Resenha: Jäilbäit – Who Da Fuck Are You? (2014)

No tempo em que vivemos, já é corriqueiro tomarmos conhecimento de diversas bandas brasileiras espalhadas por todo nosso imenso território. A internet ajuda muito nisso, tornando a cidade de origem apenas um detalhe que em nada sugere qualidade musical ou falta dela. Só que é engraçado como, mesmo assim, às vezes nos impressionamos com a origem de algumas. Foi mais ou menos o meu sentimento ao conferir de onde são os caras do Jäilbäit. Quem diria que um dia eu ouviria um bom som vindo de Alagoas? Sim, é verdade, o Nordeste, a cada ano que passa, mostra-se mais em alta. Ainda assim, a coisa está mais polarizada principalmente entre Pernambuco e Bahia, com ocasionais aparições do Ceará e do Maranhão.

Jäilbäit

O quarteto composto por Zenitilde Neto (vocal), Adailton Junior (guitarra), Wilson Santos (baixo) e Cleyton Alves (bateria) ainda é bastante jovem; foi formado no fim de 2013 em Paripueira, região metropolitana de Maceió, a partir de um nem tão compromissado ensaio só para conferir o entrosamento entre todos, o que deu certo. Os amigos deram tanta liga que apenas um ano mais tarde o álbum de estreia “Who Da Fuck Are You?” já estava lançado. Tudo bem, o disco é de 2014, praticamente dois anos antes da morte do lendário Lemmy Kilmister (Motörhead). Mesmo assim, tomar conhecimento de seu lançamento agora, de 2016 em diante, acaba por funcionar como um presente aos fãs daquela banda tão marcante e de tanta história.

Já dá para entender por que, não é? Pois é. “Who Da Fuck Are You?” é um disco independente que apresenta, em larga escala e maior parte, influências do Motörhead em todos os sentidos. A musicalidade é direta e objetiva: não dota do que muitos considerariam firulas, invenções de moda, ou quaisquer atributos que desviem a musicalidade do foco de bater cabeça a um som pesado. Portanto, esteja certo de que se trata de muito Rock ‘n’ Roll manifestado por uma energética mescla entre Heavy Metal e Hard Rock, naquele clima que consagrou o Motörhead – resguardadas as devidas proporções.

A base rítmica é frequentemente acelerada, com bateria e contrabaixo batidos e velozes, e riffs de guitarra apaixonadamente palhetados, produzindo uma variedade pesada e concisa de arranjos que se complementam e não perdem a linha. Inclusive, por se tratar de apenas uma guitarra nas músicas, a sonoridade fica com aquela audição seca, enxugada, mas que também confere tradicionalidade. Esses elementos foram, com perspicácia, percebidos pelo produtor Edu Silva, que no estúdio Fat Sound manejou a produção de maneira a acentuar essa textura setentista e suja, sem que implique em perda de qualidade. Produção muito bem feita!

Além do instrumental empolgante e convidativo, abundante em inspirados solos cheios de técnica e velocidade que clamam por moshpit, o vocal de Zenitilde aguça ainda mais o paralelo traçado com os gigantes do Heavy Metal e do Hard Rock. O intérprete aposta suas fichas em carregados drives, e a composição das linhas vocais também remete à tradicionalidade – por vezes lembrando Lemmy e sua abordagem mais “resmungada” e “rosnada”, por vezes se abrindo nos tons e convertendo a compostura em algo mais Hard Rock, trazendo flashes de Led Zeppelin à mente. De novo, a relação com os nomes mais básicos do Rock/Metal é, intuitivamente, evocada.

Jäilbäit 2

Todo o trabalho mantém a constância, exceto pela última faixa, “Bäit Blues”, que, como o nome sugere, apela para outro tipo de tradicionalidade: a dos Blues. Assim como as demais, trata-se de uma composição apurada e profissional, com direito a alegres teclados e tudo. Apesar de peregrinar por um estilo diverso ao que vinha sendo executado até então no disco, o clima continua claramente Jäilbäit, rechaçando o perigo de introduzir uma faixa deslocada num set tão homogêneo.

“Who Da Fuck Are You?” é convincente e fácil de ouvir. A objetividade da musicalidade é refletida também na duração das canções, que gira em torno de três minutos. Os rápidos 37 minutos totais são fluidos. Quando o ouvinte se dá conta, acabou. Pedem repetição.

Certamente, o trabalho é prazeroso e presenteia os ouvidos com o deleite de um Metal bem feito. Porém, vontade, a banda tem de sobra. Já identidade, bom… ainda é cedo para dizer. É apenas o primeiro álbum e, embora bom pra cacete, como elogiado até aqui, ele soa em demasiado como outras bandas, principalmente Motörhead, e quase nada como Jäilbäit. Sim, é importante uma banda ter inspirações e até parecer um pouco, algumas vezes, chegando a ser benéfico. Contudo, fica a sensação de que os alagoanos ultrapassaram um pouquinho a linha imaginária que distingue influência de tentativa de ser (embora possa não ser intencional). Não são inovadores, mas ninguém tem a obrigação de sê-lo. O objetivo de entregar Heavy Metal de qualidade foi cumprido, todavia, se a banda desenvolverá seu próprio perfil, só os futuros lançamentos dirão.

Se já está com saudades do Motörhead e procura uma banda de qualidade para beber cerveja e bater cabeça enquanto segura o chapéu de cowboy, sem dúvidas, essa é a banda: Jäilbäit.

Formação:
Zenitilde Neto (vocal);
Adailton Junior (guitarra);
Wilson Santos (baixo);
Cleyton Alves (bateria).

Faixas:
01 – We Are Jäilbäit
02 – Going To Wacken
03 – Take It Easy
04 – Jailbait Squad
05 – Just A Boy
06 – Do You Wanna Be A Rockstar?
07 – Otaro (Sucker)
08 – Born To Win
09 – Lone Wolf
10 – Bäit Blues

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