Resenha: Grinding Reaction – O Caos Será A Tua Herança (2018)

Por muito tempo, a palavra que mais me irritava ouvir era “atitude”. Não pelo seu significado em si, mas pela sua vulgarização. Falava-se em atitude à toa, de qualquer maneira, como se fosse uma espécie de senha para autenticar a própria imagem e tentar impressionar adolescentes mais sugestionáveis.

A verdadeira atitude é intrínseca. Não precisa ser repetidamente pronunciada como se fosse um mantra pífio. Ela se faz presente através de um discurso coerente, que diz o que precisa ser dito sem contradições ou meias palavras. Mesmo sem que uma mínima nota musical seja vibracionada, a atitude firme já surge no texto impresso no encarte do álbum “O Caos Será A Tua Herança”, do Grinding Reaction. E se você, até então, não captou a mensagem por completo, o discurso falado na faixa de introdução terminará de elucidar o que lhe espera, como se vislumbrássemos o espetáculo que se revela após a abertura das cortinas.

O caminho para que chegássemos até o presente álbum não foi isento de percalços. No decorrer de quase 20 anos desde sua formação, a banda esteve inativa por um período e foi reformulada. O EP de estreia foi revisto e o material antigo, que antes intercalava entre canções em inglês e português, focou-se apenas no idioma pátrio, fortalecendo a estética assumida. Em sua atual encarnação, o Grinding Reaction pisou firme no Crossover, com inclinação mais evidenciada para o Hardcore e muita utilização de groove nas canções, carregadas de ritmos quebrados.

Em termos sonoros, a banda poderia ter se beneficiado de uma produção que deixasse os sons de guitarra e bateria mais cheios, com resultados matadores, mas a sujeira transparece irretocável e áspera. Há uma longa lista de influências que confluem para a obtenção do som e da fúria que são arremessados sobre nós, mas muito do que se ouve é o amálgama do underground brasileiro em suas melhores safras. Há, inclusive, referências diretas à musicalidade brasileira, como na curta faixa “Cangalha”. Arranjos diversificados, na linha Dead Kennedys, também são percebidos em músicas como “Piada”.

O uso de backing vocals é econômico e só surge quando é realmente necessário, como em “Negra Sina” ou no reforço do peso intenso de “Verdades e Utopias”. Canções como “Recuse a Cegueira”, “Inimigo no Espelho” e o massacre instantâneo de “Pesadelo” devem ser apontadas como destaques, mas existe uma constante entre estas e todas as demais. Acredite em mim quando digo que, caso seja apreciador do estilo, este é um disco que você curtirá independente do meio que optar para ter sua fruição, mas caso não o faça acompanhando as letras, perderá uma parte essencial da experiência. São os posicionamentos diretos de quem já não tem mais paciência com os desaforos sociais que nosso povo sofre.

Nomes de bandas podem ser poéticos, aleatórios ou até mesmo incoerentes, mas o Grinding Reaction não desperdiça palavras e seu nome é a representação denotativa dos significados de sua música. E a atitude – a autêntica atitude – eles têm para mostrar.

Formação

Renato Spadini Jr. – baixo

Ricardo Marchi – guitarra, vocal

Victor Rotta – guitarra

Weslley Ferreira – bateria

Músicas

01 O Caos Será a tua Herança (Introdução)

02 Os Fins Justificam os Meios

03 Recuse a Cegueira

04 Flagelo

05 Guerra Urbana

06 Dor, Sofrimento e Morte

07 Cangalha

08 Marionete

09 Negra Sina

10 Piada

11 Inimigo no Espelho

12 As Ameaças não Devem Mudar a Verdade

13 Pesadelo Latino Americano

14 Rato Cinza

15 Vida Útil

16 Verdades e Utopias

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