado e faz com que o som da banda fique encorpado e sofisticado. E por mais que a guitarra do  Greg Tribbett e a bateria do Matthew McDonough sejam executadas de maneira impecável, o maior destaque mesmo no meu conceito é o contra baixo do Ryan. Quem curte esse instrumento (contra baixo) tem que ouvir e sentir o que o trabalho proporciona ao sair pelos speakers dos seu som. Só tenha cuidado para não assustar os vizinhos.

Ainda sobre a parte progressiva (que não domina) do álbum, que permite mostrar o lado depressivo e reflexivo inserido na agressividade natural da banda. “Taí” outra característica latente nas bandas de Nu Metal.

Quanto a voz do Mudvayne. Percebe-se que a vocalização “limpa” do Chad Gray possuí uma melancolia única nas parte melódicas e que trazem um diferencial em relação as bandas semelhantes. Em alguns momentos o timbre de voz dele lembra um pouco a do M. Shadows (do Avenged Sevenfold), mas a diferença logo aparece quando os berros rasgados e insanos se misturam com o berros guturais. Chega a ser assustador aos mais desavisados.

Mudvayne no ano 2000

Entendendo o título L.D.50: Dose Letal mediana = DL50 (ou LD50, do inglês Lethal Dose). L.D. 50 é um termo utilizado para definir algo como dose fatal mediana (que é um termo toxicológico dado a qualquer substância tóxica que chegue a matar pelo menos 50% de uma população testada), bizarro não? Observe os títulos de algumas das faixas: Mutatis Mutandis, Pharmaecopia e Lethal Dosage que demonstram um pouco da inspiração da banda para compor esse álbum, além da evidente influência de drogas e filmes de ficção científica.

Dentre as 17 faixas do álbum, 5 são apenas ruídos, vozes e distorções que contribuem para absorção mais profunda desse trabalho. Ou seja, das 12 faixas restantes eu destacarias as seguintes.

Após a bizarra introdução que se faz presente em Monolith (que é o primeiro dos sons loucos que aparecem no meio das músicas), a aula de pancadaria começa com Dig. Essa música não faz carícias nos tímpanos, ao contrário. Porém, da mesma maneira que o álbum, essa música “causa repulsa instantânea ou amor a primeira audição”. No meu caso, eu conheci através do vídeo e não senti repulsa (se é que me entende).

Na sequência o groove começa ainda mais pesado e lembra muito Primus (na parte do contra baixo, é claro) e isso só é quebrado pela gritaria esquizofrênica de Internal Primates Forever. Sensacional!!!

Com o sugestivo nome “-1” que começa suave e sombria, e como não poderia deixar de ser a calmaria que precede o esporro em uma das letras mais revoltadas que já pude acompanhar. Observe esse trecho: ” Tenho certeza que as punições foram bem merecidas, pelo dono do plano, sabor de merda, amargura, afaste de mim, tudo sistematicamente.”

Em outro single que repercutiu muito bem na época e foi um dos pilares dos shows da banda por toda a carreira. Death Blooms que tem uma abordagem interessante sobre a morte em sua letra, que finaliza com um tipo de poema citado: “Escuro por medo do fracasso, uma escuridão interna tão ampla quanto um olho e fermentando um turbulento ódio mortal, aperto minhas veias revelando pétalas rançosas, florescendo podre néctar o espaço entre o piscar de olho e uma lágrima …a morte floresce“.

Nothing To Gein dá sinais de uma tendência que viria acontecer nas músicas do próximo álbum do Mudvayne (End Of All Things To Come), um pegada mais cadenciada, com muito peso e até um pré refrão com guitarra funk usando pedal ( wah wah) que acontece na música.

Em Under My Skin temos mais demonstração de peso absurdo, padrões que abrangem todo o álbum e que eu não poderia deixar de destacar. Essa é uma das mais diretas, evidentemente com suas doses de estranhezas e uma linha de contra baixo matadora, e tem até um breve momento em que o Nu metal é representado (fielmente) numa parte em que o Chad canta em forma de Rap. Funcionou muito bem!

Indo para o bloco final do álbum, encontramos a “mais leve” (se é que podemos usar esse termo para qualquer coisa em L.D.50), Prod é mais contida em relação a violência vocal do Chad nesse trabalho, o que acabada deixando a audição mais interessante e quebra um pouco a sequência de porradas que ajudam construir o álbum.

Esse debut do Mudvayne não é para qualquer ouvido não. Para entender a pegada desse álbum é necessário (mas não garantido) simpatizar com várias bandas como por exemplo: Primus, Mr.Bungle, Tool, Sepultura, Slipknot, Prong, Killing Joke dentre outras referência de música pesada mais contemporânea e seria bom gostar de um bom e velho Jazz experimental.
Esse álbum teve a produção executiva de Shawn Craham (o Clown do Slipknot) e no estúdio o produtor Garth Richardson (Ugly Kid Joe, Biffy Clyro, Rage Against The Machine, Red Hot Chili Peppers, Melvins, L7, Alice Cooper) comandou os ajustes desse complexo trabalho.

L.D. 50 é um belo exemplo na obscura arte de fazer Heavy Metal no início do século XXI e que de certo modo, estava tão a frente de seu tempo e que mesmo hoje, no dia em que completa 20 anos, ainda não é bem compreendido por grande parte do público de metal mais moderno e muito menos pelos tradicionalistas do metal.

Após o L.D.50 o Mudvayne lançou mais 4 álbuns e depois o vocalista Chad Gray deu uma pausa indeterminada pra montar o seu projeto que contava com o lendário baterista Vinnie Paul (Pantera) o Hellyeah, que lançou vários álbuns espetaculares até a morte do Vinnie em 2018.

Mudvayne – L.D. 50
Data de lançamento: 22 de agosto de 2000
Gravadora: Epic Records

Track List:
01 – Monolith
02 – Dig
03 – Internal Primates Forever
04 -1
05 – Death Blooms
06 – Golden Ratio
07 – Cradle
08 – Nothing to Gein
09 – Mutatis Mutandis
10 – Everything and Nothing
11 – Severed
12 – Recombinant Resurgence
13 – Prod
14 – Pharmaecopia
15 – Under My Skin
16 – (k)Now F(orever)
17 – Lethal Dosage

Line Up:
Chad Gray – Vocal
 Greg Tribbett – Guitarrra
Ryan Martinie – Baixo
Matthew McDonough – Bateria

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