Resenha: Jethro Tull – Benefit (1970)

O movimento dedilhado que os contrabaixistas executam no instrumento, intercalando dedos indicador e médio pelas cordas, chama-se pizzicato. É a forma mais tradicional de tocar baixo e, sem me dar conta disso, eu a treinei arduamente no passado. Não em cordas de baixo, mas em sebos de discos, indo de prateleira em prateleira, usando os dedos para fazer a rápida checagem dos discos expostos.

Foi em uma dessas oportunidades que passei pelo álbum “Benefit”, do Jethro Tull. Passei e voltei para retirá-lo dentre os outros e dar uma olhada melhor. Eu não conhecia bem a banda, mas tinha uma vaga noção do tipo de música que faziam. Não era o que eu costumava comprar, mas fiquei atraído pela capa. Simples e em cores frias, mas que me chamava a atenção. Também não consegui compreender o que aquele título, “Benefício”, tinha a ver com a imagem, mas deixei para lá.

Não lembro ao certo, mas é mais provável que eu tenha devolvido o disco ao seu lugar nessa primeira oportunidade. No entanto, como o álbum tinha sido lançado no Brasil, era bem fácil encontrá-lo e ele estava sempre por lá, no caminho do meu dedilhar entre os vinis, até o dia em que resolvi levá-lo.

https://www.youtube.com/watch?v=qub8B62OSA8

Chegar em casa e colocar o disco para tocar não me causou muita surpresa, pois a capa meio que já entrega uma certa melancolia que você irá encontrar na audição. O começo de “With You There To Help Me” tem um som de flauta meio estranho, etéreo, obtido por efeitos de gravação, que prenunciam a entrada de voz de Ian Anderson, cantando de forma bem suave, até subir o tom e ser logo seguido por Martin Barre, traçando a mesma progressão e emendando com o primeiro solo. A música prossegue e culminará em um duelo de flauta e guitarra que, quem já viu algum vídeo do Tull sabe, é a deixa para uma performance de palco intensa desses ingleses.

A definição da música do Tull pode caber perfeitamente nos rótulos de Folk Rock ou Rock Progressivo, embora “Benefit” ainda não seja tão progressivo quanto a banda viria se tornar, mas para mim esse álbum soa como uma espécie estilizada e muito própria de Blues. Blues à moda Jethro Tull, mais claramente exemplificado em canções como “Nothing To Say”, “Son” e “Inside”, que são o lado mais direto do espírito de faixas explosivas como “To Cry You A Song” e “A Time For Everything” onde o Tull encarava o rascunho de seus futuros passos.

O álbum foi inteiramente composto por Anderson, mas Barre é uma presença fortíssima em todo seu decorrer. A longa trajetória percorrida pela parceria de ambos, nos diz o suficiente, mas o baixista Glenn Cornick, em seu último trabalho com a banda, e o baterista Clive Bunker, atuam soberbamente também para fazer de “Benefit” exatamente a literal benesse que é. Um benefício para a alma e para a memória do tempo em que eu comprei os melhores discos de minha vida, quase sempre sozinho em uma loja, olhando capa por capa, no percurso ágil dos dedos, até ser novamente atraído pelo inusitado.

Formação

Ian Anderson – flauta, vocais

Martin Barre – guitarra

Glenn Cornick – baixo

Clive Bunker – bateria

John Evan – piano

 

Músicas

01.With You There To Help Me

02.Nothing To Say

03.Inside

04.Son

05.For Michael Collins, Jeffrey And Me

06.To Cry You A Song

07.A Time For Everything?

08.Teacher

09.Play In Time

10.Sossity; You’re A Woman

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