Resenha: Graveland – 1050 Years Of Pagan Cult (2016)

Antes de mais nada, não estou nenhum pouco me lixando para a vida pessoal ou para as posições políticas de Rob Darken, líder do Graveland. A quem interessar possa, as letras desta banda tão-somente relatam as histórias e as lendas dos antepassados europeus, o que não julgo ser errado, visto que muitas bandas brasileiras também têm e lançam mão do mesmo direito. Outrossim, este site é sobre Heavy Metal. Então, me aterei ao Heavy Metal do Graveland. À MÚSICA do Graveland. Vamos, pois, ao que interessa.

Para quem ainda não conhece esta banda polonesa, ela foi fundada em 1991, na cidade de Breslávia, sudoeste polonês, por Robert “Rob Darken” Fudali (vocais). Ao longo de seus mais de 26 anos de serviços prestados ao Black/Viking Metal, o Graveland se tornou uma das mais importantes bandas do underground europeu, e uma das mais respeitadas mundialmente. Em seus primeiros álbuns de estúdio o Graveland executava um Black Metal sujo e cru, que aos poucos se tornou em um Viking Metal épico e bem trabalhado, com fortes influências de Bathory. Pode-se dizer, pois, que o Graveland possui uma discografia rica, extensa e imponente, tal qual a sua musicalidade.

Rob Darken

Desde o começo dos anos 2000, Rob Darken carregava sozinho sua banda, no formato “one-man band”, à la Varg Vikernes e seu Burzum. Em 2015, Darken resolve recrutar vários músicos para dar vida a uma nova encarnação do Graveland, e, pela primeira vez na história, tocar ao vivo. Aproveitando esta nova fase, a banda polonesa lançou seu 15º álbum de estúdio, 1050 Years Of Pagan Cult, que na verdade é uma regravação de músicas das primeiras demos e dos três primeiros full-lengths da banda: Carpathian Wolves (1994), Thousand Swords (1995) e Following The Voice Of Blood (1997). Ou seja: uma volta às raízes.

Uma triunfal volta às raízes, diga-se de passagem!

Com uma qualidade sonora infinitamente superior à das versões originais, 1050 Years Of Pagan Cult mostra um Graveland renovado, com sangue nos olhos e com vontade de conquistar o mundo sob Mil Espadas. Novos arranjos de teclados, influência do período Viking Metal do grupo, tornaram as músicas fortes e imponentes. Mas a tenebrosa aura Black Metal dos anos 90 permaneceu intacta.

The Night Of Fullmoon abre o disco de forma cadenciada e sombria, enquanto sua sucessora, At The Pagan Samhain Night, mostra um rápido, visceral e épico Black Metal. Born For War é cadenciada e traz uma forte veia Folk, onde Darken convoca seus asseclas para a guerra pagã.

Ao longo da audição de 1050 Years Of Pagan Cult, a característica mais notável nas novas versões das músicas escolhidas são as orquestrações, presentes em todas as músicas, que deixaram todas as composições ainda mais sombrias, grandiosas e imponentes, lembrando o Dimmu Borgir dos anos 90. Como Hordes Of Empire, um Black Metal rápido e insano, e que apresenta um soberbo trabalho de bateria, cortesia de Sigrunar. A formação que gravou este álbum conta ainda com o guitarrista e baixista Mścisław (pronuncia-se “Mstislav”, mas ninguém merece).

A grandiosa e clássica Thurisaz é um dos grandes destaques da discografia do Graveland, e aqui ela se tornou ainda mais poderosa e magnânima. Thousand Swords também não fica atrás em questão de imponência e de climas marciais com o uso de instrumentos típicos. Nem preciso falar da pancadaria Black Metal War!, já que seu nome entrega suas características. Esta música encerra o disco com tudo, servindo como rubrica de Rob Darken, músico que sabe conceber grandiosos trabalhos em territórios limitados.

A riqueza deste compêndio sonoro é ainda mais enriquecida devido ao trabalho visual de Tomasz Grzesik, que elaborou uma belíssima arte de capa, retratando todo a atmosfera guerreira do Graveland. Também deve-se destacar o trabalho por trás dos botões feito por Mikołaj Żentara, responsável pela mixagem e masterização, que deixou o som do Graveland sujo na medida certa, com todos os instrumentos nítidos e em seu devido lugar, com os teclados na medida do bom-senso e com os vocais de Darken soando como trovões.

O Graveland esteve recentemente em turnê pela América Latina, mas não pode vir ao Brasil por conta de ameaças de protestos no suposto dia do evento. Infelizmente, temos ainda de conviver com pessoas que não aceitam ideias alheias ou divergentes das suas, ou mesmo que não estudam sequer um pouco o trabalho dos outros. Por outro lado, a banda já anunciou que lançará um DVD com o show feito no Equador.

Musicalmente falando, o Graveland está de parabéns por lançar estas regravações de seus clássicos. Para quem quer conhecer a banda, esta é uma excelente porta de entrada para o mundo pagão de Rob Darken, que mostra tanto o lado Black Metal dos primeiros álbuns, quanto a faceta Folk/Viking dos trabalhos posteriores. Escolha sua espada e se engaje nesta guerra sem qualquer receio ou subterfúgios.

1050 Years Of Pagan Cult – Graveland (Heritage Recordings, 2016)

Tracklist:
01. The Night Of Fullmoon
02. At The Pagan Samhain Night
03. Born For War
04. The Gates Of Kingdom Of Darkness
05. Hords Of Empire
06. Thurisaz
07. For Pagan And Heretic’s Blood
08. Thousand Swords
09. Black Metal War

Line-up:
Rob Darken – vocais, teclados
Sigrunar – bateria
Mścisław – guitarras, baixo

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