O Hardcorezei Fest vem sendo uma vitrine inesquecível do underground de Campão, com toda a certeza.
A gig aconteceu no dia 18 de março de 2023, no Barcelona Bar, em Campo Grande (MS). As primeiras edições do festival, em 24 de setembro de 2022, haviam sido uma ótima experiência, com um line-up variado de bandas de diversos subgêneros do hardcore e punk, e a segunda edição, em 9 de dezembro, foi ainda melhor, expandindo o leque de estilos e atraindo mais público. Este ano, o festival teve um line-up ainda mais eclético e atraiu um público ainda maior, de todas as tribos, desde os góticos, passando pelos punks, emos, headbanguers e pessoas como eu (risos).
Apesar de ser um festival de hardcore, o Hardcorezei não se limita a esse gênero, o que é algo estratégico além de sinalizar a união entre as vertentes da cena underground. Além da música, o Hardcorezei Fest 3 também contou com venda de camisetas e patches, além de discotecagem com clássicas do punk e hardcore.
Na real, foi um dos eventos musicais mais caóticos e energéticos que já participei. A programação incluiu algumas das melhores bandas de metal e hardcore da cena, incluindo Alien Sputnik, Tonelada, Pata de Cachorro e I’m Pistol, além do tributo ao Helmet(EUA). Entre uma banda e outra, muitos cigarros, bebidas, papos filosóficos (as vezes nem tanto) e zoeiras por parte da plateia, não teve clima ruim nem treta. Público exemplar.
Teve músicas inéditas no set tanto da Alien Sputnik (banda veteraníssima, aí na estrada desde 2000, quando era composta pela dupla Alessandro e Marino), quanto no do power trio Pata de Cachorro, que aliás não deixou a vibe cair mesmo quando as luzes falharam antes de Corpo Seco – hit muito pedido pela plateia. A banda é uma das mais competentes, comprometidas e profissionais do cenário rockista de CG – arrisco dizer que muito breve entrará no circuito nacional hardcórico.
A energia no bar do Barcelona era elétrica, com as batidas pesadas da música sacudindo o chão. Todos na platéia acompanhavam fervorosamente as pedradas, desde os mosh pits surfando na multidão até as danças estrambólicas no set do Alien Sputinik – que contou com cigarros atirados á plateia em Bactérias não fumam. Entre os momentos icônicos, foram os feats mútuos de JM – da I’m Pistol – no show do Tonelada – que retribuiu tocando Eu Quero Ver O Oco no show dos reis do sexo, como a gurizada apelidou o quarteto (cujo set inclui o inusitado strip-tease do vocalista), além dos feats do Skeet, vocalista do Barata Tonta no show do O tributo ao Helmet, apesar de curto, com cinco músicas, foi emocionante, por se tratar de uma das bandas favoritas do organizador Thales Henrique – que dias antes viu a banda de perto na sua passagem por SP.
O trio Alien Sputnik, formado pelo tecladista e vocalista Marino Filho, Alessandro Fonseca na voz, e Leiliane Assis nos teclados e voz, aposta em composições inéditas com referências às décadas de 1980 e 1990. O grupo foi formado em meados de 1998, e o nome veio da junção de dois nomes: Alien Sex Fiend e Sigue Sigue Sputnik, duas bandas essenciais na formação da estética musical do Alien Sputnik. Marino, que desde 1997 tentava fazer música com seu rudimentar Casio PT-85, atribuiu melodias aos dois primeiros poemas que Alessandro trouxe, Satélite Demente e Salsa Para o Blues. Com a fórmula já testada, quando perceberam já tinham nove músicas prontas para irem pra mesa de som, masterização, lojas e palcos, compiladas em “Míssil Transmissível”, em março de 2000. O estilo é definido pela própria banda como “sinthy punk electro rock”; de lá pra cá, soltaram O Fim das Espécies, em 2011, e o mais recente lançamento General Genital (2023), todos sendo lembrados na setlist, com destaque pro trabalho mais recente.
O Tonelada (Dourados-MS), formado em 2013, é uma banda com uma proposta mais pesada e direta, com musicas autorais em português e com letras sobre a realidade do povo brasileiro e com isso levar nossa mensagem para quem quiser ouvir; possuem um clipe com bastante expressão no maior canal de metal/hc, HCWW – HARDCORE WORLDWIDE, com a musica CRIA SUA do EP-GROSSO, e vem se destacando no cenário nacional. E foi isso que Jaum Queiroz (Vocais), Luan Mendes Guitarra), Paulinho Torrontegui (Bateria) e Renan Gobi (Baixo) mostraram no setlist focando nos seus últimos trabalhos: o EP Grosso (2014), o álbum Ignorante (2019) e o single Sufocado (2022), além dos covers em homenagem ao Sepultura e ao Raimundos (Roots e Pitando no Kombão, respectivamente).
A campo-grandense Pata de Cachorro foi criada em 2017 e tocou pela primeira vez em um evento de Halloween produzido em parceria por dois bares da cena underground na capital sul-mato-grossense, é o Horror Punk (subgênero do Punk Rock que se inspira em filmes, contos e histórias, fictícias ou não, de Horror/Suspense como fonte de suas letras).
Atualmente é composta por Ícaro Maranhão (baixista e voz), o Grotesco; Gabriel Torrecilha (guitarrista e voz), o Carniça e Augusto Souza (baterista e voz), o Boçal, cada um com uma caracterização específica, e suas letras trazem referências a histórias e lendas do folclore regional e nacional, com a inspiração de defender e aumentar a divulgação dessa parte da cultura popular brasileira.o Ep Alienação animal (2021) e os singles Satanás, Mapinguari, Santa Paz (2021), Corpo Seco e Maldição do Horror (2022) e O Velho do Saco (2023), o mais recente.
A estreante I’m Pistol – na verdade quase estreante, pois foi o segundo show ao vivo deles, formada em 2016, são uma banda de ”sexcore” que mistura elementos do Hardcore com Metalcore. Em 04/12/2020 lançaram o primeiro single: País do Caos. Na set list tem outras músicas próprias ainda não lançadas oficialmente, como Tô Pistola, e covers de Linkin Park, Raimundos e Pense.
O tributo ao Helmet foi idealizado e executado pela gurizada: Thales Henrique – produtor da Hardcorezei, Angelo Genovez do Herezia, Mateus Capiberibe do Barata Branca e Giovanni Kaminski da Lowdown, bandas que tem história na cena autoral de CG.
Foi uma grande celebração do underground, do selvagem, do caos e da união entre as bandas. O Hardcorezei Fest 3 mostrou que, mesmo com pouca estrutura e recursos, é possível realizar um evento de qualidade e reunir pessoas de diferentes tribos, gostos gêneros e classes para celebrar a música underground. Que venham os próximos festivais!
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