O Death Metal, quando surgiu, era um tipo de criatura amorfa, sem delimitações precisas. Algo assim como um recipiente aberto de dentro pra fora por uma explosão interna, onde não havia padrões claros de sua extensão. Era bruto, irrefreável, impreciso. O tempo passou e, aos poucos, aquela massa compacta foi assimilando aspectos mais generalizados do contexto musical em que se inseria. A técnica foi um destes aspectos.
Em maior ou menor grau, ela esteve presente em muito do que se fez ao longo da existência do estilo. Não foram poucos os casos em que se impôs como um dos elementos mais evidentes, chegando a descaracterizar parcialmente os significados primais do Death Metal. O ponto mais delicado de equilíbrio é aquele em que a presença da técnica não arrefece a insanidade deste tipo de música e, ao contrário do que se poderia imaginar, contribui para deixá-la ainda mais agressiva, ainda mais devastadora.
Esse é justamente o ponto alcançado pelo Gutted Souls, conforme se pode aferir pela audição do álbum “The Illusion of Freedom”. Decerto que, a essa altura, a experiência brasileira em fazer Metal extremo de qualidade já não surpreende mais ninguém. Nosso cenário desde muito cedo tem se imposto como um dos modelos a ser seguido pelo resto do mundo e o Gutted Souls mescla as lições nacionais com as tendências de fora, entregando um disco que junta o tradicional e o moderno na mesma embalagem.
O repertório aqui presente é uma versão amplificada daquele contido no EP “Unconscious Automaton”, de 2012, excluindo-se apenas a faixa “Words of Hate” e incluindo músicas novas. De lá pra cá, o vocalista Iron e o guitarrista Wellington Ferrari tem sido os condutores do leme, conseguindo juntar uma nova formação em torno de si, embora os músicos que se apresentam hoje juntos com a dupla não sejam os mesmos que foram responsáveis pela gravação do disco. Quanto a estes, merecem a devida menção pelo trabalho executado tanto o guitarrista Leandro Xsa, que entregou solos sujos e melódicos, quanto o baterista Rodrigo Oliveira, cuja participação foi fundamental para fazer do disco aquilo que ele é. Um ataque ritmico preciso e contundente, ornamentado por riffs cortantes, por cima dos quais Iron vocifera as letras.
As características acima, que expressam bem o que é a música “Being Human” podem ser usadas para explicar outras faixas do álbum, que exibe variedade nas levadas menos aceleradas, notáveis em momentos de “Mondo Psycho”, ou que extrapolam nos blasts beats quase onipresentes. “Unconcious Automaton (Curse of Wetiko)”, com suas variações, candidata-se a ser uma das melhores apresentadas neste trabalho, ao lado de “Snakes in Suits”, cuja complexidade não passa despercebida, mesmo com toda a violência sonora que entrega.
Não é o caso de dizer aqui que o Gutted Souls recebeu a tocha dos antepassados. Não. Eles estão carregando a tocha junto com os antepassados, que em sua maioria ainda estão ativos no cenário e, caso mantenha a qualidade aqui demonstrada, estarão presente para agregar aqueles que ainda irão surgir. O cenário se revigora e renova através desse convívio de gerações e, assim, preserva a sua intensidade e identidade.
Formação atual
Iron – vocal
Wellington Ferrari – guitarra
Elias Oliveira – baixo
Braulio Azambuja – bateria
Alexandre carreiro – guitarra
Músicas
01 – Being human
02 – The authoritarian follower
03 – Mondo psycho
04 – The undying stars
05 – Snakes in suits
06 – Psychopathic ruler
07 – Addicted to power
08 – Unconscious automaton (Curse of Wetiko)
09 – Dancing to the sound… Of the powers that be
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9/10