Como é bom ver que tem gente explorando outras influências na hora de compor Heavy Metal tradicional. Por vezes, parece que a influência padrão nesse subestilo se afunila na direção de uma única banda e, em consequência, as composições começam a ficar muito repetitivas, por não terem mais o que explorar dentro de uma musicalidade que já vem sendo dissecada a décadas. E esse fato é mais agravante quando podemos perceber que a própria matriz da influência parece já ter estacionado em seus próprios cacuetes.
Mas o Heroes of War foi buscar inspiração na escola alemã. Grave Digger é o nome que ocorre imediatamente à lembrança e, sem dúvida, o timbre do vocal de Glauber Fontana, bastante calcado em Chris Boltendahl, é o principal elemento de associação para tanto. Mesmo em faixas cujas melodias não remetam tanto à lenda germânica, a voz de Glauber gera essa sensação.
É inevitável, no primeiro momento, fazer algumas dessas associações, mas depois de um certo número de audições, você irá esquecer isso e apreciar o Heroes of War pelo que é: uma banda vibrante, que lançou um material muito bom, do tipo que você irá escutar sem pausas do começo ao fim, ao contrário de alguns discos de bandas grandes que tem se tornado suplícios a sua fruição inteira. A primeira faixa é a que dá nome ao disco e ela o faz com muito peso, em um andamento arrastado. Impossível já, nesse primeiro momento, não perceber o bom gosto do baixista Anderson Moraes na inserção de pequenos fraseados em suas linhas, além do timbre bem definido de suas quatro cordas.
“Hellfire” compensa a velocidade que não se fez presente na abertura com um andamento acelerado e o refrão no melhor estilo palavra-de-ordem! “Holy Grail” fica no meio termo entre os dois extremos até agora vistos e revela-se a melhor faixa até o momento, mas “Smell of Death” torna a acelerar o ritmo.
A introdução de “Never Have Peace” nos dá um puxão de orelha por ainda não ter mencionado a atuação dos guitarristas Everton Pereira e Allan Caruso, muito coesos entre si. A faixa tem melodias que transitam entre o épico e o marcial, mas que não nos preparam para a condução acústica de “Coming Home”, que nos mostra outros aspectos da voz de Glauber Fontana, eliminando qualquer questionamento sobre o seu talento como cantor. A música também ajuda a demonstrar a qualidade da produção do disco, com a captação clara de todos os instrumentos, seja nos momentos de calmaria ou de peso.
E peso é o que retorna em “Flying on the Way”, com uma condução de bumbos perfeita de Marcelo Chiarelli. O Heroes of War tem um bom domínio da arte de fazer refrões, mas também trabalha com competência os demais aspectos da composição como um todo. A faixa que encerra o disco, “Medal of Honor” nos permite essa assertiva, pois trata-se de uma música madura e bem construída, com detalhes maidenescos bem evidentes, lembrando algo das sagas sonoras que o quinteto inglês entregou no passado, e sobressaindo-se como se fosse um cruzamento entre o Iron Maiden e o Grave Digger.
Em pouco mais de dez anos de atividade, o grupo conta com dois discos em seu catálogo. “Saints and Sinners” tem todas as condições de impulsioná-los alguns degraus adiante e colocá-los em posição de destaque no cenário do Metal tradicional brasileiro, pois precisamos de mais e mais bandas, nesse meio, que se proponham a sair do lugar comum.
Formação
Anderson Moraes – baixo
Marcelo Chiarelli – bateria
Everton Pereira – guitarra
Allan Caruso – guitarra
Glauber Fontana – vocal
Músicas
01 Saints And Sinners
02 Hellfire
03 Holy Grail
04 Smell Of Death
05 Never Have Peace
06 Coming Home
07 Flying On The Way
08 Medal Of Honor