Resenha: Jailor – Stats of Tragedy (2015)

O Jailor é uma banda de Thrash Metal que já conta com duas décadas de estrada, tendo sido formado em 1998 em Curitiba, Paraná. Em 2005 lançaram seu debut, entitulado Evil Corrupts, e apenas 10 anos depois, em 2015, lançam o seu segundo álbum, Stats of Tragedy, protagonista desta resenha.

A banda não se contenta em ser classificada apenas como “Thrash Metal”, preferindo o termo “Brazilian Thrash Metal”. Mas apesar do aparente orgulho de fazer parte da cena nacional (o que é muito bacana), muito pouco se ouve de influências de bandas brasileiras no som da banda, a não ser algumas pitadas de Korzus e outras poucas de Attomica aqui e ali. Influências de bandas como Death, Kreator, Slayer e Exodus são muito mais perceptíveis.

O som da banda neste álbum é um Thrash com um nível considerável de progressividade, cheio de mudanças de tempo e “quebradas de ritmo” ao melhor estilo Death, porém sem perder a agressividade e os riffs avassaladores típicos do estilo. Aliás, que show de riffs é apresentado aqui! A banda cumpre (e até supera) a expectativa que temos de todo trabalho do Thrash Metal de entregar um atrás do outro uma coleção de riffs matadores e cativantes. O trabalho de guitarra deste play, entregado por Daniel Hartkopf e Alessandro Guima, é realmente impressionante, tanto nos riffs, quanto nas melodias, arranjos e solos.

Aliás, permita-me um momento para falar sobre os arranjos e passagens deste álbum. É muito comum bandas de Thrash Metal, principalmente no meio underground/independente, se focarem totalmente na velocidade e na agressividade e se esquecerem dos pequenos detalhes que dão refinamento ao som. Esse definitivamente não é o caso aqui, pois o Jailor soube encaixar com maestria arranjos, viradas e passagens que dão muito mais personalidade a cada faixa, e que não atrapalham em nada a brutalidade do som. A maioria das faixas logo de começo já apresentam algo que as destaca das demais, tornando a experiência de audição do álbum muito mais agradável. E são detalhes às vezes simples, como uma mudança na linha de bateria, ou um arranjo no baixo, ou a adição de reverb nos solos e leads de guitarras enquanto tocam em cima de acordes e bases cadenciadas, dando um tom atmosférico e etéreo para alguns momentos do álbum, logo antes de voltar para a pancadaria desenfreada. Isso demonstra um nível de profissionalismo e maturidade da banda que pode levá-los longe.

Aproveitando que mencionei a bateria e o baixo, vamos falar um pouco da cozinha da banda, que também não decepciona. O baterista Jefferson Verdani demonstra uma versatilidade incrível atrás do kit, alterando com naturalidade entre momentos velozes, progressivos e cadenciados, mostrando que nem só de “pá-tum-pá-tum” vive o Thrash Metal. Suas linhas nunca soam retas nem mecânicas demais, sempre tendo algum detalhe ou alteração para manter o dinamismo. E o baixista Emerson Niederauer não fica atrás. As linhas de baixo aqui servem para muito mais do que apenas base para as guitarras, tendo seus momentos de destaque com arranjos interessantíssimos e adicionando ainda mais uma camada de personalidade ao som da banda.

Outro quesito em que muitas bandas do thrash às vezes não dão devida atenção é o vocal, e aqui mais uma vez o Jailor mostra que não é apenas “mais uma” banda de Thrash Metal. O vocalista Flávio Wyrwa tem uma clara influência de Chuck Schuldiner em seu estilo, mas mostra que também gosta de variar as coisas no microfone, incluindo agudos, remetentes aos de Tom Araya, do Slayer. Também é perceptível influência de Tom Araya na linha vocal da faixa “Ephemeral Property”. Independente de qual estilo é usado, os vocais sempre soam raivosos e agressivos, sem parecer mera gritaria, o que me faz acreditar que Flávio possua bastante técnica, e não apenas cordas vocais resistentes.

Como se tudo isso que mencionei já não fosse uma receita certeira para um álbum matador, vem a produção para colocar a cereja em cima do bolo. Assinada por Maiko Thomé (que já trabalhou com outros nomes proeminentes do underground nacional, como Axecuter e Amen Corner), a produção do álbum faz com que todos os elementos soem como deviam soar, extraindo o potencial máximo do talento absurdo dos músicos envolvidos. Tudo soa cristalino, todos os instrumentos são perfeitamente audíveis, e em nenhum momento a produção parece exagerada, deixando a brutalidade e explosividade natural do som intactos.

Acho que a esta altura o leitor já deve ter percebido o quanto eu gostei deste trabalho. Pois é, minha única crítica verdadeira a este álbum é o fato das duas primeiras faixas do álbum serem muito parecidas entre si. Confesso que a primeira vez ouvi o álbum, tive um pequeno receio no momento em que a segunda faixa começou, pensando que ele cairia na mesma armadilha que tantas outras bandas caem, de escrever 10 vezes a mesma música em um álbum. Felizmente, não foi isso o que aconteceu, e as faixas seguintes logo afastaram esta impressão. Embora o Jailor não seja necessariamente inovador, nem esteja criando um novo estilo de tocar Thrash Metal aqui, eles souberam misturar sonoridades pré-estabelecidas em uma combinação diferente, ao invés de apenas emular sons consagrados. O próximo passo na humilde opinião deste resenhista seria agora experimentar e moldar estas ideias em algo único e identificável, algo que no futuro as pessoas escutem e pensem “isso parece Jailor”. Os ingredientes estão aí. E eu estou ansiosamente aguardando futuros trabalhos da banda.

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