Eu já quebrei a cabeça tentando fazer uma lista de melhores músicas de Frank Zappa, mas é uma tarefa semelhante a tentar cavar um buraco na beira do mar. Não dá! É impossível, inviável, ridículo… Quantos discos tem o sujeito? Quantas músicas? Em quantos estilos ele navegou? A obra de Frank Zappa é inclassificável, indefinível em apenas uma palavra: não é Rock, não é Jazz, nem Pop, Clássico ou Progressivo e, controversialmente, é tudo isso ao mesmo tempo! Se fosse preciso correr o risco, eu me arriscaria a dizer que é música erudita contemporânea, mas certamente ainda estaria incorrendo em imprecisão. Não há, portanto, como inserir dentro de um mesmo balaio, peças tão absolutamente distintas de um mesmo acervo, tanto em termos de estilo quanto de execução.

Confesso que prefiro as coisas instrumentais compostas pelo Zappa. Muitas das suas músicas com letras, sobremaneira aquelas que foram feitas junto com o Mothers of Invention, são recheadas com diálogos, conversas de telefone, sons que remetem a desenhos animados e coisas assim. Para a maioria das pessoas, pode soar anárquico além da conta, mas não chega a ser uma regra, claro. O gênio tem uma ampla coleção de faixas cantadas onde pode se encontrar uma estrutura mais, digamos, convencional, na falta de um termo mais preciso. Suas músicas instrumentais, porém, são absurdamente fantásticas! Longas jams onde Zappa – que era essencialmente um guitarrista – se permite solar sem limites e dividir sua digressão com os demais membros de sua banda, por onde, ao longo do tempo, passaram alguns dos mais mitológicos instrumentistas de nossa época (Jean Luc-Ponty, Aynsley Dunbar, Steve Vai, Terry Bozzio, Eddie Jobson, Adrian Belew, Vinnie Colaiuta, para mencionar apenas alguns).

Em “Hot Rats”, apenas uma das seis faixas, “Willie the Pimp”, tem letra e, mesmo essa, ocupa um pequeno trecho de sua longa duração. No restante do disco está o supra sumo do universo zappiano, começando pela maravilha chamada “Peaches in Regalia”, primeira música de Zappa que eu ouvi na vida e que, já naquela oportunidade, me fez parar o que estava fazendo para prestar mais atenção e depois repetir a experiência. Dá para fazer isso incansavelmente, pois toda vez que escuto essa faixa, descubro algo que não tinha percebido na vez anterior. Toda a excelência das composições permeia desde os três minutos de “Little Umbellas” até os dezessete minutos de “The Gumbo Variations”, complementando uma peça de vinil que não pode ser chamada de nada menos do que obra-prima. Enfim, é um trabalho impossível de ser apreciado sem adoração. Amar ou odiar vai depender de cada um, mas indiferença nunca se fará presente. Frank faz e sempre fará muita falta nesse mundo de música cada vez mais previsível e redundante, onde se confunde cópia descarada com influência. O grande compositor nunca negou as suas, mas sempre procurou ir por um caminho um pouco diferente do que fizeram seus antecessores. Aliás, dizendo melhor, Zappa nunca se prendeu a UM caminho. Fez inúmeros desvios de percurso ao longo da carreira ou criou seus próprios percursos, passando por onde ninguém tinha se atrevido a passar anteriormente. Esse é o tipo de artista do qual a música, a arte, carece atualmente. Play it again, Frank!

Faixas:
01. Peaches en Regalia
02. Willie the Pimp
03. Son of Mr. Green Genes
04. Little Umbrellas
05. The Gumbo Variations
06. It Must Be a Camel