Resenha: FireGun – Inheritance of a Blind Nation (2018)

O ponto de partida para a criação autoral passará, quase que inevitavelmente, pela bagagem absorvida pelos músicos de uma banda, traduzindo em novidade aquilo que aprenderam ao longo dos anos e que – extremamente saudável – continuam a aprender. A originalidade surgirá da forma como lidarão com suas influências, revirando, torcendo, esticando, acelerando, fazendo o que entenderem mais adequado para moldar o barro que tem em suas mãos.

Muitas bandas, porém, não entendem o conceito de influência e se prendem tão fortemente às suas referências que chegam a parecer bandas cover. Esse é o jeito errado de fazer. O jeito certo? O recém lançado “Inheritance of a Blind Nation”, do FireGun é um ótimo exemplo.

A banda de Guarulhos trafega no estilo Groove Metal que, como qualquer um sabe, o maior expoente foi o Pantera. O modo de Raimundo Rodrigues cantar é bem inspirado no padrão Phil Anselmo e percebe-se que a aura dos texanos paira pelas faixas como se fosse uma bússola, mas em nenhum momento eu senti que estava escutando um simulacro da banda americana. Muito pelo contrário, pois as músicas do disco possuem vida e personalidade própria, com uma brasilidade intrínseca, que se reflete não só na sonoridade, mas também na emblemática arte da capa e – principalmente – na construção das letras, que possuem qualidade muito acima da média.

A pegada das canções nasce aqui da junção de duas duplas coesas. De um lado, as guitarras de Ricardo Oliveira e Ivan Oliveira gerando riffs e bases de impacto que – pelo outro lado – colam com o alicerce rítmico formado pelo baixista Samuel Martins com o baterista Yuri Alexander. O somatório de bons instrumentistas/letristas, com uma produção que valoriza cada elemento da fórmula, resulta em um trabalho que merece ser conhecido, curtido e recomendado.

Após a intro “Daily”, a música “Blind Nation” começa com uma levada meio tradicional, até a chegada do riff principal, conduzindo-a por um andamento mid-tempo e uma interpretação repleta de agressividade e de legítima revolta. As nove faixas soam distintas e individualizadas sem o sacrifício da homogeneidade do disco. Numa configuração dessas não há muito espaço para apontar destaques, mas “Victim of Cruel Reality” me soa a melhor entre todas, mesmo com todo o desconforto que a realidade brutal de sua letra possa gerar.

“Back with the Fuck Up!” também merece ser listada à parte por conta de seu início pesadíssimo e sua vibe de palavra-de-ordem. “I Walk Alone”, por outro lado, tem um pouco de In Flames na melodia de seu refrão, que transita de forma bem fluída para o solo, demonstrando o cuidado na construção dos arranjos. Esse é o típico disco que vai lhe conquistando aos poucos, que quanto mais se escuta mais se gosta. Antecipe-se, portanto, ao fluxo de comentários e procure conhecer logo o FireGun, pois certamente, em algum momento, alguém irá mencionar o nome da banda para você!

Formação

Raimundo Rodrigues – Vocal

Ricardo Oliveira – Guitarra

Ivan Oliveira – Guitarra

Samuel Martins – Baixo

Yuri Alexander – Bateria

Músicas

01 Daily

02 Blind nation

03 Inheritance

04 Abuse of power

05 Back with the fuck up!

06 Rise

07 Victim of cruel reality

08 Drunk

09 I walk alone

10 Comeback to life

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