A consagração, no mundo do show business, não é uma meta de alcance perene. Ela deve ser buscada minuto a minuto – por quem a deseja, claro – e, por vezes, um pequeno desvio pode ser suficiente para alterar o seu futuro artístico. O Krokus era uma banda em rápida ascensão no começo dos anos 80, com uma efetiva entrada no mercado americano, chegando a participar de importantes festivais, mas o investimento em sua “americanização” acabou por coincidir com o recrudescimento do radicalismo dos fãs de Heavy Metal no mesmo período e o resultado foi uma espécie de estacionamento, onde os patamares já alcançados não se alargam mais com tanta facilidade.

A identidade sonora da banda era caracterizada por um Rock visceral, ríspido e cru e, seu status é, em parte, semelhante, ao do Scorpions: pioneiros do rock pesado em uma nação sem tradição no gênero. Ao contrário, porém, da proliferação de bandas germânicas que o tempo revelou, a Suiça, pequeno país encaixado entre a Itália, Alemanha, França e Austria, teve uma produção mais modesta de artistas relevantes dentro do estilo. Fora o Krokus, apenas bandas extremas como Coroner, Samael, e Celtic Frost – com suas encarnações Hellhammer e Triptykon – obtiveram algum destaque no cenário internacional.

“Headhunter” é, portanto, o ápice do desempenho do Krokus em estúdio. Uma observação constante que se faz em relação à banda é o que se refere a sua fortíssima influência de AC/DC. De fato, em alguns momentos de sua discografia, essa marca é tão presente que chega à beira do incômodo. Não que eu não goste da banda australiana, mas é porque a influência escancarada demais tende a me afastar. O Krokus sempre demonstrou talento suficiente para desenvolver uma sonoridade própria e “Headhunter” comprova isso.

A primeira música, que leva o nome do disco, já nasce como clássica. Um arrasa-quarteirão, começando com uma levada de bateria, em ritmo locomotiva, acompanhada de um baixo pedal. Talvez a pegada mais agressiva desse disco possa ser, em parte, creditada ao produtor Tom Allon, que tem uma longa folha de serviços prestados junto ao Judas Priest. Rob Halford inclusive aparece, fazendo backing em “Ready to Burn”. Mas os méritos maiores são mesmo da banda, que tem o seu núcleo principal no vocalista Marc Storace e nos guitarristas Mark Kohler e Fernando von Arb, o principal compositor do grupo.

A faixa seguinte, “Eat the Rich”, é apenas legal. Parece que ninguém consegue fazer alguma música realmente boa com esse título. Felizmente, a próxima, “Screaming in the Night”, é uma grande canção. Um número de peso com emoção que soa como um cruzamento entre Kiss e Accept, nos momentos em que eles investiram nesse tipo de melodia. Essa é a única faixa do disco que continua constante nos setlists e assim merece permanecer.

A já citada “Ready to Burn” é a inevitável presença acdciana no álbum. “Night Wolf” e “Stand and be Counted” são típicos exemplos de metal oitentista e, entre elas, temos um cover de “Stayed Awake All Night” do Bachman-Turner Overdrive, que não acrescenta muito. Chegando ao final tem “White Din” que é apenas uma vinheta, mas que insinua a chegada de algo impactante e, de fato, a próxima faixa – a última do disco – é “Russian Winter”, que só não é melhor porque é amaldiçoadamente curta. Ela termina e você fica com a sensação de que ela poderia, facilmente, ter sido mais alongada sem prejuízo de seu impacto. Isso, porém, não desmerece a mesma.

Da mesma forma, o caminho que o Krokus tomou a partir desse álbum não o desmerece. A banda continua ativa e fazendo bons discos. Não vai conseguir, a essa altura, recuperar a trajetória ascendente que vinha percorrendo. Mas quem se preocupa com isso?

 

Formação

Marc Storace – vocals

Fernando von Arb – lead guitar

Mark Kohler – rhythm guitar

Chris von Rohr – bass, piano, percussion

Steve Pace – drums

Músicas

1.Headhunter

2.Eat the Rich

3.Screaming in the Night

4.Ready to Burn

5.Night Wolf

6.Stayed Awake All Night

7.Stand and Be Counted

8.White Din

9.Russian Winter

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